Medo das urnas?
Fica difícil imaginar que os donos do poder votem a favor de uma proposta de voto distrital ou misto. Se foram eleitos da maneira atual nada os convencerá a mudar de sistema
Com a proximidade das eleições voltam ao cenário alguns temas básicos que dizem respeito à busca de resultados mais próximos dos verdadeiros anseios da população.
São dois temas considerados tabus pela grande maioria dos políticos brasileiros: o voto distrital ou distrital misto e o voto facultativo.
Quando se fala em aperfeiçoar o sistema eleitoral, acabam surgindo das sombras verdadeiros monstrengos, como o chamado “distritão”, cuja criação, matematicamente calculada, visava a favorecer determinados grupos, que têm como principal caraterística se manter no poder.
São pouquíssimos os países no mundo que utilizam o sistema proporcional para a eleição dos seus parlamentares. É obvio que o voto distrital favorece a Democracia.
Uma forma mais branda do distrital, o distrital misto, adotado na Alemanha, também pode contribuir para melhorar a representação no Parlamento.
O primeiro divide o país, estados e municípios em distritos, que são territórios eleitorais. Cada distrito tem seus próprios candidatos. Vence aquele que tiver mais votos em seu distrito.
Isso propicia um contato direto entre eleitor e eleitos (você se lembra em quem votou para vereador, deputado estadual ou federal nas últimas eleições?); permite que o cidadão cobre a atuação de seu representante; as campanhas ficam mais baratas, reduzindo a corrupção e encorajando novas figuras figuras da sociedade para a disputa eleitoral.
No sistema misto, parte dos parlamentares são eleitos como hoje no Brasil, pelo voto proporcional, e outra parte pelo distrital.
Evidentemente, tudo isso deve ser precedido por uma ampla democratização dos partidos, que hoje têm dono e poderiam até ser regidos pela Lei do Inquilinato.
Fica difícil imaginar que os donos do poder votem a favor de uma proposta de voto distrital ou misto. Se foram eleitos da maneira atual nada os convencerá a mudar de sistema.
Talvez a aprovação se concretize se o projeto determinar sua validade para daqui a alguns anos.
Outro temor dos políticos brasileiros é o voto facultativo. Votar deve ser um direito e nunca um dever. Fica mais fácil arregimentar votos quando o cidadão é compelido a votar.
Com o voto não obrigatório valoriza-se a cidadania. Vota quem quer, quem está interessado nos destinos de seu país. Isso obriga os candidatos a, além da conquista de votos, promover a ida do eleitor às urnas.
A obrigatoriedade do voto não combina com a Democracia. Não combina com a Liberdade.
A desculpa de que somos uma democracia jovem e que o voto deve ser obrigatório para a população exercitá-lo é uma falácia que deveria enrubescer seus defensores.
Será que nossa geração ainda verá o voto distrital ou distrital misto e o voto facultativo? Tomara!
(As opiniões emitidas pelos nossos comentaristas não refletem necessariamente a posição da CNN)