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    Vanessa da Mata relembra dificuldades no processo de adoção: “Negligência”

    Cantora é mãe de três filhos, Felipe, Micael e Bianca, adotados ainda na infância

    Caroline Ferreirada CNN

    Vanessa da Mata, 48, aproveitou o último domingo (12) para falar sobre o processo de adoção dos três filhos, Felipe, 22, Micael, 20 e Bianca, 19.

    No Instagram, a cantora compartilhou um vídeo refletindo sobre os desafios enfrentados por aqueles que estão na fila. Além disso, também citou algumas dificuldades vivenciadas pelo trio.

     

    “Hoje faz 15 anos que me tornei mãe de trigêmeos, simbolicamente e totalmente, porque chegaram três irmãos no meu coração juntos, no Dia das Mães. O que é que eu posso dizer disso? Dentre os desafios da adoção, dentre as delícias da adoção, é o amor da adoção, a transformação que gera nas crianças, nos pais. Esse reconciliar de mundos, esse se encontrar no outro, essa simbiose que acontece e que a sensação que dá é que você não tem mais um buraco”, começou.

    Na sequência, a artista dividiu com os fãs e internautas as lacunas no sistema de adoção no país.

    “Eu uso esse dia para falar aqui das falhas da adoção no Brasil. A quantidade de negligência da adoção no Brasil, que usa a coisa de proteger as crianças e entra numa burocracia infernal. E essa criança acaba se vendo crescendo nos abrigos até ter uma idade onde as pessoas não se interessam mais por ela. Muito triste!”, desabafou.

    “É uma coisa que além de tudo, essa negligência dentro dos abrigos, ela vai junto de um começo ao fim. Ela vai da deseducação até os abusos físicos, mentais e os traumas que geram são enormes. Não existe apoio psicológico, não existe um apoio na escola, esses abandonos geram falta de memória, porque a memória, ela não pode se lembrar de tantas coisas ruins. Então ela como própria proteção, ela sonha. Isso pra aprendizado é muito difícil. As crianças maiores abusam das menores. São pouquíssimas pessoas que têm um abrigo que realmente fazem um trabalho maravilhoso e essas são lindas de viver. Mas os abrigos em geral são um caos pra essas crianças. Elas não são preparadas pra sair aos 18 anos, elas vão pra rua. Elas não são preparadas pra um emprego, elas têm muitas dificuldades”, continuou.

    Nos comentários da publicação, Vanessa também fixou outros trechos de sua reflexão.

    “Eu vou contar uma história só. Quando os meus filhos chegaram, uma professora da escola veio conversar comigo dizendo que era para eu ter muito cuidado. Essas histórias que sempre tem alguém tentando tirar a gente de um propósito, né? Que eu tava completamente apaixonada pelos meus filhos. Ela veio dizendo pra eu não ter esses filhos porque o mais velho era extremamente revoltado (e por que será, né?) e batia em todas as crianças e eles não tinham mais o que fazer. O meu mais velho chegou com oito anos e meio, já falei isso aqui, sabendo três cores apenas, por causa do Flamengo: branco, preto, vermelho. Sabia assinar só o nome, enfim. E ele batia nas crianças todos os dias. E o meu ex-marido, pai deles, que fez esse plano comigo, começou a levá-los pra escola e aí ele mais velho, do jeitinho dele, chegou pra gente e disse: “Vovó (pra minha mãe), você sabe que desde que esse pai novo aí começou a me levar pra escola, nunca mais bateram nos meus irmãos?”. Ele parou de brigar. Ele estava se defendendo, defendendo os irmãos o quanto ele podia. Então quando não se tem apoio psicológico o sofrimento é gigantesco, enorme”, escreveu.

    “Os castigos que dão pras crianças dentro dos abrigos são proporcionais à dor que eles tiveram, a continuação da dor e da negligência. Porque são muitas vezes pessoas que não estão preparadas. Eu me lembro que uma menina, filha da senhora que trabalhava no abrigo, corria atrás da minha filha e dizia assim: “I-huu, i-huu, você não tem mãe, você não tem pai! Você não tem quem, nã-nã-nã… você não tem não sei o que lá”. Eu segurei a menina e falei: “Agora ela tem!”. E a minha filha abriu um sorriso enorme, coisa mais linda do mundo. Enfim são coisas íntimas, mas são coisas muito importantes para vocês saberem como é duro”, acrescentou.

    “[…] Na verdade é o seguinte, meu protesto é sempre o mesmo. Eu já falei isso antes, vou falar de novo. Quem ganha por criança dentro dos abrigos? Qual é a desculpa pra manter essas crianças dentro dos abrigos? Que legislação é essa que produz muito mais gente querendo adotar do que crianças nos abrigos? E elas não saem dos abrigos. Quem é que tá ganhando com isso? Lembrando que não estou falando de todos os abrigos. Não generalizar é importante porque tem muitos abrigos não institucionalizados que são muito sérios, um amor profundo pelas crianças, uma ética enorme, elas podem ser adotadas, que elas ensinam para a criança o que é amor. Muita gente com intenções humanas, aconchegantes, reais, tentando fazer dos abrigos um lar”, disse por fim.

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