Argentinos vão às ruas contra congelamento de orçamento de universidades públicas
Milhares de pessoas devem se reunir em Buenos Aires; porta-voz diz que governo fez ajustes que considerava “convenientes”
Uma grande manifestação em defesa das universidades públicas foi convocada para esta terça-feira (23), em diferentes cidades da Argentina.
A expectativa é que, na capital Buenos Aires, o protesto conte com a participação de milhares de pessoas, saindo de diferentes pontos da capital e terminando diante da Casa Rosada, palácio presidencial argentino.
A manifestação é contra o congelamento do orçamento de universidades públicas para 2024, apesar da inflação anual de 287,9% registrada em março.
Integrantes de universidades nacionais de todo o país, federações docentes, sindicalistas e até alunos e professores de algumas instituições particulares participarão da mobilização.
O porta-voz do governo Manuel Adorni afirma que a atual administração fez ajustes que considerava “convenientes” no orçamento, questionando a falta de protestos no ano passado, quando também houve congelamentos de orçamento.
Segundo a administração federal, na segunda-feira (22) foi efetuado o pagamento referente ao aumento de 70% dos orçamentos de funcionamento de universidades, além de uma destinação extraordinária de mais de 14 milhões de pesos para hospitais universitários.
“Este governo defende a educação pública, ao mesmo tempo que reitera o direito do povo argentino de conhecer o destino e a execução de todo o pagamento destinado”, afirmou na segunda o Ministério do Capital Humano, em comunicado.
No texto, a pasta também informou que o governo Milei está realizando auditoria e fiscalização de todos os gastos aprovados.
Mas, de acordo com Emiliano Yacobitti, vice-reitor da Universidade de Buenos Aires (UBA), os funcionários de universidades públicas tiveram perda do poder aquisitivo de 35% nos últimos três meses.
Além disso, os dois aumentos não retroativos de 70% prometidos pelo governo representam, agora, um corte de 31% de orçamento de funcionamento quando considerado o atual contexto inflacionário.
“Há um problema ideológico por parte do governo com as universidades, que hoje são das poucas coisas que as pessoas percebem que, pelo que pagam de impostos, recebem um serviço de qualidade”, pontuou o vice-reitor, também nesta segunda, ao canal Todo Noticias.
Sem luz e elevadores
No dia 10 de abril, o Conselho Superior da UBA declarou “emergência orçamentária” devido ao “risco que as atividades no curto prazo correm” devido ao congelamento dos valores destinados à instituição neste ano.
Segundo a instituição, houve redução de 26% do orçamento da instituição em termos nominais e de 80% em termos reais para funções universitárias, de pesquisa e hospitais universitários, diante do crescimento de gastos no ritmo da inflação.
As contas de energia elétrica, por exemplo, aumentaram 577% desde abril do ano passado. “O aumento chega a 324% somente nos últimos dois meses”, destaca instituição sobre o gasto com energia elétrica.
Entre as medidas para enfrentar a situação, a UBA determinou:
- Não utilização de ar condicionado;
- Não acender luzes em salas, escritórios e espaços de circulação iluminados naturalmente até 30 minutos antes da atividade acadêmica;
- Uso de elevadores só para pessoas com mobilidade reduzida ou em caso de emergência — mesmo em edifícios com quase 20 andares; e
- Não utilização de aquecimento a gás na universidade.
Com essas regras, aulas públicas foram realizadas em praças ou no hall das faculdades.
A universidade também lançou uma campanha nas redes sociais para informar sobre a importância da formação de profissionais de diferentes áreas na instituição.
“A UBA é parte da história, da sua história (…) Cuidemos do que funciona”, diz a instituição em um vídeo.