Fórum Econômico em Davos começa neste domingo (22) com pandemia e Ucrânia em pauta
Especialistas avaliam que evento deve manter caráter simbólico, enquanto debate retomada econômica e meio ambiente
Começa neste domingo (22) o Fórum Econômico Mundial, na cidade de Davos, na Suíça. O evento, que termina em 26 de maio, reúne líderes de países, ministros, banqueiros centrais e representantes do setor privado, que discutem a situação atual da economia global e como lidar com seus desafios.
Neste ano, já foram confirmadas falas do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, do presidente da Colômbia, Ivan Duque, do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
O Brasil será representado no evento pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e pelo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), Gustavo Montezano.
Especialistas consultados pelo CNN Brasil Business afirmam que os temas discutidos devem dar pistas sobre os próximos passos das principais economias do mundo, e é uma boa oportunidade para conversar e atrair investidores. No caso do Brasil, será importante ficar atento à agenda ambiental.
História de Davos
O Fórum Econômico Mundial é, na verdade, uma fundação sem fins lucrativos fundado em 1971 pelo economista alemão Klaus Schwab, com sede na Suíça. Atualmente, conta com as mil maiores empresas do mundo dentre os seus membros.
O objetivo da organização é “envolver os principais líderes políticos, empresariais, culturais e outros da sociedade para moldar as agendas globais, regionais e da indústria”, segundo seu site.
Desde 1988, passou a realizar encontros anuais, geralmente no começo do ano, na cidade de Davos, conhecida por abrigar resorts para esquiadores. O local acabou sendo fortemente associado ao evento, que é tradicionalmente chamado apenas de Davos ou Fórum de Davos.
O tema principal que pauta os debates no encontro muda a cada ano. Já foram discutidos assuntos como Quarta Revolução Industrial, globalização e sustentabilidade.
Em 2022, Davos retoma os encontros presenciais após precisar cancelar o evento em 2021 devido à pandemia. O próprio evento deste ano chegou a ser adiado em janeiro para maio, enquanto a Europa ainda enfrentava a variante Ômicron.
E a recuperação econômica dos países após os efeitos da Covid-19 será um dos principais temas de discussão no evento, junto com os efeitos da guerra na Ucrânia e as já tradicionais discussões sobre sustentabilidade, zerar emissões de poluentes e a realização de uma transição energética.
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O tema escolhido é “História em um ponto de virada: políticas governamentais e estratégias de negócios”, e a previsão é que cerca de 2.500 pessoas compareçam.
Paulo Feldmann, professor da FEA-USP, avalia que o elemento mais importante de Davos é possibilitar a discussão sobre a situação econômica dos países. Para ele, mesmo com a guerra e a pandemia, a questão ambiental deve se manter como o centro das discussões, uma tendência dos últimos encontros.
Para Joelson Sampaio, economista e professor da FGV-EESP, Davos tem um lado prático e outro simbólico, que ainda predomina, e serve como um local de proposição de agendas, indicando as intenções de países e empresas para os próximos anos.
Vinicius Vieira, professor da Faap, avalia que Davos costuma ter um caráter mais simbólico que prático. Segundo ele, o encontro serve como oportunidade para líderes de países se encontrarem com investidores, e se antenar sobre as tendências nos mercados internacionais.
Ele considera, porém, que Davos não costuma ditar novas tendências na economia global, mas sim discutir e destacar as que já existem e geralmente são discutidas inicialmente em outros encontros, como os do G7 e G20.
O evento também pode, esporadicamente, ter um tom mais prático, dando origens a resoluções, como as envolvendo cibersegurança e atuação do setor privado na questão climática, mas “muito mais em função do que já foi decidido antes”.
O que esperar em 2022?
Sampaio, da FGV, afirma que a questão da recuperação econômica dos países devido à pandemia deve ser um assunto relevante, discutindo ideias de como retomar o crescimento econômico, mas não o foco.
“Com a saída em geral dos países das fases mais críticas da pandemia, os desdobramentos da guerra devem dominar”, diz.
Ele aposta em discussões sobre as formas de minimizar os impactos econômicos do conflito, como, por exemplo, das sanções aplicadas contra a Rússia, e também mais debates sobre a chamada agenda verde, englobando a questão dos investimentos em sustentabilidade.
Feldmann lembra que a guerra na Ucrânia afetou os preços e fornecimento de gás natural para a Europa, obrigando muitos países a reverter algumas posições e até o uso de carvão, mais poluente. Nesse sentido, o evento pode dar pistas de como os países pretendem lidar com as consequências do conflito enquanto tentam balancear a importância do combate às mudanças climáticas.
Já Vinicius Vieira afirma que será interessante ver o quão otimistas países, empresários e investidores estarão em relação à recuperação pós-pandemia, e se vão sinalizar a reestruturação de cadeias globais de produção após as falhas vistas entre 2020 e 2021.
É preciso ver se vai ter alguma sinalização de regionalização de cadeias. Seria um caminho para redução da dependência entre Ocidente e Oriente, que sustentou a globalização nos últimos anos antes da Covid-19. Pode vir sinalização que os países querem algo nesse sentido
Vinicius Vieira, professor da Faap
Outro ponto que pode envolver alguma sinalização em Davos é o combate à fome global, com riscos de desabastecimento em muitos países devido à guerra na Ucrânia.
“Davos sempre foi criticada por ser um mundo à parte, fora do mundo real, mas esse mundo real atrapalha também o mundo empresarial. Pode surgir algo daí, uma colaboração com G7, ONU, Banco Mundial, pode ser a grande novidade, e uma oportunidade de mostrar que mudou de visão”, avalia.
Brasil em Davos
Para Vieira, a ausência do presidente Jair Bolsonaro na comitiva brasileira não deve enfraquecer a posição do país nas discussões em Davos.
Ele avalia que ao enviar seus ministros, o presidente pode se “esquivar de críticas”, em especial na temática ambiental.
“Mas o Guedes já teve falas mal calibradas do ponto de vista diplomático. Tudo associado ao governo gera imagem negativa para o Brasil no cenário internacional, afetando até a capacidade de atração de investimento, que não é ruim, mas poderia ser melhor”, ressalta.
Ele afirma que o esforço brasileiro em atrair investidores estrangeiros pode ter algum avanço em Davos, mas poderia achar fontes mais substanciais fora do Ocidente, como na China e na Índia.
“A própria efetividade de Davos é questionada nesse ponto de vista, mas se quer se aproximar de investidores dos Estados Unidos e Europa, esse é o caminho”, diz.
Na visão de Feldmann, a centralidade da discussão ambiental no evento tende a afetar a imagem brasileira devido ao crescimento do desmatamento na Amazônia. Ele acredita que o ministro da Economia precisará se explicar sobre a situação.
Ele também não acredita que a ausência de Bolsonaro prejudique a comitiva, e vê a ida apenas dos ministros como uma ação estratégica, que pode acabar sendo melhor para os esforços brasileiros.
Para Sampaio, a agenda majoritariamente econômica do evento deve permitir que o Brasil seja bem representado pela delegação, e até que conduza uma agenda positiva em Davos.
“Vai ter agenda ambiental e social, que vai ser importante para o Brasil. Muitos representantes de Estados estão ansiosos para ter uma clareza dos objetivos e agenda brasileiros. Davos é a oportunidade para mostrar isso”.