Preço dos combustíveis: mercado teme solução no Tesouro, não na Petrobras
Escolha pelo economista Adriano Pires foi bem aceita pelo mercado, pois não apresenta ameaça à política de preços da Petrobras.; risco está na solução defendida pelo novo CEO: dinheiro público para subsídios
Desde o anúncio da demissão do general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras, bancos nacionais, estrangeiros e consultorias têm divulgado análises sobre impactos na gestão da companhia com a mudança do comando.
A escolha do governo pelo economista Adriano Pires foi bem aceita porque não apresenta ameaça à política de preços da Petrobras. O risco está exatamente na solução defendida pelo novo CEO: dinheiro público para subsídios.
De olho nas contas públicas e nas medidas que governo vêm adotando para estimular a economia, muitos economistas sabem que não há espaço no orçamento federal para acomodar uma política de subsídios. A ideia tem a desaprovação enfática do ministro Paulo Guedes, que aproveita o aumento na arrecadação para reduzir impostos, não para aumentar gastos.
“Este ano está sobrando dinheiro, inclusive por causa da alta no preço das commodities. Mas essa arrecadação vai voltar ao normal e isso vai murchar. Agora tem espaço, o presidente Bolsonaro quer se reeleger, mas o problema fiscal para 2023 será muito pior do que o estimado até agora. Se vão conseguir fazer, não dá para ter certeza porque Paulo Guedes nunca quis. A pressão é para gastar”, disse à CNN Brasil Tomás Awad, sócio-fundador da gestora 3R Investimentos.
A criação de um fundo estabilizador para os preços também é defendida por Pires. Previsto no projeto aprovado no Senado que está paralisado na Câmara, o fundo também dependeria de recursos do Tesouro, indiretamente. A fonte apontada pelo projeto são os royalties e dividendos pagos pela Petrobras ao governo federal. O problema é que estes recursos têm ajudado a cobrir o déficit das contas públicas há mais de cinco anos.
Horas antes da confirmação, Adriano Pires escreveu numa rede social um texto que chamou atenção de muitos analistas. Ele afirmou que o risco de intervenção na
Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões.“A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o Conselho de Administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas. Segundo, se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula”, disse na publicação.
No jargão do mercado, a declaração de Adriano Pires horas antes de ser confirmado como novo CEO da Petrobras é chamada de “hedge”. A palavra em inglês significa “proteção” para as operações com ativos financeiros. A conclusão de analistas ouvidos pela coluna é de que Pires se protege, de antemão, da acusação de fazer o papel de porta de entrada do governo na gestão da petrolífera.
A busca por declarações recentes de Adriano Pires em entrevistas e artigos corrobora a visão que ele tem sobre os episódios envolvendo a Petrobras. Em conversa recente com o Estadão, ele chegou a dizer que seria muito difícil encontrar alguém no mercado disposto a arriscar o próprio CPF aceitando segurar os preços na estatal.
“Eu acho muito difícil encontrar alguém que vá para a Petrobras para segurar preço”. Segundo a reportagem, Pires disse que “se alguém for para Petrobras e segurar preço de combustível está colocando o seu CPF na mesa”, disse ao jornal.
Ao apontar o dedo para o Ministério da Economia, Adriano Pires chega à Petrobras com a missão de aliviar a comunicação da companhia com a sociedade, mas não deixando dúvidas de que a solução que o presidente Bolsonaro quer não está na empresa e sim sob a responsabilidade de Paulo Guedes.