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    Lourival Sant'Anna
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    Lourival Sant'Anna

    Analista de Internacional. Fez reportagens em 80 países, incluindo 15 coberturas de conflitos armados, ao longo de mais de 30 anos de carreira. É mestre em jornalismo pela USP e autor de 4 livros

    Táticas de Israel e Hamas para forçar concessões prolongam conflito em Gaza

    Enquanto os dois lados debatem acordo, população palestina sofre com as consequências da guerra

    Israel lançou um ataque terrestre no sul da Faixa de Gaza enquanto o Hamas anunciava ter aceitado o acordo mediado por Egito, Catar e Estados Unidos, para a libertação de reféns em troca de trégua nos ataques. A situação é nebulosa.

    O governo israelense acusou o Hamas de ter aceitado um acordo diferente do que ele propôs. Já um funcionário americano que acompanha as negociações disse à Reuters que “Israel não parece ter conduzido a última fase das negociações de boa-fé”.

    O gabinete de guerra israelense anunciou ter decidido por unanimidade levar adiante a operação das Forças de Defesa de Israel em Rafah “para aplicar a máxima pressão militar sobre o Hamas, com o objetivo de fazer progresso na libertação dos reféns e nas metas da guerra”.

    Aparentemente o objetivo é controlar o lado palestino da passagem de Rafah para o Egito, por onde entra contrabando para o Hamas.

    De sua parte, a iniciativa do Hamas de anunciar o acordo pareceu destinada a tirá-lo da posição de obstáculo a uma solução negociada.

    O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou no dia 29: “O Hamas tem diante de si uma proposta extraordinariamente generosa de Israel. Neste momento a única coisa entre o povo de Gaza e um cessar-fogo é o Hamas”.

    Um funcionário do governo israelense disse à Reuters que o anúncio do grupo palestino parecia ser “um artifício para dar a impressão de que é Israel que está recusando um acordo”.

    O anúncio do acordo gerou expectativas entre os parentes dos 133 reféns israelenses e celebração por parte da população palestina em Gaza. Os palestinos logo se desiludiram, com a ordem de Israel para que mais de 100 mil civis se deslocassem do sul, seguida dos ataques contra Rafah.

    Khalil al-Hayya, um vice do líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, disse à rede de TV do Catar Al-Jazeera que a proposta que o grupo aceitou tem três fases, cada uma com 42 dias.

    De acordo com o jornal israelense Haaretz, fontes do Hamas afirmam ter recebido garantias de funcionários dos EUA, Catar e Egito, de que Israel não retomaria a guerra depois do cumprimento do acordo de três estágios, que resultaria na libertação de todos os reféns.

    Uma fonte que acompanha as negociações disse que a proposta aceita pelo Hamas é uma versão “atenuada” da proposta egípcia. Outro funcionário que foi informado das negociações, no entanto, afirmou que a proposta aceita pelo Hamas é efetivamente a mesma aceita por Israel no fim de abril, segundo a Reuters.

    O ponto mais sensível é quando e como a guerra terminará. Israel não quer vincular a libertação dos reféns a um cessar-fogo permanente.

    A CNN teve acesso ao documento aprovado pelo Hamas.

    Na primeira fase, o grupo libertaria 33 mulheres, crianças, idosos e doentes, em troca de uma retirada gradual das forças israelenses de partes de Gaza, da suspensão dos voos de reconhecimento durante 10 horas diárias, da livre circulação de palestinos desarmados e libertação de centenas de prisioneiros palestinos.

    Seriam soltas 30 mulheres e crianças palestinas por cada refém israelense libertado pelo Hamas, e 30 prisioneiros palestinos com mais de 50 anos por cada refém israelense na mesma faixa etária.

    As mulheres soldados israelenses seriam libertadas como parte dos 33 reféns, mas para cada uma delas Israel teria que libertar 50 prisioneiros palestinos, incluindo 30 cumprindo penas de prisão perpétua.

    A cada semana o Hamas libertaria três reféns. Na sexta e última semana, os demais reféns seriam libertados para cumprir o número de 33 acordado, segundo o documento.

    O acordo também diz que o Hamas poderia incluir os corpos dos reféns mortos para chegar ao número 33.

    Será iniciado um amplo esforço para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, incluindo abrigos, e a reabilitação de infraestruturas essenciais, como hospitais e a central elétrica, diz o documento.

    O documento não detalha a segunda fase do acordo, que deveria incluir um “período sustentável de calma” em Gaza e a libertação dos demais reféns, incluindo homens civis e soldados do sexo masculino.

    Um plano de reconstrução de Gaza com duração de três a cinco anos deveria começar na terceira fase, de acordo com o documento.

    O objetivo da campanha militar segue sendo a neutralização do Hamas como força combatente. Os próprios israelenses afirmam que quatro batalhões do grupo, o que somaria potencialmente milhares de combatentes, concentram-se em Rafah.

    O general Benny Gantz, ex-ministro da Defesa e líder da oposição, afirmou que “toda decisão será apresentada ao gabinete de guerra”, que ele integra. “Não haverá considerações políticas.”

    O recado parece dirigido ao Hamas, que tenta pressionar o governo israelense com a percepção de que é ele que está dificultando o acordo para a libertação dos reféns. Mas também aos ultranacionalistas do governo, que rejeitam um acordo e exigem a destruição do Hamas.

    De qualquer forma, as negociações continuam nesta terça-feira no Cairo. Israel e o Catar confirmaram que enviariam representantes. Até aqui, a tática usada por cada lado para pressionar o outro a ceder só está prolongando o conflito.