Em ato de sindicalistas, Lula sinalizou para a direita e não falou em revogar mudanças trabalhistas
Bolsonaro estimula a briga com STF para tentar recuperar a roupa de candidato antissistema, aposentada por acordos com Centrão
O ex-presidente Lula (PT) aproveitou a manifestação de domingo (1º) para amenizar declarações anteriores relacionadas a eventuais mudanças na legislação trabalhista e, ao mesmo tempo, demonstrar como pretende fugir de temas que, segundo ele, são estimulados por Jair Bolsonaro (PL) para conquistar holofotes. Já o presidente insistiu em temas mais genéricos, como família, Deus e liberdade – e nem de longe condenou os que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal.
Um dia depois de conquistar o apoio do PSOL, Lula fez discretos acenos à direita. Condenou a perda de direitos dos trabalhadores, mas não voltou a falar em revogação das mudanças na legislação aprovada no governo de Michel Temer (2016-2018). Preferiu frisar a necessidade de negociações que envolvam os sindicalistas.
Numa concessão a novas formas de trabalho, o petista ressaltou a necessidade de regulamentar aqueles que prestam serviços por meio de aplicativos, como motoristas e entregadores. Falou em descanso semanal, assistência médica e seguro para veículos, mas não prometeu assinar a carteira de trabalho dessas pessoas.
Ao atenuar o discurso, Lula tenta diminuir ainda mais a possibilidade de geração de um candidato competitivo da chamada terceira via e busca evitar que algum espaço da centro direita seja conquistado por Ciro Gomes (PDT), que andou acenando para os partidos que tentam viabilizar uma alternativa à polarização detectada e reafirmada por diversas pesquisas.
Para não cair no que considera uma armadilha de Bolsonaro para sequestrar a pauta de discussões, Lula deu as linhas gerais do que pretende ser sua campanha: falou também em assuntos como inflação, recuperação do poder de compra de salários e redução do desemprego. Nada de repercutir o caso da graça ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ): Lula apenas citou a necessidade de respeito às instituições.
Bolsonaro insiste em transformar em ataque à liberdade a condenação de um parlamentar que ameaçou ministro do Supremo Tribunal Federal. É do jogo da política – e mesmo, da vida – oferecer leituras diferenciadas de um mesmo episódio, qualquer narrativa não passa de uma versão, mais ou menos fiel aos fatos. Resta saber se esse discurso será suficiente para Bolsonaro superar problemas como pequeno crescimento econômico, inflação, desemprego e fome.
O embate com o STF e com o Superior Tribunal Eleitoral dá a Bolsonaro a oportunidade de, mais uma vez, posar de candidato antissistema. Sua prática na Presidência o impede de falar em nova política, mas a briga com o Judiciário dá um novo gás ao experiente político que assim tenta vestir, mais uma vez, a roupa daquele que é “contra tudo que está aí” – um figurino que lhe ficou apertado por conta dos acordos com o Centrão e das sucessivas denúncias de corrupção em seu governo.