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    Demissão surpreendeu Bento Albuquerque, dizem militares e fontes do governo

    Ministro de Minas e Energia teria sido comunicado sobre saída do governo na segunda-feira (9); interlocutores de Bolsonaro dizem que opção por Sachsida tem caráter técnico e político

    Caio JunqueiraGustavo Uribeda CNN , em São Paulo e em Brasília

    A exoneração do comando do Ministério de Minas Energia não era esperada pelo almirante Bento Albuquerque, de acordo com alguns militares do governo ouvidos em caráter reservado pela CNN.

    Segundo assessores do governo, a decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu o militar, que discutia medidas para evitar paralisações de caminhoneiros no país.

    De acordo com decreto publicado no Diário Oficial da União (DOU) nesta quarta-feira (11), Bento Albuquerque foi exonerado, a pedido, e Adolfo Sachsida foi nomeado para o cargo. Jair Bolsonaro teria informado Bento Albuquerque sobre sua demissão na segunda-feira (9) à tarde, segundo aliados do presidente informaram à CNN.

    O encontro ente Bolsonaro e Bento teria ocorrido no Palácio do Planalto e não foi registrado na agenda de nenhum deles. A CNN tentou contato com Bento Albuquerque e com sua assessoria, mas eles não responderam. A CNN também procurou o Palácio do Planalto e aguarda retorno.

    Segundo uma fonte do Palácio do Planalto que se encontrou com Bento após o encontro com o presidente na segunda, ele estava abatido, mas acatou a decisão sem maiores questionamentos e manteve a demissão sob sigilo enquanto seguia trabalhando.

    Nesta terça-feira (10), de acordo com técnicos da pasta, Bento chegou a discutir com o Palácio do Planalto uma eventual ampliação da tabela de correção do frete.

    No início da noite, em conversa com a CNN, o ministro disse que o governo federal daria “as respostas necessárias” para a categoria dos caminhoneiros, insatisfeita com o novo aumento do preço do diesel.

    “Sempre trabalhamos e estamos trabalhando para dar as melhores condições a essa categoria vital para o país. O trabalho é permanente e vamos dar as respostas necessárias à categoria”, disse à CNN horas antes da publicação da exoneração no Diário Oficial.

    Escolha do novo nome

    Assim que foi feito o aviso a Bento, o governo iniciou a busca pelo substituto. Já na tarde desta segunda, Bolsonaro se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para tratar do assunto.

    O nome do então chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos Adolfo Sachsida foi colocado na mesa, mas segundo fontes do Palácio do Planalto relataram à CNN, outros nomes também foram considerados.

    Por essa razão a decisão do novo nome só acabaria sendo tomada na terça-feira e a mudança no ministério só viria a sair no Diário Oficial desta quarta-feira (11).

    Interlocutores de Bolsonaro dizem que a opção por Sachsida tem caráter técnico e político e lembram que o presidente repetiu o movimento que fez ao mexer no comando da Petrobras ao destituir o general Silva e Luna do comando da estatal.

    Adolfo Sachsida, novo ministro de Minas e Energia do governo Bolsonaro / Edu Andrade/Ascom/ME

    Preço dos combustíveis e a mudança no ministério

    O movimento seria político porque Bolsonaro acaba por apontar – e sacar do governo – mais um responsável pela alta dos preços dos combustíveis.

    Na segunda-feira, dia em que Bento Albuquerque teria sido comunicado de sua demissão, a Petrobras anunciou que reajustou o preço de venda do diesel para as distribuidoras. Agora, o combustível passou a custar R$ 4,91, e não mais R$ 4,51, por litro, representando uma variação de 8,8%.

    Com a troca no ministério, Bolsonaro terceiriza a responsabilidades em um tema um que mexe no bolso do eleitor e consequentemente dificulta suas chances de reeleição. E daria uma satisfação aos caminhoneiros autônomos de que o presidente não ficou satisfeito com o aumento do diesel, segundo integrantes do próprio governo ouvidos pela CNN.

    Outra motivação seria tentar fazer avançar medidas com impacto direto na bomba, como a criação de um fundo de estabilização de preços, medida que encontrava resistência no comando de Minas e Energia.

    Além disso, a substituição, com tamanha velocidade, impediria qualquer movimentação do Centrão para tentar ocupar o cargo. Foram menos de 48 horas entre a demissão e o anúncio do substituto.

    E, por fim, coloca no cargo um técnico alinhado politicamente ao governo, mas sobretudo alguém de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes, considerado vitorioso na substituição por conseguir simultaneamente eliminar um militar do governo e barrar o avanço da ala política sobre uma área crucial da economia brasileira.

    Defasagem no preço dos combustíveis

    O aumento do diesel, segundo integrantes do governo, não recuperou na totalidade a defasagem do preço do combustível, que, pelos cálculos feitos por assessores presidenciais, ainda é de cerca de 10%.

    O mesmo tem ocorrido com a gasolina. O cálculo feito por integrantes do governo é de que a defasagem da gasolina pode chegar hoje a até 15% do preço adotado pelo mercado mundial, o que poderia levar a Petrobras a anunciar um reajuste em médio prazo.

    O repasse da defasagem parcial do diesel, segundo integrantes do governo, não foi o que mais desagradou o presidente. A insatisfação deveu-se à rapidez com que o novo presidente da empresa repassou o aumento.

    Segundo assessores palacianos, com a mudança no comando da Petrobras, Bolsonaro esperava que José Coelho só anunciasse um aumento em médio ou longo prazo.

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