Kremlin diz que o Ocidente é o culpado pela crise de grãos na Ucrânia
ONU diz que crise alimentar global está se aprofundando e tenta negociar desbloqueio de portos ucranianos; Ocidente e Rússia trocam acusações
O Kremlin disse, nesta quinta-feira (26), que o Ocidente é o único culpado pela crise de alimentos devido aos problemas para exportar os grãos da Ucrânia aos mercados mundiais, exigindo que os Estados Unidos e seus aliados terminem o que classificou como sanções ilegais.
Além da morte e devastação semeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra e a tentativa do Ocidente de isolar a Rússia como punição fizeram o preço dos grãos, óleo de cozinha, fertilizantes e energia disparar, prejudicando o crescimento global.
A Organização das Nações Unidas (ONU), que diz que a crise alimentar global está se aprofundando, está tentando negociar um acordo para desbloquear as exportações de grãos da Ucrânia, embora os líderes ocidentais tenham culpado a Rússia por manter o mundo como refém ao bloquear os portos ucranianos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou essas acusações e disse que o Ocidente é o culpado pela situação.
“Rejeitamos categoricamente essas acusações e, ao contrário, acusamos os países ocidentais de terem realizado várias ações ilegais que levaram a isso”, disse Peskov a repórteres.
“Eles [o Ocidente] devem cancelar essas decisões ilegais que impedem o afretamento de navios, que impedem a exportação de grãos e assim por diante” para que os suprimentos possam ser retomados, disse Peskov.
A Rússia conquistou alguns dos maiores portos marítimos da Ucrânia e sua marinha controla as principais rotas de transporte no Mar Negro, onde a mineração extensiva tornou o transporte comercial perigoso.
As sanções também dificultaram o acesso de exportadores russos a navios para transportar commodities para os mercados globais.
A Rússia e a Ucrânia juntas respondem por quase um terço da oferta global de trigo.
A Ucrânia também é um grande exportador de milho, cevada, óleo de girassol e óleo de colza, enquanto a Rússia e a Bielorrússia – que apoiou Moscou na guerra e também está sob sanções – respondem por mais de 40% das exportações globais do nutriente potassa.
O tempo está se esgotando para tirar cerca de 22 milhões de toneladas de grãos da Ucrânia antes da nova colheita, enquanto a Rússia continua bloqueando os portos do país no Mar Negro, disse o parlamentar ucraniano Yevheniia Kravchuk nesta quarta-feira.
“Temos cerca de um mês e meio antes de começarmos a coletar a nova colheita”, disse ela à Reuters durante o Fórum Econômico Mundial no resort suíço de Davos, acrescentando que não havia espaço suficiente para armazenar a nova colheita.
A Ucrânia perdeu Kherson e Mariupol para a ocupação russa, e teme que a Rússia tente tomar um terceiro, Odesa.
O Kremlin diz que a Ucrânia tornou o transporte comercial impossível ao minerar suas águas.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está entre os que acusaram Moscou de usar a exportação de alimentos como arma, enquanto Kiev disse que a Rússia roubou centenas de milhares de toneladas de grãos em áreas ocupadas por suas forças.
“Putin está tentando manter o mundo como refém, e ele está essencialmente armando a fome e a falta de comida entre as pessoas mais pobres do mundo”, disse a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, durante uma visita à Bósnia na quinta-feira.