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    Coachella: looks “boho chic”, moda nos festivais de música, ainda causam polêmica

    A estética que sempre prevaleceu nestes eventos já foi acusada de apropriação cultural; e mesmo após críticas, ainda é fácil ver franjas, penas e cocares entre o público

    Leah Dolanda CNN

    Será neste fim de semana o retorno do Coachella após um hiato de três anos causado pela pandemia. E, como sempre, tanto a música quanto a moda que será desfilada pelo festival vão causar o maior barulho.

    O evento já foi classificado entre os mais estilosos do calendário cultural – graças à participação de celebridades e das festas exclusivas organizadas por uma lista grande de marcas de moda, de Lacoste à H&M. Mas parece que as edições recentes dificilmente lançam tendência como antes.

    Na verdade, o festival anual nunca se recuperou das gafes fashion da década passada. Em particular, há algumas imagens que se provaram especialmente difíceis de esquecer: a de festeiros passeando pelo deserto com cocares de penas de nativos americanos falsos ou com suas testas adornadas com bindis do sul da Ásia (ou às vezes ambos).

    A reputação do festival de apropriação cultural e escolhas insensíveis de roupas também foi amplificada pela moda das celebridades presentes.

    Look usado no Coachella em 2015 / Rachel Murray/Coachella

    Vanessa Hudgens, tão assídua no festival que muitas vezes é apelidada de “Rainha do Coachella”, foi chamada a atenção várias vezes por combinar ponchos e vestidos maxi com bindis. Da mesma forma, Kendall Jenner já apareceu usando um “nath” indiano – uma peça de joalheria de noiva indiana que conecta um piercing no nariz a um piercing na orelha.

    Em 2014, a ex-modelo da Victoria’s Secret, Alessandra Ambrosio, enfrentou uma grande reação on-line por publicar uma foto de si mesma usando um cocar de penas no Instagram com a legenda: “Me inspirando para o @coachella com este incrível adereço nativo americano”.

    No entanto, três anos depois, variações do item sagrado – que alguns chefes e guerreiros usavam durante cerimônias ou em batalha, e muitas vezes era feito de penas de águia sagrada – ainda estavam em exibição, embora com um coro crescente de desaprovação.

    Cocares de pena no Coachella, em 2014 / Frazer Harrison/Coachella

    Os participantes do Coachella não foram, de forma alguma, os únicos infratores. Em 2012, a modelo Karlie Kloss se desculpou por usar um cocar até o chão em uma passarela da Victoria’s Secret e, ao longo da década, a evolução do “boho chic” em algo mais problemático estava ocorrendo em festivais em todo o mundo.

    Mas enquanto os organizadores do Festival de Glastonbury, na Inglaterra, decidiram proibir a venda durante o evento de acessórios de cabeça do estilo nativo, em 2014 – o mesmo que fizeram vários outros festivais de música canadenses e, mais tarde, o festival Outside Lands, de San Francisco -, eles persistiram no Coachella Valley.

    Seja no cenário do deserto em branco ou no fato de o festival acontecer no sul da Califórnia, onde o espírito da contracultura remonta à década de 1940, o festival achou mais difícil chutar a estética boho – e as redes sociais continuaram divulgando imagens ofensivas em volume e velocidade consideráveis.

    “A moda é um meio de expressão muito forte. É usada para performatividade, vestimos um terno para ser parecermos mais profissionais no escritório, por exemplo”, disse Sage Paul, diretor executivo e artístico da Indigenous Fashion Arts em Toronto, à CNN.

    “E festivais são lugares para realmente experimentar e explorar, mas acho que precisa haver mais criatividade e inspiração nessa exploração. Usar cocares e bindis e chamar isso de criatividade é simplesmente preguiçoso.”

    A evolução do ‘boho’

    “Boho chic” pode ter conotações desconfortáveis agora, mas começou de maneira aparentemente inocente no início dos anos 2000. Abreviação de “boêmio”, em homenagem aos conjuntos hippies dos anos 1960 e 70 que o inspiraram, o termo tornou-se um sinônimo de alfaiataria para franjas de camurça, golas de crochê e estampa paisley.

    Sienna Miller no Glastonbury Festival, em 2004 / PA Images via Getty Images

    A popularidade do visual é muitas vezes atribuída a uma roupa usada pela atriz Sienna Miller para Glastonbury, em 2004. Com seu cabelo de praia perfeitamente imperfeito e usando um mini-vestido em camadas, botas Uggs e cinto de moedas, Sienna parecia encapsular a sensibilidade despreocupada da vida festiva.

    Seu cinto a colocou rapidamente pela imprensa britânica como a santa padroeira dos cintos de moedas. (Mais tarde, ela se distanciou do estilo, dizendo à “Vogue” americana: “Eu só não quero nunca mais usar nada flutuante ou cinto de moedas”.)

    Na verdade, os conjuntos boho chic começavam a aparecer na passarela nessa época. Em 2003, a coleção outono-inverno de Chloé apresentava silhuetas femininas esvoaçantes e vestidos em camadas.

    No ano seguinte, uma coleção hipnótica de primavera-verão de Roberto Cavalli viu ponchos de crochê, saias longas e esvoaçantes combinadas com tops de biquíni de amarrar, coletes de couro e até chapéus de feltro enfeitados invadir a passarela. Em 2005, Bottega Veneta e DSquared estavam colocando colares de miçangas com gravatas.

    Foi só então, presumivelmente quando cintos grossos, pés descalços e cabelos desgrenhados falharam em chocar o mundo da moda, que o boho se tornou mais experimental – e mais ofensivo.

    Look do Coachella, em 2014 / Getty Images

    Em 2007, a “Vogue” britânica alistada produziu um editorial intitulado “Indian Summer”, que mostrava moradores indianos desajeitados ao lado de modelos como adereços glorificados.

    “Eclético, colorido, louco”, dizia o subtítulo, acrescentando: “o estilo da cigana moderna é tão exótico quanto suas viagens”. Mais tarde, em 2009, Kate Moss estrelou uma sessão de fotos bizarra de inspiração cigana, com uma caravana cigana, pôneis de Shetland e uma fogueira barulhenta – encorajando o uso irreverente de “cigano” como uma estética vaga em vez de um grupo étnico.

    Uma nova identidade

    Mas as críticas on-line estão chegando ao mundo dos festivais. Paul vê as recentes tentativas de chamar a atenção da moda Coachella culturalmente insensível como um triunfo na representação e educação.

    Look Coachella, em 2015 / Rachel Murray

    “A internet forneceu uma plataforma para que essa resposta seja dada a esses atos de racismo e apropriação, o que é ótimo”, disse ela. “Acho que estamos vendo essa reação agora porque a internet nos permite ter uma voz.”

    No Coachella mais recente, em 2019, ainda havia muitas saias com franjas no deserto – no entanto, os piores exemplos de apropriação cultural não estavam mais lá. Mas se os participantes podem realmente restaurar a modalidade do festival é ainda outra questão.

    Para Paul, cujo trabalho destaca designers, criativos e artistas nativo americanos, os festeiros poderiam tentar demonstrar respeito e apreço investimento diretamente nessas comunidades.  podem tentar demonstrar apreço investindo diretamente sobre as comunidades.

    “Parece tão óbvio para mim”, disse ela. “Apenas trate as pessoas igualmente. Mas, claro, que sempre haverá um desequilíbrio. Há muito trabalho a ser feito.”

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