Em jantar com caciques do MDB, Lula é cobrado por falas sobre aborto e que ‘dão palanque a Bolsonaro’
O petista, segundo os relatos, afirmou que se o presidente quiser debater religião, ele vai “mostrar que é mais cristão que o Bolsonaro”
Num jantar de quase quatro horas na casa do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi cobrado sobre as declarações que deu nos últimos dias. O petista defendeu o direito de mulheres fazerem aborto, incentivou protestos contra congressistas e disse que, se eleito presidente, retiraria militares de cargos comissionados no governo.
A CNN ouviu cinco participantes do encontro e, segundo relatos, as primeiras críticas partiram do senador Omar Aziz (PSD-AM) e foram seguidas pelo colega Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Eles apelaram para Lula “maneirar nas discussões sobre a pauta de costumes”. Ambos disseram que, se seguir nesta seara, o petista acabará dando, automaticamente, “palanque” ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.
Lula, de acordo com os convidados, ouviu as cobranças dos senadores e disse que vai falar sobre o que o povo está interessado —inflação, desemprego, aumento de combustíveis—, mas afirmou que “não é homem de fugir de debate”. O petista, segundo os relatos, afirmou que se o presidente quiser debater religião, ele vai “mostrar que é mais cristão que o Bolsonaro”. “Fui coroinha”, brincou Lula, de acordo com senadores ouvidos pela CNN.
O petista também citou episódios que, segundo ele, não seriam práticas cristãs. Lula lembrou o fato de o deputado Eduardo Bolsonaro ter ironizado a morte de seu neto, em 2019, e que o próprio presidente Bolsonaro lançou o filho Carlos Bolsonaro na política para concorrer contra a mãe, Rogéria, a uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com participantes do jantar, Lula também disse que “não vai fugir do debate sobre corrupção” com Bolsonaro. Estrategistas da campanha à reeleição do presidente entendem que a corrupção deve ser o foco dos ataques de Bolsonaro ao petista durante a corrida eleitoral.
Lula voltou a dizer ainda que a disputa pelo Palácio do Planalto neste ano “não é uma luta entre a esquerda e a direita, mas sim entre os que defendem a democracia e os que pregam o retrocesso do país”. De acordo com senadores que estiveram no jantar, o ex-presidente afirmou que, neste momento, a luta é “para manter o país que a Constituinte de 1988 nos deu”.
Terceira Via
No momento em que a senadora Simone Tebet (MDB) trabalha para se consolidar como a candidata à Presidência da República da chamada terceira via, os caciques do MDB também fizeram questão de dizer a Lula que o “MDB não pode brincar de ter candidato” ao Palácio do Planalto.
Os senadores do MDB afirmaram que o partido só vai definir em agosto, durante a convenção partidária, qual será a posição a ser adotada. “A convenção é soberana”, afirmou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) à CNN.
A avaliação da ala do MDB que esteve no jantar —participaram 5 dos atuais 13 senadores— é a de que a candidatura de Tebet ao Palácio do Planalto só pode ser oficializada se, até a data limite estabelecida pela Justiça Eleitoral, a senadora conseguir mostrar real viabilidade eleitoral.
Esse grupo tem dito que o partido não pode repetir o roteiro de 2018, quando lançou a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência da República — o chefe da Economia de Michel Temer terminou em sétimo lugar, com apenas 1,2% dos votos.
Debate
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.