Instituição Fiscal do Senado prevê inflação de 7,9% para 2022
Apesar de renúncias de impostos, previsão da arrecadação cresce; já expectativa para o PIB deste ano é de 1%
A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado revisou de 5,4% para 7,9% a projeção da inflação para este ano – mais que o dobro da meta de 3,5% prevista pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Os dados estão no relatório de maio do órgão, divulgado nesta quarta-feira (18), seis meses após o último balanço de dezembro.
Se o aumento dos preços faz o brasileiro perder o poder de compra, por outro lado, impulsiona a arrecadação do poder público. Mesmo com a expectativa da perda de R$ 31,4 bilhões em isenções e reduções de impostos para este ano, segundo a IFI, a estimativa de ganhos cresceu.
De acordo com o relatório de maio, a receita líquida (descontadas as transferências para estados e municípios) deve chegar a R$ 1,7 trilhão em 2022. O atual cenário inclui um aumento de R$ 111 bilhões em relação à previsão de seis meses atrás.
O economista Alexandre Andrade, da Instituição Fiscal Independente do Senado, explica que a inflação alta faz aumentar a base para o cálculo de impostos. Consequentemente, a arrecadação sobe, mesmo com as renúncias fiscais.
Entre as perdas elencadas para este ano pelo documento estão R$ 17,6 bilhões com a redução do PIS/Cofins sobre o diesel; de até R$ 7,6 bilhões com a queda de 35% nas alíquotas do IPI de produtos como eletrônicos e calçados; além de R$ 700 milhões com a diminuição do Imposto de Importação, como de carnes e biscoitos. “É um sinal que destaca a robustez do crescimento da arrecadação federal. O governo promoveu isso porque pode abrir mão”, avalia Andrade.
Na outra ponta, do que deve impulsionar a arrecadação, a nova projeção das receitas administradas, aquelas vindas de impostos, é de R$ 1,38 trilhão, um crescimento de R$ 132,5 bilhões em relação a dezembro.
O aumento no preço do petróleo também fez o IFI ampliar em R$ 90,9 bilhões a expectativa de receita com exploração de recursos naturais para 2022, que chegou a R$ 131,3 bilhões na análise deste mês de maio.
Já a melhora do mercado de trabalho, com o aumento dos postos formais, apesar da queda na renda, ainda ampliou a projeção das receitas previdenciárias, que devem alcançar R$ 511,3 bilhões neste ano, R$ 24,4 bilhões a mais do que o esperado em dezembro de 2021.
PIB e Selic
Além da arrecadação, a IFI também prevê uma melhora no PIB, de 0,5% para 1%, por conta da recuperação de vários setores, como comércio e serviços, e da liberação de verbas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço pelo governo federal.
A Instituição Fiscal Independente estima que, entre abril e junho, os trabalhadores devem sacar R$ 30 bilhões do FGTS, sendo que 30% devem ser usados para compras e o restante deve ir para o pagamento de dívidas e poupanças.
“Desde a última revisão de cenário, em dezembro, o ambiente externo piorou. O mundo crescerá menos em 2022. O Brasil conta com fôlego extra: o desempenho positivo da atividade no começo de 2022 e o efeito de medidas como a liberação do FGTS sobre o consumo das famílias elevaram a projeção de crescimento do PIB de 0,5% para 1%”, diz o relatório divulgado nesta quarta-feira.
No caso da Selic, a taxa básica de juros, a expectativa é de que ela chegue ao fim do ano em 13,25%.O economista Alexandre Andrade, do IFI, aponta que a economia deve seguir desacelerada por conta dos juros fortes para frear a inflação, com efeitos também para o próximo ano. A instituição revisou o PIB de 2023 de 2% para 1%.
“A inflação é ruim para empresários e consumidores. Para o empresário porque afeta o horizonte de planejamento, investimentos e eles se retraem. Ao mesmo tempo, os consumidores deixam de consumir ou têm o poder de compra corroído. Para fazer frente a esse quadro inflacionário, o Banco Central começou a subir os juros em março do ano passado. A taxa já subiu de 2% para 12,75%. Esse aumento de mais de 10 p.p. vai provocar um esfriamento da atividade econômica”, colocou.