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    Em tese de doutorado, indicado para Petrobras defendeu expandir refinarias

    Plano estratégico da estatal que deverá ser presidida por José Mauro Coelho, no entanto, prevê a venda de refinarias até reduzir pela metade capacidade de refino da Petrobras

    Pedro DuranElis BarretoBeatriz Puenteda CNN no Rio de Janeiro

    O indicado para presidir a Petrobras, José Mauro Coelho, terá entre as missões, caso seja oficializado no comando da companhia, a “estratégia de reposicionamento do refino”, que na prática significa basicamente vender refinarias e abrir mão de metade da atividade que era totalmente controlada pela Petrobras até o ano passado.

    Aposta do governo para a companhia, em 2015, Coelho defendeu um caminho diferente: ampliar a capacidade brasileira de refinar petróleo, investindo em refinarias dentro e fora do país.

    Químico e especialista em engenharia de materiais, José Mauro Coelho teve a tese publicada pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, o COPPE da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

    No documento, ele afirmou que “no caso da corrida sem as refinarias Premium e com o preço do petróleo Brent de US$ 80,00/bbl, observou-se, por exemplo, que o modelo optou por investimentos em refino na América do Norte, em novas refinarias na região sudeste e nordeste do país, além de investimentos em unidades de processo das refinarias existentes”.

    O caminho é diferente da decisão do comando da Petrobras. O plano da estatal vem depois de uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética, que abriu caminho para a venda de refinarias em 2019, dando diretrizes para que a venda delas respeite a livre concorrência.

    Depois disso a Petrobras ainda firmou um compromisso com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e apresentou a ideia aos acionistas, até que começasse a vender as refinarias em 2021, na gestão de Joaquim Silva e Luna.

    Das 14 refinarias, a estatal tem como meta vender oito. Em 30 de novembro de 2021 foi anunciada a conclusão da venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), que fica em São Francisco do Conde, na Bahia.

    Um negócio de R$ 10 bilhões. Ao fim de todo esse processo, a Petrobras ficará apenas com unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, mantendo o equivalente a 50% da capacidade de refino do país.

    Para o orientador da tese de José Mauro, o professor Alexandre Szklo, a escolha da Petrobras não é o melhor caminho. “Existe uma visão de que em a Petrobras vendendo refinarias, a gente vai ter um mercado de refino competitivo e com isso o preço dos derivados vai cair. Essa visão é uma visão ingênua”, disse ele em entrevista à CNN.

    “Vender refinarias não significa expandir refino e não significa você conseguir garantir redução de preço por competição de refinarias diante de um mercado que é fortemente deficitário com os produtos que se faz”, completou. A CNN procurou José Mauro Coelho para comentar a reportagem, mas ele não respondeu.

    Meta da Petrobras

    Na área de refino, o Plano Estratégico 2022-2026 prevê um investimento de US$ 6,1 bilhões em ações como a integração entre a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e o GasLub Itaboraí, para a produção de derivados de alta qualidade e óleos básicos, além da conclusão da segunda unidade da Refinaria Abreu e Lima (Rnest).

    A visão da estatal no plano aprovado é “ser a melhor empresa de energia na geração de valor, com foco em óleo e gás, sustentabilidade, segurança, respeito às pessoas e ao meio ambiente”.

    O cenário atual é bem diferente das gestões anteriores. O economista Sérgio Gabrielli comandou a estatal entre 2005 e 2012. Ele explica que naquela época, a Petrobras tinha uma meta ousada para o caminho oposto: construir refinarias.

    “Ao invés de ampliar o refino como era previsto no plano estratégico da Petrobras no tempo que nós estávamos lá, a Petrobras talvez até tivesse uma pretensão demasiadamente alta de construir cinco refinarias, na verdade ela construiu meia refinaria nesse período e portanto o estrangulamento nosso não vem do petróleo, mas vem da capacidade de refinar”, disse ele à CNN.

    Em entrevista à Agência Brasil, em agosto do ano passado, José Mauro Coelho defendeu o atual plano da companhia. A opinião que ele mostrou ter, representando o Ministério de Minas e Energia como secretário de Petróleo e Gás, difere do que pensa seu orientador do doutorado. “Concentração de mercado é uma barreira a investimentos e a novos entrantes, correto? Então isso era um problema, correto? O Brasil, o governo federal, queria trabalhar numa abertura do mercado, que o mercado tivesse maior concorrência, maior dinamismo, maior pluralidade de agentes e, claro, isso traz benefícios para o consumidor brasileiro. Essa competição tem um potencial de levar a uma redução de preço”, afirmou ele.

    “O que nós esperamos com isso? Que nós tenhamos uma maior pluralidade nesse mercado de refino no Brasil, que novos investimentos possam ser feitos nas refinarias existentes, não só novos investimentos no aumento da capacidade, mas também na modernização dessas refinarias e que novos investimentos possam ser feitos também em novas refinarias. De modo que a gente possa atender ainda melhor o nosso mercado de combustíveis”, explicou à época.

    O professor Alexandre Szklo explicou que a tese de José Mauro Coelho previa a construção de até três refinarias. “Esse padrão de refinarias convencionais de grande porte, num cenário de US$ 100 o barril, claramente a tese, o resultado, o modelo matemático desenvolvido na tese do José Mauro vai indicar uma expansão consistente, na ordem de 600 mil barris/dia, e aí a gente tá falando de duas ou três refinarias de grande porte no Brasil e eventualmente a aquisição de refinarias fora do Brasil”, disse.

    No entanto, orientador do trabalho, Szklo disse que não vê contradição entre o modelo desenhado por seu orientando e o horizonte atual da Petrobras. Isso porque, o estudo feito em 2015 não especificava claramente se a ampliação do refino no país deveria ser paga com dinheiro público ou privado.

    “Se o investimento vai ser feito pela Petrobras ou não, se o investimento vai ser feito por uma outra empresa, não foi o foco da tese do José Mauro, então eu não diria que há uma contradição per se”, disse o professor.

    AS refinarias já vendidas pela Petrobras foram: Refinaria Isaac Sabbá (Reman) – AMRefinaria de Landulpho Alves – BAUnidade de Industrialização do Xisto (SIX) – PRRefinariais que serão vendidas pela Petrobras:Refinaria Gabriel Passos (Regap) – MGRefinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor) – CERefinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) – PRRefinaria Alberto Pasqualini (Refap)- RSRefinaria Abreu Lima (Rnest) – PERefinarias que ficarão com a Petrobras:Refinaria Potiguar Clara Camarão – RNRefinaria Capuava (Recap) – SPRefinaria Duque de Caxias (Reduc) – RJRefinaria Presidente Bernardes (RPBC)- SPRefinaria de Paulínia (Replan) – SPRefinaria Henrique Lage (Revap) – SP