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    Depp x Amber: sentenças do júri e do público acirram ânimos nas redes sociais

    "Depp tem uma base de fãs que Amber não tem, o que faz com ele tenha uma vantagem maior nos conteúdos que são compartilhados nas redes sociais", afirma especialista à CNN

    Isabella Fariada CNN

    No dia 20 de maio, o pirata Jack Sparrow fez uma curta aparição em Virgínia, nos Estados Unidos. Não se tratava de um imitador, mas do próprio Johnny Depp que, por breves momentos, trouxe de volta a voz do personagem e se pendurou da janela do carro para falar com os fãs que o aguardavam fora do tribunal em.

    Com os tribunais do júri e o das redes sociais em ação, a batalha pública entre Depp e Amber Heard acirra as discussões em tempo real na internet, entre fãs e críticos dos atores. Os dois atores perderam trabalhos e tiveram contratos suspensos. Segundo a advogada de direito do entretenimento Priscilla Menezes, aos olhos do grande público, o princípio da presunção de inocência fica prejudicado em casos de grande repercussão e em uma era totalmente online.

     

    “A sentença do público acaba saindo antes da sentença do júri”, diz, “de olho nisso, grandes produtores e a indústria cinematográfica acabam respondendo ao clamor das pessoas”.

    E essa situação data de 2018, quando Amber escreveu em um artigo para o jornal “The Washington Post” que era vítima de violência doméstica. A atriz não citava o nome de Johnny Depp, mas, do jeito que o texto foi construído, tudo indicava que o ator era o abusador — no julgamento, Depp negou ter batido em Amber ou em qualquer mulher e disse que foi ela quem se tornou violenta em seu relacionamento.

    Mesmo sem citar o nome do ator, as consequências do artigo de Amber foram rápidas. Depp foi convidado a se retirar da franquia de “Harry Potter: Animais Fantásticos” e não voltaria a encarnar Jack Sparrow nas continuações dos filmes “Piratas do Caribe”.

    Depp processou a ex-mulher em US$ 50 milhões e argumentou que ela o difamou quando se chamou de “uma figura pública representando abuso doméstico” no artigo do jornal.

    Por seu lado, Amber processou por US$ 100 milhões, dizendo que Depp difamou sua reputação quando seu advogado chamou suas acusações de “farsa”.

    A defesa de Depp alega que ele perdeu mais de 20 milhões de dólares em trabalhos; a defesa de Amber diz que a atriz perdeu mais de 40 milhões porque o julgamento congelou sua carreira.

    Dentre números e acusações, ganha quem tem os milhões mais significativos: os de seguidores.

    Para Pedro Curi, coordenador do curso de cinema da ESPM, Amber está em clara desvantagem nesse aspecto.

    “É uma relação assimétrica”, diz. “Depp tem uma base de fãs que Amber não tem, o que faz com ele tenha uma vantagem maior nos conteúdos que são compartilhados nas redes sociais”.

    Apelando para o carisma, o ator faz muito bem a manutenção dos seus apoiadores, realizando performances dos seus personagens para quem o espera do lado de fora do tribunal ou agradecendo a todos que o apoiam. As atuações de Depp no cinema são relembradas enquanto Amber é acusada de interpretar a pobre moça diante do júri na corte.

    “Ao mesmo tempo que dizem que ela atua no tribunal, dizem que a química dela com Jason Momoa em ‘Aquaman’ é questionável”, diz Pedro.

    Reproduzindo o que aconteceu com Depp em 2018, fãs do ator criaram uma petição para que Amber fosse removida do filme da DC, até agora, o documento conta com mais de 4 milhões de assinaturas.

    E o #MeToo?

    O movimento iniciado por diversas atrizes em 2017, com o objetivo de denunciar agressões e assédios sexuais dentro do audiovisual, pode ganhar uma nova guinada se Amber Heard for inocentada das acusações de violência contra Johnny Depp — o ator disse, por exemplo, que Amber jogou uma garrafa de vodka que cortou o topo de seu dedo durante uma discussão em 2015.

    Para Priscilla Menezes, “o encorajamento para falar sobre o assunto [assédio] veio na época da internet, quando tudo é visceral e rápido, inclusive o julgamento alheio”.

    Para Pedro Curi, porém, o julgamento se trata de algo mais íntimo do que o movimento #MeToo.

    “Se trata mais de um caso doméstico do que algo enraizado na indústria”, diz, “é necessário prestar atenção, porém, como ela vai reagir se Johnny Depp for inocentado”.

    O especialista relembra Lars Von Trier e Woody Allen, cineastas aclamados mesmo depois de terem seus comportamentos agressivos expostos. A violência se confunde com excentricidade. É desculpável tais diretores agirem assim pois são pessoas geniais em seus metiês e este mesmo argumento é utilizado para Johnny Depp, defende Pedro.

    Por fim, ele relembra o caso de Winona Ryder, ex-companheira de Johnny Depp e defensora do ator nesse julgamento. Em 2001, ela foi pega roubando uma loja de roupas em Los Angeles, em um surto de cleptomania. A atriz cumpriu dois anos de pena em liberdade condicional e, depois desse caso, sua carreira entrou em um longo hiato, só sendo reavivada pela série “Stranger Things”, de 2016.

    “O sistema ainda subjuga a mulher e perdoa os homens”, diz Pedro. “A indústria cinematográfica segue esse caminho e acaba destruindo a carreira de diversas mulheres.”

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