Acne, manchas e irritações: como o uso de máscara afetou a nossa pele
Utilização diária de máscara durante dois anos contribuiu para agravamento de lesões na pele, porém há várias formas de controlar e prevenir problemas
Após dois anos de uso cotidiano de máscaras como medida de prevenção contra a Covid-19, a pele do rosto parece agora querer se vingar, com lesões e manchas que persistem no reflexo do espelho.
O uso de máscara contribuiu para o aparecimento ou agravamento de lesões na pele, como a acne ou a rosácea, que consiste na vermelhidão na pele com vasos sanguíneos perceptíveis, sobretudo nas pessoas com peles mais sensíveis que acabam por apresentar mais reações ao contato com o tecido das máscaras.
A boa notícia é que existem hoje várias formas de controlar e prevenir alguns destes problemas, muitas delas podem ser feitas casa, como explicam especialistas à CNN.
Importância de uma rotina de cuidados de pele
Tal como os restantes órgãos do nosso corpo, a pele exige cuidados diários e uma boa rotina de higiene pode ajudar a prevenir o aparecimento de lesões cutâneas.
De acordo com a dermatologista Joana Dias Coelho, da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, uma boa rotina de higiene inclui a lavagem do rosto, uma ou duas vezes por dia, com água morna, uma vez que “a água muito quente acaba por lesar a camada superficial e não tem benefícios” para a pele. Embora as águas de limpeza também “funcionem bem”, a especialista salienta a importância de lavar a pele com água natural: “Até pode ser no banho, se for mais prático”.
O segundo passo é a aplicação de produtos cosméticos, que dependem não somente do tipo de pele, como também da idade, explica a especialista. “Uma pele mais madura precisa de mais hidratação, se beneficia mais com a aplicação de séruns, além dos cremes de dia e de noite. Numa pele mais jovem, não são precisos tantos passos, basta a aplicação de um creme de dia e um creme de noite”.
Mas, afinal, quais são as diferenças entre os cremes para uso diário e os cremes de uso noturno? Ambos têm “composições diferentes”, nota a dermatologista, sendo que os cremes noturnos utilizam “substâncias mais irritativas, mas que alisam mais a pele”, promovendo a regeneração das células da pele. Por isso, os cremes usados à noite são ligeiramente mais espessos e demoram mais para serem absorvidos pela pele.
Os produtos que utilizamos devem ser adequados ao nosso tipo de pele, que pode ser mais oleosa, mista ou mais seca. Segundo a dermatologista, quem tem os “poros mais abertos, geralmente tem uma pele mais oleosa”. Mas o tipo de pele também se altera conforme a idade. “Até aos 20, 25 anos, a maior parte das pessoas tem pele oleosa, exceto se houver uma história de eczemas ou outras inflamações da pele. Só depois é que a pele começa a não ficar tão oleosa”, diz Joana.
Com o avançar da idade, é importante aplicar ainda “cremes com uma ação antirrugas, antioxidante – quer seja com vitamina C ou com ácido glicólico”, acrescenta a especialista.
Proteção solar sempre, faça chuva ou faça sol
Em períodos mais quentes, surge naturalmente uma maior procura por protetores solares, mas este não é um cuidado exclusivo para dias ensolarados. Os especialistas destacam a necessidade de utilizar protetor solar “o ano inteiro”, faça chuva ou faça sol.
E nunca uma proteção abaixo do fator 50, alerta o dermatologista Fernando Guerra, acrescentando que é frequente as pessoas utilizarem protetores solares com fator 30 durante o inverno e, quando chega o verão, não alteram a proteção por considerarem que não fará diferença.
Em outros momentos, prossegue o especialista, pessoas começam o verão com um protetor com fator 50 e vão diminuindo gradualmente a proteção ao longo do tempo, por considerarem que já estão bronzeadas e já não precisam de uma proteção tão elevada. Duas situações que, de acordo com o dermatologista, levam geralmente a queimaduras ou a outros problemas de pele.
Mas, à semelhança dos demais produtos para o rosto, os protetores solares também devem ser adequados ao nosso tipo de pele, como explica a dermatologista Joana Dias Coelho.
“Na proteção solar, é sempre melhor a utilização de protetores solares oil free (sem óleo) – na verdade, a maior parte dos produtos solares já têm uma composição oil free, pois há uma preocupação em não serem comedogênicos, quer dizer, não potencializar o aparecimento da acne”.
Utilizar maquiagem: sim ou não?
Para o dermatologista Fernando Guerra, o uso de maquiagem está permitido, desde que os produtos sejam “oil free e cosmeticamente bons”, lembrando que as farmácias já oferecem uma vasta gama de produtos de maquiagem com composição aprovada por dermatologistas.
Antes de colocar uma base, deve-se colocar primeiro o creme hidratante de rosto, o protetor solar de fator 50 e só depois a maquiagem, acrescenta o médico.
Alerta sobre o uso de retinol
Fernando Guerra alerta para a utilização, durante dias quentes, de retinol, um ingrediente derivado da vitamina A utilizado em alguns produtos, como séruns, e que atua contra o envelhecimento da pele. Só que “esta substância não se pode usar no verão, porque é sensível ao sol”. De acordo com o especialista, a exposição ao sol pode resultar em queimaduras ou outras lesões na pele.
O que fazer se as lesões persistirem?
Existem hoje no mercado vários produtos para o tratamento de pele com acne. No entanto, quando as lesões são persistentes, ativas e continuam a surgir em número maior, o tratamento pode precisar ser medicamentoso. A prescrição deve ser feita após consulta médica, de acordo com o diagnóstico realizado pelo dermatologista.
“Numa fase inicial, os cremes ajudam a controlar a oleosidade da pele. A cosmética evoluiu de uma maneira que nos permite ter hoje produtos cosméticos que ajudam bastante, mas quando temos lesões ativas e aparecem cada vez mais, são necessários medicamentos tópicos, de ingestão oral”, explica Joana Dias Coelho.
Além de todos estes cuidados mais específicos, os dermatologistas lembram que a prática de hábitos saudáveis também reflete na saúde da pele. É importante, por isso, ter uma alimentação saudável, variada e com verduras, uma vez que “a riqueza de nutrientes beneficia a qualidade da pele”.