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    Mundo pode estar à beira de uma nova era inflacionária, diz chefe do BIS

    Segundo o porta-voz, a guerra na Ucrânia e a pandemia são fatores que contribuem para a persistência dos preços altos

    Aline Bronzati, do Estadão Conteúdo

    O gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês, instituição conhecida como o ‘banco central dos bancos centrais’), Agustín Carstens, afirmou que o mundo pode estar à beira de uma “nova era inflacionária”.

    As pressões que têm jogado os índices de preços para cima devem persistir por mais algum tempo em meio aos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia e afetam, segundo ele, não só as economias desenvolvidas mas também os países emergentes, onde os preços estão no maior patamar em mais de duas décadas.

    “Depois de mais de uma década lutando para atingir a meta de inflação, os bancos centrais agora enfrentam o problema oposto. A mudança no ambiente inflacionário foi notável”, disse Carstens, ao ministrar a palestra “O retorno da inflação”, no Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários, em Genebra, na Suíça.

    Segundo ele, novos fatores estão surgindo e pressionam para cima a inflação. Ele citou impactos advindos da guerra, que têm se refletido nos mercados de energia, alimentos e muitas outras commodities e também dos mercados de trabalho, com as pessoas procurando compensar as reduções reais de salários corroídos pelo aumento de preços nas economias.

    Não bastasse isso, fatores estruturais que mantiveram a inflação baixa nas últimas décadas podem diminuir à medida que a globalização se reduz, explicou.

    A maior atenção em relação à inflação elevada, segundo ele, é para as economias desenvolvidas como, por exemplo, os Estados Unidos.

    Segundo Carstens, quase 60% desses países estão com inflação anual acima dos 5%, um aumento de mais de 3 pontos porcentuais em comparação com as metas típicas para o indicador. “É a maior desde o fim da década de 1980”, disse.

    As economias emergentes também têm visto o aumento dos preços, de acordo com o porta-voz do BIS. Na maioria desses países, a inflação está acima dos 7%. “Além de um curto período em torno da Grande Crise Financeira, refletindo fatores muito específicos e de curta duração, esta é a maior inflação em mais de duas décadas”, afirmou ele.

    O que explica a inflação alta

    Ex-presidente do Banco Central do México, Carstens disse que o aumento da inflação resulta da confluência de três fatores: um mercado surpreendentemente forte em termos de demanda agregada, com as economias se expandindo mais rapidamente da pandemia do que em outras crises; demanda forte em bens e serviços e, por último, uma oferta que não consegue acompanhar o aumento da demanda.

    “A economia mundial está em uma situação diferente da vista três anos atrás por causa da pandemia, da extraordinária resposta fiscal, monetária e regulatória a ela e da guerra na Ucrânia”, resumiu o porta-voz do BIS.

    Segundo ele, o risco de um ambiente inflacionário persistente traz implicações para a atuação dos bancos centrais e suas políticas monetárias e fiscais.

    As autoridades poderão, contudo, ter de rever como agem em relação ao aumento de preços causado do lado da evolução da oferta.

    “A boa notícia é que os bancos centrais estão atentos aos riscos (da inflação)”, afirmou, acrescentando: “Ninguém quer repetir os anos de 1970”.

    Carstens disse que “parece claro” que os juros precisam subir para níveis mais apropriados para o ambiente de inflação mais alta. As taxas, conforme ele, terão de ficar acima dos “patamares neutros”, quando é possível combater os preços elevados sem diminuir a atividade.

    “O ajuste às taxas de juros mais altas não será fácil”, avaliou o porta-voz do BIS, mencionando que famílias, empresas, mercados financeiros e governos se acostumaram demais a baixas taxas de juros e condições financeiras acomodatícias, refletidas também em “níveis historicamente elevados” da dívida privada e pública. “Será um desafio arquitetar uma transição para níveis mais normais e, no processo, definir expectativas realistas sobre o que a política monetária pode oferecer”.

    Carstens disse que a chave para o crescimento sustentável das economias não passa por uma política fiscal ou monetária expansionista.

    Para ele, deve-se fortalecer a capacidade produtiva dos países. “De fato, isso está bem atrasado. Os bancos centrais fizeram mais do que sua parte na última década. Agora, é a hora de outras políticas tomarem o bastão”, concluiu.

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