Como interpretar as pesquisas de avaliação do governo?
Série divulgada nesta semana indica que pior momento foi consequência de fatores econômicos
Surgem sinais no horizonte do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que a queda na aprovação do presidente, registrada nos primeiros meses de 2024, começou a refluir em abril e maio.
Uma série de pesquisas de opinião pública publicadas nesta semana captou, cada uma com metodologias e timings próprios, a reversão de tendência. A dúvida é a intensidade e a duração dessa retomada de fôlego na imagem do presidente.
O mais recente levantamento foi feito pela Atlas e divulgado na tarde desta terça-feira (7), horas depois de pesquisa CNT/MDA ter sido publicada. Um dia antes, a Febraban/Ipespe também trouxe dados sobre a percepção dos brasileiros sobre o governo Lula.
Como analisar e interpretar corretamente tantos dados disponíveis?
O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda recomenda olhar para a questão primeira que os institutos fazem aos entrevistados: você aprova ou desaprova o governo? É uma pergunta dicotômica, que permite extrair um saldo, positivo ou negativo, quando se subtrai do percentual que aprova os que desaprovam.
Esse cálculo perde precisão quando se olha a avaliação por uma escala de ótimo/bom a ruim/péssimo.
Com essas três pesquisas, a compilação feita por Lavareda chega a 43 levantamentos feitos desde o início do mandato de Lula.
Dessas, apenas uma registrou saldo numericamente negativo (Paraná Pesquisas, de 18 a 22 de março). Pelo menos outras sete apontaram empate técnico: isto é, embora o percentual de aprovação fosse maior que a desaprovação, estavam dentro da margem de erro e, portanto, não se pode afirmar estatisticamente que uma é maior que a outra.
Restam, assim, mais de 30 levantamentos em que o saldo é significativamente positivo para o governo. Em outras palavras, são retratos de momentos em que os institutos identificaram, com significância estatística, que há mais brasileiros que aprovam o trabalho de Lula do que desaprovam.
Lula 3, o filme
Nesse caso, vale recuperar o clichê de que pesquisa é retrato de momento, e é preciso sempre olhar o filme quando se trata de opinião pública.
Por isso a metodologia sugerida por Lavareda, para se olhar a trajetória dos saldos ao longo do tempo, pelos mais variados institutos, torna-se mais eficaz.
Isso porque, quando há um intervalo de tempo maior entre dois levantamentos de um mesmo instituto, como o CNT/MDA, que foi a campo em janeiro e em maio, pode faltar um retrato da sequência, que foi justamente março, mês em que Genial/Quaest, Atlas, IPEC, Paraná e PoderData detectaram uma sequência de saldos inferiores ao que o governo registrava ao longo de 2023.
No caso da Atlas, com levantamentos em janeiro, março e maio, fica visível a queda nos primeiros meses do ano e a retomada de abril para cá: o saldo cai de 9 pontos para 1 e, agora, está em 6.
Ao se olhar todo o compilado de dados de Lavareda, surgem três informações que ajudam a compreender melhor as variações das curvas e vislumbrar para onde sopram os ventos da opinião pública:
- O ritmo de alta da desaprovação foi maior do que o da queda da aprovação entre janeiro de 2023 e maio de 2024;
- A desaprovação se consolidou acima dos 40% ainda em meados de 2023;
- Desde o início de 2024 a aprovação de Lula tende a ficar em torno dos 50%.
Para reforçar essa percepção, vamos aos saldos das três pesquisas divulgadas nesta semana:
- Febraban/Ipespe: + 6 pontos (49% aprovam e 43% desaprovam);
- CNT/MDA: + 7 pontos (50,3% aprovam e 43,7% desaprovam);
- Atlas: + 6 pontos (51% aprovam e 45% desaprovam).
Parece haver uma tendência de recuperação da imagem perdida. O que as próximas pesquisas podem ajudar a compreender é a intensidade e a duração dessa retomada de espaço.
É baixa a probabilidade de que Lula volte a registram saldos muito acima dos dois dígitos, como chegou a se observar no primeiro semestre de 2023. E parece de fato que o momento mais difícil coincidiu com uma percepção maior de preços altos – em especial a inflação dos alimentos, de componente sazonal.
Não por acaso, ao falar das diversas ações necessárias para ajudar o Rio Grande do Sul após a histórica enchente deste ano, Lula também olhou para o preço do arroz e do feijão em todo o Brasil e colocou à mesa a hipótese de importação desses produtos.
Mesmo com polarização em alta e convicções que parecem cada vez mais cristalizadas, os rumos da economia ainda fazem diferença.
A exemplo do cidadão que quer terminar o mês antes do saldo positivo da conta corrente, no Brasil atual, percorrer quatro anos de mandato com aprovação maior do que a desaprovação, acima da margem de erro dos institutos, não é tão pouco quanto parece. Para Lula, o desafio é sustentar esse saldo até 2026.