Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Mari Palma
    Blog

    Mari Palma

    Sou jornalista, com pós em moda, neurociência e comportamento. Também sou embaixadora da Marvel, fã de Friends e Beatles, 4 vezes tia e mãe de cachorro

    41 mil e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 106 páginas de cartas: e se você tivesse um stalker?

    Nova série da Netflix, “Bebê Rena" conta a história real de uma mulher que passou 4 anos perseguindo um homem em Londres

    Já parou pra pensar em como você agiria caso tivesse alguém atrás de você o tempo inteiro? Te mandando mensagens sem parar? Aparecendo todo dia no seu trabalho? Em frente à sua casa? E mais: importunando também sua família e amigos? Essa é a mais nova discussão na internet depois do sucesso da nova série da Netflix Bebê Rena.

    Conta a história de um garçom de Londres que tem o sonho de ser comediante. Enquanto isso não acontece, ele continua ali, trabalhando todos os dias atrás do balcão. Em um desses dias, uma nova cliente aparece – uma mulher aparentemente solitária e triste. Ele resolve, então, conversar com ela e oferecer um chá por conta da casa. A partir desse dia, ela fica obcecada por ele, se torna uma stalker e transforma a vida dele num caos.

    Parece roteiro de cinema, né? Mas o que mais me impressionou é que é um roteiro inspirado em uma história real que – ATENÇÃO – aconteceu com o próprio ator da série. Ele resolveu levar essa experiência traumática pra Netflix e reviver tudo isso em uma atuação impressionante.

    Foram 4 anos de perseguição e, como diz o título desse texto: 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 106 páginas de cartas, 744 tweets e 46 mensagens no Facebook. “Ah, e um copo de chá”, como lembra o ator em um vídeo de bastidores da Netflix. Um gesto gentil que desencadeou uma obsessão sufocante.

    Outro ponto que me chamou a atenção na história é que ela não tá dividida entre o bem e o mal. Sim, existe um crime. Mas existem infinitas questões envolvendo as pessoas nele. De um lado, uma mulher vulnerável e sozinha. Do outro, um homem machucado de maneiras inimagináveis. Os dois, aparentemente, nunca receberam atenção e acabaram criando uma relação complexa cheia de camadas e questionamentos. Tudo isso mostra um lado diferente do stalking, como o próprio ator diz, “o lado que não é necessariamente preto e branco”.

    Ele deixou claro que não queria mostrar seu personagem só como vítima: “Acho que a arte é bastante interessante quando você não sabe de quem está do lado. Eu queria que [a série] fosse em camadas e capturasse a experiência humana. A experiência humana é que as pessoas são boas, mas também têm algumas coisas ruins e cometem erros.”

    Além de trazer essa visão mais completa e complexa dos personagens, a série é importante pra fazer a gente pensar sobre o “stalking” além da brincadeira na internet. Sim, a gente gosta de fuçar na vida das pessoas de vez em quando, mas não dá pra esquecer que tem casos muito mais graves por aí. Casos que podem, inclusive, furar a bolha online e acontecer do lado de cá, na vida real. A prática de stalking virou crime em 2021 e se tem algo que a série pode ensinar, é a importância de reunir provas e denunciar.