Guerra deve trazer impacto modesto à energia elétrica, diz Instituto Acende Brasil
Apesar da flutuação do preço do gás natural internacionalmente, uso e custo das termelétricas caem no país
Se o aumento nos combustíveis já aterroriza as finanças dos brasileiros, outro “vilão” da inflação no ano passado não deve sofrer os efeitos da guerra na Ucrânia e tem uma queda de preço prevista a partir de maio: a energia elétrica. Essa é a avaliação do Instituto Acende Brasil, centro de estudos do setor elétrico.
O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, acredita que a recuperação das hidrelétricas vai ajudar a segurar o preço da conta de luz.
“O Brasil, diferente de outros países da Europa, tem uma matriz preponderantemente renovável. Cerca de 80% do que consumimos vêm de fontes renováveis, com destaque para as usinas hidrelétricas”, explicou.
Em 2021, a falta de chuvas levou o país à maior crise hídrica dos últimos 90 anos. Com os reservatórios das hidrelétricas em níveis críticos, os gastos com os acionamentos das termelétricas e importação de países vizinhos subiram 572%, passando de R$ 3,7 bilhões, em 2020, para R$ 24,9 bilhões no ano passado, segundo dados do Ministério de Minas e Energia.
Já este ano, a pasta informou à CNN que a expectativa é de “menores montantes de geração termelétrica despachados quando comparados ao ano anterior, tendo em vista a gradativa recuperação dos reservatórios.”
Com exceção do Sul, que enfrenta uma estiagem, as demais regiões do Brasil tiveram crescimento no nível dos reservatórios.
No subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que produz 70% da energia do país, a capacidade, no ano passado, chegou a 20%, subindo para mais de 60% atualmente. E a recuperação vem em um bom momento, já que a guerra na Ucrânia impacta o preço do gás natural, um dos insumos das termelétricas.
A Rússia, responsável por 40% do gás natural da Europa, ameaça cortar o fornecimento para o continente, o que afetaria os serviços de energia elétrica e aquecimento, além da produção industrial.
Aqui no Brasil, a Petrobras confirmou que projeta uma forte alta no Gás Natural Liquefeito (GNL) por conta do conflito e informou que vem acompanhando diariamente o mercado internacional. Quase 40% da demanda da empresa é usada para o mercado térmico.
Segundo a estatal, 50% do gás utilizado no Brasil tem origem nacional, 23% vêm de importações da Bolívia e 27% de outros países, como Estados Unidos e Catar. No ano passado, a Petrobras bateu recorde de importação de GNL.
A avaliação do presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, é que a guerra na Ucrânia deve ter um impacto modesto nas contas de luz do país.
“O custo de geração como um todo é de 30% e o gás natural tem uma parcela de aproximadamente 8% da matriz. Mesmo que o gás natural tenha um aumento, ele é proporcional sobre esses 8% que vão custar mais caro”, disse à CNN.
Necessidade de termelétricas cai no Brasil
A demanda por energia produzida pelas usinas termelétricas do país é de cerca de 8.000 MW médios neste mês de março. Já em setembro do ano passado, durante a crise hídrica, o despacho chegou a 20.000 MW, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O preço pago também vem caindo. Em reunião realizada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) no dia 2 de fevereiro deste ano, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, informou que o Custo Variável Unitário das termelétricas chegou a ser superior a R$ 2.000/MWh. No dia 24 de fevereiro deste ano, o CMSE limitou o custo a R$ 375,66/MWh.
Apesar de acreditar que a flutuação no preço do gás vai impactar mais diretamente o Gás Natural Veicular (GNV) e o gás encanado que abastece residências, o coordenador do Grupo de Energia e Regulação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luciano Losekann, defende que é o momento de economizar no acionamento das termelétricas.
Ele destaca que o preço do gás natural já vinha em alta no ano passado, por conta da retomada econômica durante a pandemia de Covid-19, e agora o mercado internacional sofre com o conflito do Leste Europeu.
Já o professor de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alexandre Sklo se mostra mais preocupado com o impacto na economia brasileira, inclusive nos efeitos na energia elétrica por conta do início do período mais seco do ano.
O pesquisador explica que a Europa está saindo do inverno e precisou usar seus estoques de gás natural. Portanto, entra no período de reposição em meio à guerra na Ucrânia.
Segundo Szklo, se a Rússia cortar o gás europeu, o preço deve subir devido à disputa pelo produto, o que pode influenciar nos preços de contratos da Petrobras, por exemplo.