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    Eleições 2022

    Não falta marqueteiro para Lula. Falta uma conversa com Eduardo Paes

    Se Lula quer mesmo vencer, precisa lutar por todo voto, como se fosse sua primeira eleição

    Alexandre Borges

    A eleição surrealista de 2018 ainda está viva na memória de todos. Um ano antes, quem poderia prever governadores como o ex-juiz Wilson Witzel, Romeu Zema (72% dos votos!), Ibaneis Rocha (70%!), Helio “Bolsonaro” Lopes como deputado federal mais votado do Rio de Janeiro (480 votos para vereador apenas dois anos antes) ou os dois milhões de votos para a novata Janaína Paschoal?

    O destaque aleatório, evidentemente, foi o presidente eleito, um deputado folclórico do baixíssimo clero fluminense que subiu a rampa do Planalto após a prisão do principal adversário e um grave e tresloucado atentado contra sua vida. Alguns derrotados, como Eduardo Paes, deram a volta por cima no pleito seguinte, mas o atual prefeito do Rio de Janeiro aprendeu algumas lições com aquela derrota que podem ser úteis a Lula.

    Paes tem uma longa história na política carioca, mas alcançou o estrelato ao ser eleito alcaide em 2008, num pleito que contou com um feriado providencial decretado pelo governador e padrinho político Sérgio Cabral que todo carioca lembra bem.

    O ex-tucano foi um prefeito que deixou sua marca nos dois primeiros mandatos (2009-2016) e foi muito bem avaliado, considerando um eleitorado normalmente blasé e que dificilmente simpatiza ou idolatra políticos.

    Tudo parecia conspirar para que Paes conquistasse o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em 2018, e sua vitória era vista, no meio político do Rio, como favas contadas.

    O festejado ex-prefeito disputou a vaga com candidatos que não faziam sombra a seu prestígio e tocava sua campanha como uma mera e tediosa formalidade. Porém, só faltou combinar com o eleitor.

    Fechadas as urnas do primeiro turno, Paes foi surpreendido pela folgada dianteira do desconhecido Wilson José Witzel, o “juiz do Bolsonaro”, que recebeu 3.154.771 votos (41,28%), mais que o dobro do suposto favorito que obteve 1.494.831 votos (19,56%).

    Mais que um resultado eleitoral, uma bofetada em alguém que considerava a conquista do governo estadual fluminense uma consequência natural de sua trajetória política.

    A campanha do segundo turno teve um Eduardo Paes que, em vez de lutar pelo espaço perdido, falava na TV com indisfarçável mau humor, como se apontasse o dedo para o eleitor e dissesse “como vocês ousam não votar em mim?”.

    Paes transparecia um evidente incômodo por ter que se comparar a um mero ex-juiz, nascido no interior de São Paulo, com declarações entre desconexas e folclóricas.

    O ex-prefeito parecia estar vivendo um pesadelo, custando a acreditar que tivesse mesmo, depois de oito anos de uma administração municipal bem avaliada na complicada capital do estado do Rio, de convencer o cidadão fluminense ser mais capaz do que seu inexperiente adversário de comandar a máquina pública estadual.

    O resultado, como se sabe, foi a confirmação da vitória tranquila de Wilson Witzel com 4.675.355 votos (59,87%) contra 3.134.400 (40,13%) de Eduardo Paes. O que parecia mentira, uma piada de mau gosto, era a pura realidade. Witzel depois sofreria um processo de impeachment e sequer terminaria o mandato, mas a eleição de 2018 deixou lições que Paes aprendeu e levou para a disputa de 2020, quando recebeu seu terceiro mandato como prefeito da cidade maravilhosa. O que Lula 2022 teria a aprender com Paes 2018?

    Que escalação não ganha jogo, para ficar numa analogia futebolística, figura de linguagem tão cara ao ex-presidente. Se Lula quer mesmo vencer, precisa descer da torre de marfim que se colocou, parar de menosprezar seu adversário, que é o atual presidente da República, e humildemente lutar por cada voto, como se fosse sua primeira eleição.

    Um Lula mal-humorado, ressentido, enfraquecido, desgastado terá poucas chances de superar a avassaladora máquina bolsonarista que inclui a caneta presidencial, grande parte do centrão, o fim do teto de gastos e o uso mais massivo e despudorado das redes sociais já feito por um político no Brasil.

    A cada pesquisa, Bolsonaro encosta mais em Lula e seu viés, evidentemente, é de alta. A cinco meses da eleição, o atual presidente tem toda condição de superar o petista e dar a ele a derrota mais humilhante da sua vida, jogando o PT num limbo.

    Lula pode achar que a Presidência deveria ser concedida a ele honoris causa, mas não é assim que funciona na vida real. E ele, no fundo, sabe disso. Há tempo e condições de reverter o atual quadro, mas se ele continuar subestimando seu adversário, pode tomar o mesmo susto de Eduardo Paes em 2018, com a diferença de que não haverá redenção posterior.

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