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    Petróleo vira fator chave para BC definir juros

    O que despertou atenção de muitos analistas ouvidos pela CNN Brasil foi a relevância que o “cenário alternativo” ganhou diante do “cenário de referência” na estratégia do BC comandado por Roberto Campos Neto

    Thais Herédiada CNN

    A decisão de subir os juros para 11,75% ao ano não foi a única novidade do Banco Central nesta quarta-feira (16).  A primeira foi a demora na divulgação da nova taxa e do comunicado, que saiu depois das 19h.

    A segunda, a adoção de um “cenário alternativo” para inflação, indicando o petróleo como fator chave para as próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom). A alternativa apresentada pelo BC considera a curva futura dos preços do mercado internacional do petróleo até o fim do ano, fechando em US$ 100 o barril.

    A partir de 2023, o petróleo passaria a subir 2% ao ano. Acreditando que este roteiro é realista, as previsões do Comitê para o IPCA ficam em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023, segundo o comunicado divulgado ao final do encontro.

    O BC está propondo um cenário em que, se o petróleo ficar abaixo dos US$ 100 este ano, a Selic em 12,75% poderá ser suficiente para assegurar a inflação em 2023 na meta de 3,25%. Como os diretores avisaram que a taxa vai ganhar mais 1 ponto percentual na próxima reunião, o ciclo de aperto monetário teria fim em maio.

    O que despertou atenção de muitos analistas ouvidos pela CNN Brasil foi a relevância que o “cenário alternativo” ganhou diante do “cenário de referência” na estratégia do BC comandado por Roberto Campos Neto.

    Até este encontro, o modelo de decisões do Comitê considerava as premissas do “cenário de referência”, baseado nas estimativas do relatório Focus. Olhando para esta conta, o IPCA do ano que vem ficaria em 3,4%, com risco de alta pelas incertezas fiscais do Brasil, e aquelas relacionadas ao quadro externo, agravado pela guerra na Ucrânia e com petróleo mais caro. Neste contexto, os juros provavelmente teriam que subir para além dos 12,75% – dose recomendada por muitos economistas diante da pressão inflacionária que só aumenta.

    Ao apresentar e escolher o “cenário alternativo” como o mais provável, Campos Neto e os diretores que votam no Copom assumem uma aposta de que o preço do petróleo vai se acomodar no patamar dos US$ 100, quiçá abaixo disso, e vai permitir o cumprimento da meta de inflação de 2023. Este é um objetivo louvável e desejável depois de dois anos seguidos de rompimento do limite para o IPCA – mesmo que explicável.

    Um dos executivos ouvidos pela CNN Brasil lembrou um bordão repetido por um ex-presidente do BC que dizia: “A vantagem de estar no Banco Central é que você não precisa fazer cenário”, opção inviável para os economistas que são obrigados a assumir o risco de errar. E eles têm errado muito, justificados pela pandemia e agora pela guerra que adicionam grau de incerteza e ineditismo sem precedentes.

    O gestor relembra uma lista de “cenários alternativos” que foram adotados pelo BC desde 2020, mesmo que sem uma apresentação formal como agora. Roberto Campos Neto foi muito questionado quando insistiu que o país ficaria com juros em 2% por muito tempo, depois porque não desistia do diagnóstico de inflação temporária diante de tantos gargalos e da difusão de alta dos preços.

    A escolha pela trajetória do petróleo como parâmetro relevante não evitou que os diretores do Copom deixassem as portas abertas para acomodar o ritmo da “atividade econômica, o balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”. O momento, segundo eles, exige serenidade para avaliar a extensão e a duração dos choques.

    Muitos analistas mantiveram expectativa de que o aperto nos juros não devem parar em maio, mesmo que o ritmo seja reduzido. A Selic pode passar dos 13% e ficar em dois dígitos por muito mais tempo para assegurar a saída do processo inflacionário atual.

    O ex-presidente do BC, Ilan Goldfajn, oferecia uma receita pouco usual na comunicação da autoridade monetária. “Decisões tomadas pelos princípios da cautela, serenidade e perseverança são um bom guia para a política monetária”.  Resta saber se a receita ainda teria eficácia depois da pandemia, diante de uma guerra e a meses de uma eleição que pode desencarrilhar as contas públicas do país.

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