Tragédia em Petrópolis completa um mês e mais de 600 seguem desabrigados
Ao todo, 233 pessoas morreram e quatro seguem desaparecidas; cidade foi atingida pela chuva mais forte desde 1932, quando começaram as medições
A tragédia que resultou na morte de 233 pessoas em Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro, completa um mês nesta terça-feira (15). A chuva causou uma série de deslizamentos e enchentes em vários pontos do município. Trinta dias depois, quatro pessoas ainda seguem desaparecidas e o número de desabrigados chega a 685.
Esta foi a pior chuva registrada em Petrópolis desde 1932, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) começou a fazer medições. O total de chuva em três horas chegou a 258,6 milímetros. Em 24 horas, foram 259,8 mm.
Em outros tempos, Petrópolis estaria se preparando para celebrar 179 anos na próxima quarta-feira (16). Hoje, no entanto, o clima não é de comemoração e, sim, de recuperação da rotina da cidade após a catástrofe.
Nesta segunda-feira (14), foi instalada uma Comissão Temporária Externa de Petrópolis no Senado Federal. No dia do aniversário da cidade, os parlamentares irão fazer uma visita, com sobrevoo, para averiguar as necessidades do município. Eles também querem saber sobre terrenos aptos para construção habitacional em Petrópolis para a população desabrigada.
A comissão terá 30 dias para apresentar um relatório que aponte as eventuais causas do desastre e propor políticas públicas de prevenção.
Buscas por desaparecidos continuam
Desde o dia da tragédia, o Corpo de Bombeiros atua com equipes para encontrar pessoas desaparecidas. Atualmente, são cerca de 60 militares por dia nas buscas em dois pontos: o Morro da Oficina, que foi um dos locais mais críticos, e os rios Piabanha, Quitandinha e Palatinato.
Entre as estratégias para encontrar vítimas, foram utilizados cães farejadores, drones e escavadeiras. Foram 24 resgates, além de 300 animais retirados dos escombros com vida.
Além dos bombeiros, muitos moradores se mobilizaram para encontrar as quatro pessoas que seguem desaparecidas. Três são vítimas que estavam nos ônibus que ficaram submersos. Em imagens obtidas pela CNN, é possível ver os passageiros subindo no teto do veículo e alguns sendo arrastados pela correnteza.
Uma dessas pessoas, é o pequeno Pedro Henrique, de 8 anos. Ele estava com a mãe voltando da escola no dia da tragédia. Rafaela Braga conseguiu sair do ônibus e puxou o menino, mas a correnteza a levou para longe do veículo. Ela foi resgatada, mas o filho ainda não foi encontrado.
“Na hora que o ônibus que tombou eu consegui salvar meu filho, botar meu filho em cima de outro ônibus, mas eu não consegui ficar firme. Eu fui arrastada pela correnteza e consegui me agarrar num galho que tinha bem mais para frente. Depois, os moradores do prédio jogaram uma corda para socorrer eu e mais dois. E o meu filho está desaparecido. Eu não consegui achá-lo”.
O grupo de busca com cerca de 20 pessoas foi criado por Leandro Rocha, pai do Gabriel, de 17 anos, que estava nesse mesmo ônibus e ficou desaparecido. Todos são moradores da cidade e estavam ajudando os pais do estudante na procura. Mesmo após o corpo de Gabriel ter sido encontrado, no último dia 24, o grupo continuou na busca pelas outras vítimas que estavam no coletivo.
“Nosso foco agora é encontrar os três. Não vamos desistir, vamos achá-los. Pelo menos um enterro digno a família merece. A gente sabe a dor que é”, afirmou Luciana Ferreira, mãe de Gabriel.
