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    Conheça o blockchain verde, opção que reduz uso de energia e de emissões da rede

    Tecnologia exige alto consumo e energético, e consequentemente grande emissão de CO2, para operar

    Artur Nicocelido CNN Brasil Business* , em São Paulo

    Enquanto investidores e empresas avaliam os possíveis usos – e negócios – da tecnologia blockchain, já emerge um debate importante sobre tema: o grande consumo de energia elétrica na mineração da tecnologia e a alta emissão de carbono durante o processo.

    De acordo com o Digiconomist, plataforma voltada à apresentação das consequências não intencionais das tecnologias, a emissão de carbono do bitcoin anual, por exemplo, é de um milhão de toneladas – o equivalente à emissão anual da República Tcheca, com cerca de 10 milhões de habitantes.

    Enquanto a energia elétrica consumida pelo bitcoin durante o ano é de 204,50 twh (terawatt/hora), a mesma quantidade consumida pela Tailândia anualmente, que abriga um população de quase 70 milhões.

    Dessa forma, surge o conceito do blockchain verde, uma possível solução para as questões ambientais relacionadas à tecnologia.

    A rede “verde” possui duas diferenças do modelo tradicional de blockchain, sendo a primeira voltada à mudança dos protocolos de mineração, do proof-of-work para o proof-of-stake.

    No modelo proof-of-work, ou PoW (prova de trabalho, em português), os computadores usados para mineração competem entre si para encontrar as chaves que validem um nó. Dessa forma, muita energia é gasta pelos mineradores para que, no final, apenas um seja retribuído pelo esforço.

    Com a mudança para o proof-of-stake, ou PoS (prova de participação, em português), o sistema passa para os blocos construídos, e não minerados. Para escolher os mineradores não há uma competição, mas um sorteio, em que uma pessoa é escolhida para descobrir o código. Ou seja, apenas a energia elétrica de um minerador é gasta no processo de validação.

    “No final, blockchain verde é apenas um conceito ou um apelido dado aos blockchains cujo algoritmo de consenso não é prova de trabalho”, afirma Tatiana Revoredo, professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

    Já a outra mudança do modelo “verde” é a mesma aplicada para qualquer negócio que queira mitigar suas emissões: a utilização de energia renovável no processo de mineração, “como fazendas de placas de energia eólica ou solar”, afirma Eduardo Ferreira, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    Como funciona a mineração no blockchain

    O blockchain é formado por pedaços de códigos (os blocos), que ficam ligados entre si. E é nesses blocos que ficam registradas informações, como os dados de transações de criptomoedas.

    Alan de Genaro, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o processo de mineração envolve “verificar se a informação apresentada em um desses blocos é verdadeira ou não”. Caso ela seja verdadeira, o bloco é incorporado à rede e ganha um código de criptografia.

    “Os mineradores são validadores das informações, porque não tem um ente regulatório que diz que uma pessoa tem x dinheiro na conta, ou se pode transferir x dinheiro para outra pessoa”, diz o professor.

    Atualmente, o minerador que conseguir validar uma transação envolvendo bitcoin recebe, como recompensa, 6,25 bitcoins.

    Equipamento usado na mineração de criptomoeda, no Reino Unido / Divulgação/ West Midlands Police

    Outro consumo de energia

    Ferreira explica ser possível utilizar energia renovável no processo de mineração, o que reduz em partes a preocupação do mercado sob o consumo energético. Porém, ele enxerga alguns problemas para a implementação dessa saída.

    “A gente pode pensar nas dificuldades da mesma forma que consideramos trazer água quente por meio de energia renovável. É necessário instalar painéis solares, por exemplo, mas o custo do produto não é acessível [para todos os mineradores]”, explica Ferreira.

    Se considerarmos que um painel custa em torno de R$ 2 mil, ele afirma ser preciso um investimento em torno de R$ 10 mil para construir uma estrutura necessária para conseguir minerar usando energia solar.

    Contudo, ele ressalta ainda ser necessário ter sol o ano inteiro para compensar a instalação, “então, não acho que seja algo simples das pessoas colocarem em casa”.

    ESG

    Quando questionados se o blockchain verde pode ser considerado parte de uma estratégia ESG, sigla em inglês para definir diretrizes ambientais, sociais e de governança corporativa, os professores divergem nas respostas.

    Eduardo Ferreira, do Mackenzie, afirma ser possível considerar ESG se “pensarmos que a sigla é usada para qualquer mecanismo que tenha alguma preocupação com o consumo de energia e emissão de carbono”.

    Ele aponta ainda que o termo não pressupõe que uma companhia irá acabar com o consumo total de algum tipo de recurso, mas que o recurso natural será reposto de alguma forma.

    Dessa forma, para Ferreira,  com a mudança de energia consumida para uma renovável e a troca do modelo de mineração, haverá uma redução na emissão de carbono consequentemente.

    As emissões globais de dióxido de carbono relacionadas ao consumo energia aumentaram 6% em 2021 para 36,3 bilhões de toneladas, seu nível mais alto de todos os tempos, apontou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

    E o consumo de energia é de longe a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa, aponta os dados da plataforma ClimateWatch do WRI, que oferece dados abrangentes de emissões para todos os países.

    Por outro lado, a professora do Insper discorda de Ferreira. Tatiana Revoredo avalia que determinar o blockchain verde como ESG, “é como afirmar que um carro é verde pelo simples fato de algum motor ser mais econômico que outro”.

    Tatiana explica que o mecanismo de mineração, ou algoritmo de consenso, é apenas um componente da tecnologia blockchain, ou seja, não é possível definir todo o sistema como ESG por conta de apenas um elemento consumir menos energia.

    *Com informações de João Pedro Malar, do CNN Brasil Business

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