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    Representantes do setor de petróleo veem continuidade na gestão da Petrobras

    Acionistas ainda se questionam até que ponto o novo presidente da estatal estaria disposto a atender pedidos e ordens do governo federal

    Pedro Duranda CNN no Rio de Janeiro

    Foram exatos vinte minutos de discurso do novo presidente Petrobras, José Mauro Coelho. O objetivo foi tentar passar mensagens para acalmar o mercado. Para interlocutores do setor, o compromisso com o plano estratégico da companhia que foi projetado de 2022 a 2026 é um sinal de que a gestão do novo executivo da companhia não deve ter um ‘cavalo de pau’.

    José Mauro, em seu discurso de posse nesta quinta-feira (14), ressaltou a importância de manter preços de mercado. Para as fontes ouvidas pela CNN, a fala foi um sinal de continuidade da atual política de Preços de Paridade de Importação (PPI).

    “Duas palavras aparecem muito discurso e são fundamentais: eficiência e competitividade. Entendemos também que a prática de preços de mercado é necessária para atrair investimento, atrair novos agentes econômicos, expansão da infraestrutura e garantia de abastecimento”, disse o novo presidente em sua cerimônia de posse.

    A CNN conversou com representantes de distribuidoras, importadores, trabalhadores e acionistas. Todos foram unânimes em dizer que não esperam, a partir das palavras, da postura e da experiência do novo presidente, uma mudança significativa no que tem feito a estatal nos últimos anos. Demitidos por Jair Bolsonaro, os ex-presidentes Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna tiveram gestões de continuidade, na mesma linha do que é esperado para o período em que Coelho comandará a companhia.

    Presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, a Abicom, Sérgio Araújo disse que gostou da fala do executivo. “É fundamental uma empresa do tamanho da Petrobras ter o seu norte bem definido e não ficar mudando com muita frequência as suas diretrizes, então achei bastante positivo o discurso de posse do José Mauro e acredito que todo o mercado tenha visto também de uma forma muito positiva”, afirmou.

    “O discurso dele foi bem positivo, ele reiterou que deve manter o plano estratégico da empresa. A Petrobras, hoje, o foco da empresa, é procurar manter a exploração em águas profundas, na qual ela é uma referência mundial. Saiu um pouco dos produtos que não são especialidade dela. Isso vai ser mantido, o que é muito positivo”, avaliou o engenheiro Luiz Adriano Martinez, Portfólio Manager da gestora de fundos de investimento Kilima Asset.

    Detentora de uma das onze cadeiras, ao lado de Coelho no Conselho de Administração da Petrobras, Rosangela Buzanelli não se surpreendeu com o discurso. Representante dos trabalhadores no colegiado, ela disse à CNN que ouviu exatamente o que esperava. “Não tínhamos nenhuma expectativa de que alguma mudança significativa ocorreria, não fomos frustrados nessa expectativa, infelizmente. Essa é a expectativa que eu gostaria de ver frustrada mas não foi”, afirmou ela.

    José Mauro Ferreira Coelho foi indicado para assumir a Petrobras / Foto: Divulgação/ CNN

    Na análise da conselheira, as diretrizes da Petrobras na gestão de Coelho devem continuar iguais ao plano atual. “A visão estratégica da empresa não mudou, a política de preços que é definida de fato pelo governo federal não mudou, não vai mudar, não deve mudar e todo o processo de gestão da empresa não vai mudar porque não mudou o governo. Não adianta mudar o presidente da Petrobras se a diretriz dada pelo governo federal continua a mesma, então não há expectativa de mudanças nem dos trabalhadores e nem do próprio mercado, vai continuar tudo como está”, afirmou ela.

    Antes de chegar na presidência da maior estatal do país, José Mauro Coelho foi funcionário de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Energética, a EPE e Secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia. Foram 14 anos em postos do serviço público. Plano C do governo federal, ele foi convidado para assumir o cargo depois da desistência do economista Adriano Pires e da recusa do ex-presidente da ANP, Décio Oddone.

    Plano estratégico

    Na fala, José Mauro Coelho lembrou que a Petrobras produz 2,1 milhões de barris de petróleo por dia e disse que espera nos próximos 5 anos aumentar em 500 mil barris de óleo por dia a produção da estatal. Ele ainda ressaltou que só em 2021 foram recolhidos em impostos e participações governamentais, R$203 bilhões.

    “Trabalharemos com aderência ao nosso plano estratégico, o Plano 2022-2026. Nesse sentido continuaremos maximizando o valor do nosso portfólio com foco em ativos de águas profundas e ultra profundas”, afirmou o novo presidente. Legado do antecessor, o general Joaquim Silva e Luna, o plano aprovado no último dia 24 de novembro prevê investimentos de US$ 68 bilhões.

    Desse total, US$ 57 bilhões irão para 15 novas plataformas, US$ 6,1 bilhões para melhorias em refinarias, US$ 2,8 bilhões irão para redução e mitigação de emissões de gases e US$ 1 bilhão previsto especialmente para a conclusão da Unidade de Tratamento de Gás (UTG) Itaboraí.

    Na opinião de Luiz Adriano Martinez, esse dinheiro só será direcionado para investimentos graças à política de paridade de preços ao cenário internacional, que fez a estatal lucrar. “É essencial que se mantenha isso, porque é isso que vai viabilizar os recursos pra empresa poder continuar investindo no próprio negócio. E evitar que num recurso não muito distante por falta de investimento a produção caia. Isso ajuda o país também, a Petrobras recolhe bastante caixa pra União por impostos”, afirmou ele.

    “Não seguindo essa política de preços com reajuste internacional, a gente certamente vai ter dificuldades em seguir sendo autossuficientes no médio prazo. Você não vai ter recursos para investir e isso certamente vai levar a uma queda na produção”, completou.

    José Mauro ainda disse que quer melhorar a comunicação externa da empresa. O tema era pedra no sapato de Silva e Luna, que insistia em estratégias para tentar tirar a pecha de vilã dos altos preços de combustíveis da Petrobras. “Buscaremos maior interação com a sociedade. Temos que entender a importância que essa empresa tem para o brasileiro. E muitas vezes não conseguimos ter uma comunicação que chegue de forma palatável ao povo brasileiro”, afirmou Coelho.