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    Não sou contra ministros receberem pastores, diz líder da bancada evangélica

    Sóstenes Cavalcante afirma que o presidente Jair Bolsonaro não tem relação com o caso, e que sua menção no áudio é algo inerente à política

    Rafaela LaraDouglas Portoda CNN em São Paulo

    Deputados da Frente Parlamentar Evangélica se pronunciaram, nesta quarta-feira (23), sobre o áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, revelado pelo jornal Folha de S. Paulo. Para o líder da bancada na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), não há problema em ministros receberem pastores, padres ou bispos, mas faltam esclarecimentos sobre a fala de líderes religiosos com prefeitos.

    “Não sou contra e não vejo problema nenhum que ministros recebam pastores, padres, bispos, dez, vinte, quarenta ou cinquenta vezes. Não vejo problema. Até porque, em governos anteriores, quem era recebido eram os presidentes de sindicatos, os comunistas, entre outros”, afirmou Sóstenes.

    De acordo com o analista de política na CNN Caio Junqueira, os parlamentares que integram a bancada evangélica não se satisfizeram com a nota divulgada pelo ministro. A avaliação deles é que a nota de Ribeiro não foi suficiente para explicar o áudio atribuído ao ministro e publicado pelo jornal.

    “Agora, entendo e acho que também falta esclarecer, por que e em que circunstâncias se dá pastores comunicando com prefeitos, foi uma das coisas que pessoalmente falei com o ministro e acho que ele deve esclarecer mais fatos, e porque isso se deu, de que forma, por que causa. Logicamente, que é da função de parlamentares, que pastores podem ser recebidos, podem fazer uma interlocução ou outra, mas não com a rotina que foi feita”, continuou Sóstenes.

    Diante da crise política gerada, Ribeiro foi orientado a sair de cena, segundo relatos feitos à CNN.

    Na manhã da última terça-feira (22), Sóstenes, entrou em contato com Ribeiro e orientou o ministro a esclarecer a declaração atribuída a ele, segundo fontes ouvidas pelo analista de política da CNN Gustavo Uribe.

    Em nota, Ribeiro negou ter favorecido pastores na distribuição de verbas da pasta. Na conversa gravada, o ministro da Educação diz que atendeu a um “pedido especial” do presidente Jair Bolsonaro (PL).

    “Diferentemente do que foi veiculado, a alocação de recursos federais ocorre seguindo a legislação orçamentária, bem como os critérios técnicos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE). Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”, diz trecho da nota.

    O ministro diz ainda que o presidente “não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem”.

    Para Sóstenes, a menção de Bolsonaro nos áudios é algo inerente à política, e o presidente não tem relação com caso.

    “Eu entendo que a menção do presidente Bolsonaro, eu já estive em duas ou três audiências como o ministro Milton, é uma prática dele, é uma prática da política fazer uma referência a autoridades superiores para valorizar, inclusive, a autoridade máxima do governo”, alegou o líder da bancada evangélica.

    Entenda o caso

    Em áudios obtidos pelo jornal “Folha de S.Paulo”, Ribeiro afirma que recebeu um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que a liberação de verbas da pasta seja direcionada para prefeituras específicas a partir da negociação feita por dois pastores evangélicos que não possuem cargos no governo federal.

    Na gravação, Ribeiro diz que se trata de “um pedido especial do presidente da República”.

    “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o ministro na conversa com prefeitos e outros dois pastores, segundo o jornal.

    Ribeiro continua: “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar.”

    Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são os citados nos áudios. Segundo o jornal, os dois religiosos têm negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras em creches, escolas e compra de equipamentos de tecnologia.

    Na conversa vazada, o ministro de Bolsonaro indica que, com a liberação de recursos, pode haver uma contrapartida.

    “O apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção de igrejas”. Nos áudios, não fica claro a forma como esse apoio se daria.

    No ano passado, para poupar as emendas parlamentares de um corte maior, o governo promoveu um bloqueio de R$ 9,2 bilhões de despesas de ministérios e estatais que atinge principalmente a Educação.

    A pasta da Educação teve o congelamento de R$ 2,7 bilhões, segundo informações da analista de política da CNN Basília Rodrigues.

    PGR vai pedir abertura de inquérito sobre Milton Ribeiro

    O procurador-geral da República, Augusto Aras, deverá pedir ainda nesta quarta-feira, ao Supremo Tribunal Federal (STF), a abertura de uma investigação sobre Milton Ribeiro.

    Segundo fontes da PGR, a decisão já foi tomada e o pedido está sendo redigido.

    Ação da minoria da Câmara contra Ribeiro e Bolsonaro no STF

    A ministra Cármen Lúcia, do STF, será a relatora da notícia-crime apresentada na terça-feira pelo líder da minoria na Câmara, deputado Alencar Santana Braga (PT-SP), contra Ribeiro e Bolsonaro.

    O petista afirmou, no pedido de investigação, que Ribeiro “está se utilizando do cargo de Ministro da Educação para direcionar a atuação da pasta, com o evidente fito de contemplar pastores aliados que criaram um gabinete paralelo no ministério”.

    “Não é de hoje que o governo federal foi transformado num espaço que não há debate do interesse público. O que ocorre é a partilha do orçamento e das ações governamentais entre os amigos do Presidente da República e de seus apoiadores”, proclama Braga.