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    Eleições 2022

    A solidão de Doria

    Rejeitado pela esquerda e pela direita, ex-governador tem dificuldades para viabilizar sua candidatura

    O ex-governador de São Paulo, João Doria - 11/04/2022
    O ex-governador de São Paulo, João Doria - 11/04/2022 ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

    Fernando Molica

    A crise que envolve a pré-candidatura de João Doria à Presidência apenas explicita e amplifica as dificuldades do PSDB e as do próprio ex-governador paulista. Um impasse gerado por mudanças no país e agravado por movimentos do partido e do político nos últimos anos.

    Nascido de uma costela do MDB, então dominado pelo governador paulista Orestes Quércia – famoso por suas práticas pouco republicanas -, o PSDB trazia no nome e no programa a tentativa de representar a social-democracia entre nós. Um partido de centro esquerda, fiel aos princípios capitalistas, mas, ao mesmo tempo, atento para necessidades de concessões capazes de diminuir o abismo social brasileiro.

    Surgiu então o partido de Mario Covas, Franco Montoro, José Serra, Fernando Henrique Cardoso que, ungido pelas bençãos acadêmicas, entrava pela portaria social do edifício da centro esquerda enquanto o PT subia pelo elevador de serviço e tratava de conversar com os empregados do prédio.

    Inflado pelo sucesso do Plano Real e legitimado pela aliança com o então PFL de Antônio Carlos Magalhães, o PSDB virou protagonista da vida política brasileira e, por quase uma década, serviu de anteparo ao crescimento do PT. Uma estratégia que acabaria questionada pela chegada de Lula à Presidência e a adoção, pelo petista, de um programa moderado, que conciliava melhoria nas condições de vida dos mais pobres sem mudança na estrutura de distribuição da renda nacional.

    João Doria é consequência direta do processo marcado pela caminhada do PT para a social democracia, que empurrou o PSDB para a direita. O ex-presidente da Embratur não perdeu a chance de tornar seu partido mais conservador. Munido de retórica dura e inflamada contra os petistas, soube se beneficiar dos desgastes da crise econômica do governo Dilma Rousseff e do escândalo na Petrobras.

    Embalado pelos ventos conservadores, Doria não percebeu que esta movimentação do ar ameaçava virar furacão, e não vacilou em forjar uma aliança informal com Jair Bolsonaro. Em 2018 – o Bolsodoria lhe garantiu a eleição ao governo estadual, mas, ao mesmo tempo, forjou uma vinculação ao novo presidente, que velejava com tranquilidade no maremoto conservador.

    A pandemia foi o estopim para o rompimento entre os dois: Bolsonaro ficou irritado com os movimentos de Doria para construir sua própria candidatura ao Planalto e usou as divergências em torno do combate ao novo coronavírus para decretar seu rompimento com o aliado de ocasião.

    Ao adotar a política correta de enfrentamento ao vírus – viabilizou a Coronavac, estimulou políticas de distanciamento e isolamento -, Doria acabou isolado, como admitem pessoas próximas a ele. Foi aplaudido pela esquerda, que não vota nele, e odiado pela direita que, em sua maioria, havia se aliado a Bolsonaro e permanece ao lado do presidente. Como o brasileiro que, nos Estados Unidos, desaprende o português e não consegue dominar o inglês, Doria acabou falando sozinho e não consegue unir nem o próprio partido.

    Fotos – os pré-candidatos à Presidência