Zelensky diz que encontro entre Lula e Putin seria “um grande erro”
Em resposta à CNN, líder ucraniano criticou possível visita do presidente brasileiro à Rússia para a Cúpula dos Brics e o convidou para participar da Cúpula da Paz, na Suíça, em junho
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta quinta-feira (18) que seria “um grande erro” o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrar pessoalmente com o líder russo Vladimir Putin durante a realização da cúpula dos Brics, que vai acontecer em Kazan, na Rússia, em outubro.
“É decisão dele reunir-se com Putin ou não. Mas isso seria um grande erro porque nós temos que isolar Putin politicamente. Ele precisa sentir que cometeu erros históricos ao atacar a Ucrânia e iniciar a guerra. E quando um líder se reúne com ele, dá legitimidade (a Putin). Acho que isso é um grande erro”, disse.
A afirmação de Zelensky foi uma resposta a uma pergunta da CNN sobre como ele via a possível viagem de Lula para a cúpula dos Brics, depois de o líder brasileiro não ter atendido diversos convites para visitar a Ucrânia e conhecer a realidade da guerra.
O presidente ucraniano aproveitou a deixa para fazer um convite público para Lula participar, pessoalmente, da chamada Cúpula da Paz, na Suíça, nos dias 15 e 16 de junho.
Dezenas de presidentes estão sendo convidados para participar do encontro, promovido pela Ucrânia e seus aliados, para discutir fórmulas para a paz e o fim da guerra no leste europeu.
“Espero que ele venha em junho, para se encontrar comigo e com o presidente da Suíça, na cúpula. Esse é o lugar onde teremos a possibilidade de conversar”, afirmou.
Mas Zelensky também disse que gostaria de ver o presidente brasileiro na Ucrânia.
“Ficarei feliz em vê-lo na Ucrânia. Vou convidá-lo para vir. Mas serei inteligente e o convidarei para a Cúpula da Paz antes dos Brics. Primeiro ele se encontraria conosco”, disse Zelensky.
Procurado pela CNN, o Itamaraty informou que qualquer convite para a participação do presidente Lula na Cúpula da Paz será considerado, como sempre acontece com pedidos similares.
O ministério também afirmou que ainda não foi definido se o presidente irá a Kazan para a Cúpula dos Brics, mas lembra que todos os presidentes brasileiros costumam participar do evento, já que o país é um dos membros fundadores do grupo.
A entrevista de Zelensky foi concedida a um pequeno grupo de jornalistas brasileiros no palácio presidencial, no centro de Kiev.
“Beco sem saída” na relação com o Brasil
O líder ucraniano afirmou, no entanto, que as relações com o presidente Lula melhoraram muito desde que os dois se encontraram em setembro do ano passado, durante a Assembleia Geral da ONU.
Ele disse que a reunião foi importante para ele entender melhor a posição do Brasil com relação à guerra, mas tem dúvidas se o encontro foi suficiente para levar Brasília a adotar uma posição mais crítica com relação à Rússia.
De qualquer forma, ele diz que a reunião foi importante para reverter o estado anterior das relações entre os dois países, que ele definiu como um “beco sem saída” –quando o presidente Lula chegou a afirmar que a Ucrânia, mesmo invadida pelos russos, também era responsável pela guerra.
Zelensky afirmou ainda que o Brasil está cometendo “um erro estratégico” ao se manter próximo da Rússia, porque teria muito mais possibilidades de melhorar as relações geopolíticas e comerciais com os grandes parceiros ocidentais.
Ele citou como exemplo a União Europeia, afirmando que seu país um dia fará parte do grupo e terá um grande peso nas suas decisões estratégicas.
A CNN apurou que os dois lados avaliam, de fato, que as relações melhoraram, mas que ainda é preciso acertar muitas coisas para o diálogo fluir mais.
Os ucranianos, inclusive o presidente Zelensky, reconhecem que o país cometeu erros na relação com Brasília e passaram a tentar adotar um tom mais conciliador.
Fontes do governo brasileiro, no entanto, acreditam que esse esforço acaba sendo prejudicado justamente por declarações como a do líder ucraniano sobre a presença de Lula na cúpula dos Brics.
“Querem melhorar a relação, mas também querem pautar a agenda internacional do Presidente da República”, foi como uma fonte definiu a declaração de Zelensky.
Analista viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido.