Polícia dos EUA divulga vídeo de aviador negro morto a tiros em apartamento
Imagens são da câmera do uniforme de um dos policiais. Família da vítima alega que estavam no lugar errado.
A polícia da Flórida divulgou imagens de uma câmera de corpo de um policial que atirou fatalmente em um aviador negro em sua casa na semana passada – e contestou alegações da família da vítima de que a polícia estava no apartamento errado.
O xerife do condado de Okaloosa, Eric Aden, mostrou o vídeo durante uma coletiva de imprensa na quinta-feira (9), pouco depois que o advogado da família do aviador de 23 anos pedir pela divulgação pública, dizendo que a namorada da vítima estava em uma videochamda com ele e que acredita que o policial estava na apartamento errado.
A vítima foi identificada por sua família como Roger Fortson, um aviador sênior, de acordo com o advogado Ben Crump, que realizou uma coletiva de imprensa na quinta-feira. Crump e a mãe de Fortson o descreveram como um patriota que respeitava a autoridade e esperava comprar uma casa para a mãe e os irmãos mais novos.
O xerife, que se encontrou com a família de Fortson pouco antes de sua entrevista coletiva, disse que pediu ao Departamento de Polícia da Flórida para lidar com a investigação criminal, conforme é requerido. Enquanto essa investigação está em andamento, ele afirmou que “nenhuma determinação foi feita sobre se as ações do policial foram justificadas ou não.” O policial foi colocado em licença administrativa.
A Procuradoria do Estado no Condado de Okaloosa aguardará a conclusão da investigação pelo Departamento de Aplicação da Lei da Flórida antes de decidir se deve ou não processar as acusações no caso, disse o escritório à CNN. Não há um cronograma esperado para a conclusão da investigação, afirmou um porta-voz.
“O que sabemos neste momento é que o policial se anunciou, não uma, mas duas vezes”, disse Aden. “Os comentários do Sr. Fortson indicam que ele reconheceu que era a polícia e ele chegou à porta com uma arma de fogo na mão. O policial bateu na porta correta, ele não cobriu o olho mágico ou de outra forma obstruiu sua visão de qualquer maneira.”
Mas a família de Fortson reiterou que acredita que as autoridades foram para a porta errada.
“Continuamos firmes na posição de que a polícia estava no apartamento errado, já que Roger estava ao telefone com sua namorada por um período substancial de tempo antes do tiroteio, e mais ninguém estava no apartamento”, disse a família de Fortson em um comunicado após a divulgação das imagens.
O que as imagens mostram
Na última sexta-feira (3), policiais foram a um apartamento após receberem uma ligação relatando “uma perturbação em andamento”, disse Aden em uma declaração anterior.
“Ao ouvir os sons de uma perturbação, (um policial) reagiu em legítima defesa ao se deparar com um homem de 23 anos portando uma arma e depois que o policial se identificou como agente da lei,” disse o xerife.
“O policial atirou no homem, que, mais tarde, não resistiu aos ferimentos”, disse o xerife. O policial envolvido no tiroteio não foi identificado por funcionários.
A filmagem da câmera, datada de 3 de maio, começa às 16h28 no horário local, com um policial chegando ao que parece ser um complexo de apartamentos.
Uma mulher no complexo é ouvida dizendo ao policial que houve um distúrbio no apartamento 1401 e que estava “saindo do controle.”
A mesma mulher diz ao policial que anteriormente passou pelo apartamento e ouviu gritos e “um tapa”, mas acrescentou que não tinha certeza de onde veio o barulho.
Ele, então, pega o elevador para o quarto andar e bate em uma porta três vezes. O número do apartamento “1401” é visível na filmagem. Ele se anuncia duas vezes, dizendo: “Departamento do xerife, abra a porta”. Não se ouve nada nas imagens de dentro do apartamento.
Dentro de segundos da abertura da porta do apartamento, o policial diz “para trás” e, em seguida, é visto disparando sua arma. Fortson é visto em pé na porta com as mãos para baixo e o que parece ser uma arma de fogo abaixada em sua mão direita. Ele imediatamente cai no chão enquanto o policial dispara. Pelo menos cinco tiros são ouvidos.
Enquanto Fortson está no chão, o policial grita “solte a arma” duas vezes. Fortson é ouvido dizendo: “está ali”, e depois, “eu não a tenho.”
O policial continua apontando sua arma para Fortson e diz para ele não se mover, enquanto Fortson permanece no chão. O policial continua apontando sua arma para Fortson enquanto chama a emergência.
Policiais comunicaram à central que Fortson havia sido baleado seis vezes, com múltiplos ferimentos de bala no peito e uma ferida de saída, de acordo com chamadas de despacho policial, obtidas pela afiliada da CNN, a WEAR.
Após a divulgação do vídeo, a família de Fortson disse que “é muito preocupante que o policial não deu comandos verbais e atirou várias vezes dentro de uma fração de segundos após a abertura da porta, matando Roger.”