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Veículos arrastados pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Lucas Lamela
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Funcionários trabalham para retirar lama de suas lojas na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico da cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente é visto no Rio Quintadinha, na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no Centro Histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Cidade de Petrópolis (RJ) foi atingida por fortes chuvas na noite desta terça-feira (15) • ESTADÃO CONTEÚDO
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Diversas ruas da cidade foram alagadas e veículos foram arratados pela água • Gabrielle Ravasco
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Muitos locais da cidade estão cobertos de água das chuvas e lama • Gabrielle Ravasco
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A força das chuvas foi o suficiente para arrastar veículos no centro de Petrópolis • Gabrielle Ravasco
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Veículos amontoados após inundações na cidade • Gabrielle Ravasco
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Dois ônibus são arrastados em Petrópolis após as fortes chuvas • Cleber Rodrigues/CNN
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Carro submerso em rio depois de fortes chuvas em Petrópolis, RJ • Ricardo Moraes/Reuters (16.fev.2022)
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Árvores caídas e carros destruídos pelas chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Junior/FotoArena/Estadão Conteúdo
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Ministério da Saúde calcula destruição de locais de atendimento à população em Petrópolis • Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Casa e carro são destruídos pelas fortes chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Júnior/FotoArena/Estadão Conteúdo (17.fev.2022)
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Trabalhos das equipes de resgate em Petrópolis (RJ) • Cleber Rodrigues/CNN (17.fev.2022)
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Desabrigados aguardam auxílio
Ainda são mais de 600 pessoas desabrigadas em Petrópolis. Muitos tiveram suas casas derrubadas pela correnteza. Outros tiveram que deixar seus lares por risco de desabamento. O benefício do Aluguel Social, do governo do Rio de Janeiro para realocar pessoas nessa situação, já foi solicitado por quase 3.000 famílias.
Porém, o pagamento de R$ 1.000 será feito no quinto dia útil do mês de abril. Desse total, o governo do Rio vai pagar R$ 800 e a prefeitura vai custear os outros R$ 200.
Comércio reabre com prejuízos
Três dias depois da tragédia, o comércio reabria as portas para calcular os prejuízos e iniciar o processo de limpeza. Uma imagem chamou atenção: uma montanha de livros descartados por conta dos estragos causados pelas águas que invadiram uma das principais livrarias da cidade. Eram mais de 15 mil exemplares descartados.
Agora, a livraria voltou a funcionar, mas o subsolo, que funcionava como estoque e escritório administrativo está em reforma. Para recuperar o caixa, a loja fez uma campanha chamada ‘Compre +1’, para que todos os clientes, além de adquirirem seu livro, levem um exemplar a mais para presentear.
Com cerca de R$ 200 milhões de prejuízos para os lojistas da cidade, o governo estadual também ofereceu linhas de crédito para autônomos, empreendedores informais, micro, pequenas e médias empresas. Os valores vão de R$ 10 mil até R$ 500 mil. Até agora, foram 16.340 financiamentos registrados.
Recuperação de Petrópolis
Para o economista especializado em Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Istvan Kasznar, a prevenção de novos desastres é o primeiro ponto para a retomada da cidade. Ele ressalta a necessidade do investimento em educação ambiental e em equipamentos que podem ajudar na evacuação das áreas de risco.
“É preciso investir, claro, em elementos que permitem rapidez para evitar que as populações que devem ser evacuadas em caso de chuvas ou percepções de grandes tormentas possam fazê-lo bem. Então, alarmes, sistemas de sirenes e outros necessitam ser colocados em todos estes lugares inclusive e sobretudo onde a gente já sabe que a população está”, explicou o especialista.
Kasznar ressaltou também que o mais importante não é fazer grandes investimentos e sim que o poder público tenha constância nessas questões e não apenas quando houver uma catástrofe.
“Tem aquela questão de investir 10% em educação, 5% em saúde, ou então inverter esses coeficientes e assim por diante. O fato é que o percentual em si, pode ser bem menos importante. É essencial que haja regularidade na alocação do recurso da construção civil para colocar e canalizar corretamente os rios, riachos, arroios, lagoas”, pontuou o economista.
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Uma das ruas mais famosas de Petrópolis, a Rua Teresa ficou tomada por lama depois da chuva • Cleber Rodrigues
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No auge, os dados locais indicam que 25% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade vinha de lá, com pelo menos 40 mil pessoas empregadas em pelo menos 1200 estabelecimentos • Pedro Duran
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A confusão das lojinhas e das sacolas de quem vai às compras para revender no Rio de Janeiro deram lugar, na manhã da quarta-feira (16), aos restos de carros, grades retorcidas e uma quantidade gigantesca de lama • Pedro Duran
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Ali e em outras partes da cidade foram encontradas, até as 21h de quarta, 94 pessoas mortas • Pedro Duran
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Antes de a lama atingir três metros de altura no local, a velha Rua Teresa empregava entre 18 e 20 mil pessoas em cerca de 600 lojas • Pedro Duran
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Nos próximos dias, no lugar do cochicho das pechinchas e das maquininhas de cartão, serão ouvidas as máquinas que tentarão recuperar o antigo caminho imperial e, provavelmente, o choro de quem contabiliza perdas • Cleber Rodrigues
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