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    Confiança em Milei ou ações baratas: o que explica a alta de investimentos estrangeiros na Argentina

    Índice S&P Merval — referência da bolsa de valores no país — disparou mais de 40% entre dezembro e o fim de abril

    Da CNN , São Paulo

    De índices a posicionamentos de “figurões” de fundos, o mercado sinaliza que o interesse em ações da Argentina está aumentando desde a eleição de Javier Milei.

    As possíveis motivações para o movimento — se a melhora no ambiente de negócio do país ou os preços mais baixos dos papéis — divide especialistas.

    Há mais de uma década, a Argentina não aparecia entre os 25 principais destinos de aportes estrangeiros no índice de confiança para investimento direto da consultoria Kearney. Agora, não só fica na 24ª posição, como se aproxima do México e do Brasil, que ocupam a 21ª e 19ª, respectivamente.

    Ao mesmo tempo, o Credit Default Swap (CDS), que funciona como uma espécie de seguro contra calote da dívida, recuou mais de 1,6 mil pontos (38,4%) desde dezembro até o fim de abril.

    Já o índice S&P Merval — referência da bolsa de valores na Argentina — disparou mais de 40% no período, chegando aos 1.323,585 pontos.

    Até Stanley Druckenmiller, ex-gestor de fundos de George Soros e um dos mais relevantes investidores do mercado, admitiu que vem investido em ADRs argentinas. As ADR são papéis negociados em dólares americanos nas Bolsas de Valores dos Estados Unidos referentes a empresas estrangeiras.

    Para o economista argentino e analista Adcap Grupo Financiero, Javier Timerman, este movimento se deve ao otimismo que as ações pelo governo de Milei levam ao mercado, “que se mostrou capaz de cumprir promessas e reduzir o déficit fiscal”.

    O economista cita a aprovação da Lei de Bases — também conhecida com Lei ônibus — que declara emergência pública nas áreas administrativa, econômica, financeira, entre outras, autoriza privatizações, institui uma reforma trabalhista, e dá superpoderes a Milei.

    A medida foi chancelada pela Câmara dos Deputados no fim do mês passado e ainda precisa passar pelo Senado do país.

    “O ambiente para negócio melhorou pela confiança em Milei, por ele ter travado batalhas como pela Lei de Bases, aprovada mesmo com minoria na Câmara”, pontua Timerman.

    Um dos aspectos mencionados por Timerman é a instituição do Regime de incentivo a grades investimentos (Rigi), que promove aportes estrangeiros a partir de benefícios fiscais, aduaneiros e cambiais. Para ele, a medida representa um início para setores que precisam de estabilidade no longo prazo.

    Ações baratas atraem investidores

    A confiança no presidente não é a única tese para a elevação dos investimentos, no entanto. Na visão de Lívio Ribeiro, pesquisador do FGV/Ibre, o movimento pode ser explicado pela correção do câmbio oficial do país — que é a medida relevante para aportes estrangeiros e deixou os papéis do país mais baratos nos últimos meses.

    O início do governo Milei é marcado pela disparada do dólar no câmbio oficial. A divisa norte-americana subiu quase 141%, saltando de 363,70 pesos no fechamento de 8 de dezembro do ano passado para 876,50 pesos no último dia de negociações de abril.

    “Me parece mais uma questão de preço, ficou muito barato. Então, o investidor compra e vê se dá certo. Se der, leva bastante; se não, perde pouco porque já estava muito barato”, diz.

    “Acho que é muito mais especulativo do que uma avaliação robusta de que o plano de Milei dará certo”.

    O pesquisador não descarta, porém, que o movimento seja puxado pela “crença do mercado” no potencial da agenda de Milei.

    “Se essa agenda sobreviver à travessia, isso é verdade [a melhora do país]. O que o mercado talvez esteja perdendo de perspectiva é se você consegue chegar ao final do processo”, pontua.

    Para o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, parte das altas nas ações, de fato se devem por efeitos sobre a moeda. Mas, na sua avaliação, “o grosso é mudança nas expectativas” do mercado.

    “Há uma série de mudanças importantes em curso, com diminuição do déficit, por exemplo. É verdade que isso é um primeiro passo, há mais a ser feito. Mas o ambiente para negócios melhorou. Com menos inflação, há mais certeza dos horizontes. Há também perspectiva de que se mude algumas leis para torná-las mais racionais”, indica.

    A inflação da Argentina caiu para 11% em março, ante alta de 13,2% em fevereiro, sendo que no segundo mês do ano o dado já havia ficado 7,4 pontos percentuais menor do que em janeiro, quando atingiu 20,6%.

    Publicado por Danilo Moliterno.

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