“Como o policial não disse a Roger para soltar a arma antes de atirar? Ele foi treinado para dar avisos verbais? Ele tentou iniciar medidas de salvamento? Ele foi treinado para lidar com cidadãos cumpridores da lei que são proprietários de armas registrados?”, acrescentou o comunicado deles.
Imagens da videochamada durante o tiroteio foram divulgadas
Mais tarde, na quinta-feira, Crump também liberou quase quatro minutos da videochamada que ele diz que Fortson fazia com a namorada quando ele foi baleado.
O vídeo mostra o que parece ser o teto de um apartamento enquanto um homem – presumivelmente Fortson – pode ser ouvido gemendo e dizendo: “não consigo respirar.” Outro homem – presumivelmente o policial – diz a ele: “Não se mova. Pare de se mover.”
O policial pode, então, ser ouvido dizendo: “Aguente aí, cara, temos uma ambulância vindo para você. Não se mova.”
Presumivelmente falando com outros, o policial então diz: “estamos bem. Ele estava com uma arma desde que abriu a porta.” O policial é ouvido gritando, mas grande parte é inaudível.
Outra pessoa pode ser ouvida detalhando os ferimentos de Fortson dizendo: “temos três ferimentos de bala, uma saída”, antes que outra voz diga: “sim, ele foi baleado.”
Eventualmente, alguém é ouvido dizendo que Fortson tem seis ferimentos de bala. Ele foi declarado morto em um hospital.
O áudio de despacho da polícia obtido pela CNN na sexta-feira (10) acrescenta perspectiva aos eventos que cercam do tiroteio. No áudio, um policial pode ser ouvido dizendo que ele está respondendo a um “distúrbio físico, em andamento” em 319 Racetrack, Unidade 1401. É o mesmo endereço onde Fortson foi baleado, de acordo com o departamento do xerife.
“Não tem nada além de um homem e uma mulher. É toda a informação de terceiros através da recepção no escritório de locação,” o policial respondendo.
Cerca de quatro minutos depois, o policial é ouvido dizendo “tiros disparados, suspeito caído.” Ele pede serviços de emergência e depois diz, “múltiplos tiros no peito, homem negro.”
Uma voz é então ouvida pedindo unidades médicas antes de dizer: “eles estão pedindo que você se apresse”.
Advogado diz que vítima estava jogando videogame
Em sua entrevista coletiva de quinta-feira, Crump e a mãe de Fortson o descreveram como um jovem responsável e um patriota que há muito sonhava em servir na Força Aérea dos Estados Unidos.
“Ao departamento do xerife que levou o meu presente … preciso que vocês digam a verdade sobre o meu filho. Preciso que limpem a reputação dele”, disse a mãe de Fortson.
“Eu sei que meu filho não fez nada para vocês. Se ele os assustou, ou se vocês não foram treinados adequadamente, peço desculpas”, disse ela. “Mas, por favor, limpem a reputação do meu bebê.”
Fortson entrou no serviço ativo em novembro de 2019 e foi designado para o 4º Esquadrão de Operações Especiais, de acordo com um comunicado da Força Aérea, que observou que o tiroteio ocorreu na residência fora da base da aeronáutica.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, está “acompanhando de perto” os relatos do tiroteio, disse quinta-feira o porta-voz do Pentágono, Major General Pat Ryder.
Crump disse que o jovem de 23 anos estava em casa há cerca de 30 minutos e jogando videogame antes do tiroteio.
Fortson ouviu duas batidas na porta e, quando não viu ninguém pelo olho mágico, pegou sua arma, disse Crump, citando a namorada de Fortson. Crump disse que a arma de Fortson era legalmente registrada.
A namorada disse que a polícia respondeu ao apartamento errado, e não havia nenhum distúrbio naquele momento, disse Crump, citando a namorada de Fortson.
“(Fortson) estava no telefone com sua namorada no apartamento sozinho com seu cachorro”, disse Crump a Jake Tapper, da CNN, na quinta-feira à noite. “Eles foram ao apartamento errado.”
Tiroteio traz à mente casos passados
Embora os detalhes sobre o tiroteio permaneçam obscuros, o incidente ecoa outros tiroteios nos últimos anos, nos quais um homem ou uma mulher negra foram mortos por policiais em suas casas.
Em 2019, uma ex-policial de Dallas foi condenada a 10 anos de prisão depois de atirar fatalmente em Botham Jean em seu apartamento no ano anterior. A policial – fora de serviço, mas ainda em uniforme – morava no andar abaixo de Jean e disse que se aproximou do que acreditava ser seu próprio apartamento quando viu Jean dentro.
Atatiana Jefferson foi morta no mesmo ano quando um policial de Fort Worth, respondendo ao que a polícia acreditava ser um roubo, atirou nela pela janela do quarto.
O ex-oficial de Fort Worth foi condenado a quase 12 anos de prisão em 2022.