Australian Fashion Week apresenta seu primeiro desfile plus size
Passarela reuniu 60 modelos plus size e organizadores do evento admitem que estão muito atrás de outros países quando o tema é diversidade e inclusão
Para a agente de modelos Chelsea Bonner, sempre foi difícil garantir vagas nas passarelas para mulheres plus size na Australian Fashion Week.
“O desafio a cada temporada, para colocar uma, duas ou três modelos acima do tamanho 12 na passarela da semana de moda, é enorme”, disse ela ao telefone direto de Sydney. “A quantidade de tempo que leva, a quantidade de convencimento que você precisa fazer – é apenas uma batalha real.”
Então, Chelsea, cuja agência Bella Management tem cerca de 60 modelos plus size, resolveu o problema com as próprias mãos: organizou o primeiro desfile do evento dedicado exclusivamente a marcas plus size.
“Pensei: ‘Sabe de uma coisa, eu só quero fazer isso sozinha'”, contou. “E uma vez que todos vejam como é perfeito, isso pode ajudar a quebrar todas aquelas ideias antigas, desatualizadas e preconcebidas sobre o que é um modelo e como é uma mulher.”
Com edições recentes da Australian Fashion Week criticadas pela falta de elenco inclusivo (após o evento do ano passado, a modelo plus size Kate Wasley escreveu no Instagram que a diversidade era “inexistente”), os organizadores foram receptivos à ideia, disse Chelsea.
Ela convidou seis marcas locais que desenham roupas para mulheres de tamanho 12 a 26 – o equivalente a 42 a 54 no Brasil – para participar de um show apelidado de “The Curve Edit”.
Na última semana, no bairro de Eveleigh, em Sydney, as marcas enviaram 84 looks combinados na passarela na frente de cerca de 650 convidados. Quase 30 das modelos de Bonner, incluindo uma das modelos plus size mais conhecidas da Austrália, Robyn Lawley, exibiram itens que vão de roupas de banho a vestidos de festa.
A designer participante Kerry Pietrobon, que co-fundou a marca plus size Harlow com o marido em 2012, disse que o desfile foi um lembrete de que “a moda é para todos”.
“Como humana, me senti uma cidadã de segunda classe, disse ela em uma entrevista por telefone. “E como marca – como alguém que trabalha com moda – sempre senti que não somos considerados .'”
Harlow, que Pietrobon criou depois que ela lutou para encontrar roupas bacanas que se encaixassem em seu tipo de corpo, enviou 14 looks para a passarela, incluindo vestidos maxi estampados e roupas de noite totalmente pretas.
Em outros momentos, a grife Embody Women exibiu ternos estruturados e vestidos justos que “não fogem de uma figura mais cheia, (mas) a celebram”, explicou a fundadora Natalie Wakeling por e-mail.
Outros looks apresentados no show incluíram Saint Somebody, 17 Sundays, Vagary e Zaliea.
Trabalho a ser feito
Embora as chamadas semanas de moda “Big Four” (Nova York, Londres, Milão e Paris) ainda não dediquem um desfile inteiro à moda plus size, as modelos curvilíneas ganharam lentamente visibilidade nos escalões superiores da indústria. Em janeiro, a marca italiana Valentino foi elogiada por apresentar tipos de corpo mais cheios na Semana de Alta Costura de Paris, um evento conhecido pelo uso de modelos waif-like (muito magras).
Mas enquanto o principal evento de moda da Austrália claramente avançou com o elenco deste ano, o país está atrás do resto da indústria, de acordo com a fundadora e diretora criativa da Saint Somebody, Sophie Henderson-Smart.
“A Austrália está muito atrás de nossos amigos nos EUA, por exemplo, e parte da minha visão para nós é que podemos entrelaçar essa moda perfeitamente”, disse ela por e-mail antes do desfile de quinta-feira, onde Saint Somebody mostrou seu a coleção ” Assim como você é”.
A diversidade esteve em exibição em outras partes do evento, com duas mostras destacando o trabalho de designers indígenas e da ilha do Estreito de Torres. A programação também contou com uma apresentação sobre moda “adaptativa” – um termo usado para descrever roupas projetadas para pessoas com deficiência.
Mas, embora Bonner tenha saudado a inclusão de seus modelos, ela disse que a necessidade de um evento plus size dedicado demonstra que ainda há trabalho a ser feito. O objetivo, ela acrescentou, é que todas as passarelas sejam representativas de diversas formas corporais.
“Acho que o próximo passo é o mesmo de sempre – e pelo qual venho pressionando desde o início – que é ajudar marcas e designers a entender que gostaria de ser reconhecida e representada.”