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    Cada vez mais cidadãos russos tentam deixar o país, mas sofrem com xenofobia

    Russos que são contra a guerra na Ucrânia tentam seguir para outros países da Europa, mas nem sempre são bem recebidos nos novos destinos

    Pedro Falardoda CNN , em Portugal

    A invasão russa à Ucrânia originou a maior fuga de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com estimativas da Organização Internacional para as Migrações, que faz parte da ONU, cerca de 2,5 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia, além de outros 2 milhões de indivíduos que tiveram deslocamentos internos.

    No entanto, há outra realidade de refugiados no continente europeu: há cada vez mais russos deixando o país. As pesadas sanções econômicas, a suspensão da atividade de centenas de empresas no território, bem como a forte desvalorização do rublo e a oposição ao regime de Putin e à invasão da Ucrânia contribuíram para este aumento súbito.

    No Twitter, o jornalista Pjotr Sauer documentou o aumento na Rússia de pesquisas no Google pela palavra “emigração”.

    “Um pico de pesquisa no Google para a palavra “emigração” na Rússia após a invasão”, diz o jornalista, após publicar um gráfico que mostra o aumento na busca pela palavra.

    Todas os dias, o comboio diário que faz a ligação entre São Petersburgo (Rússia) e Helsinque (Finlândia) fica totalmente preenchido por cidadãos russos. O expresso Allegro é, atualmente, a única ligação ferroviária entre a Rússia e a União Europeia, fazendo o trajeto cinco vezes por dia. Esta ligação é também importante dada a ausência de voos que liguem a Rússia ao resto da Europa.

    “Conseguimos ver, pela bagagem que levam, que as pessoas estão se mudando para outro local, saindo em definitivo da Rússia”, afirmou Topi Simola, vice-presidente da companhia ferroviária VR, à France24.

    A migração não se faz somente em direção à Finlândia. Os países bálticos também são uma opção bastante requisitada, dada a existência de grandes comunidades de russos nestes países. Quem não consegue um visto para a União Europeia procura a Geórgia, Armênia, Turquia, Azerbaidjão e Sérvia.

    Andrei, um cidadão russo que reside em Moscou, contou ao The Guardian que foi detido pelas autoridades russas quando procurava embarcar num voo para Baku.

    “Um polícia pegou meu celular e passou uma hora vendo tudo que havia nele. Felizmente eu tinha apagado todas as conversas sobre a minha oposição à guerra no Telegram e no Signal. Ele me perguntou se eu amava ‘verdadeiramente’ o meu país e o motivo de queria fugir. Foi um dos momentos mais assustadores da minha vida”, disse, tendo posteriormente sido autorizado a entrar no avião.

    Jornalistas

    Entre os que deixam a Rússia, muitos são jornalistas. Uma lei aprovada por Putin no dia 4 de março criminaliza a divulgação de “informações falsas” (como classificar a “operação militar especial” de “invasão” ou “guerra”) sobre o exército russo e a sua atividade na Ucrânia, colocando em risco o trabalho dos jornalistas e meios de comunicação independentes na Rússia.

    Muitas estações televisivas estrangeiras, como a CNN, a RAI e a CBC, também decidiram suspender as atividades no país.

    A pena de prisão para este crime pode atingir 15 anos. “Sei de pelo menos 80 jornalistas que fugiram da Rússia na última semana precisamente porque poderiam ser acusados com esta nova lei”, afirmou à NPR Masha Gesser, jornalista russo-americana da revista New Yorker.

    Gesser encontra-se na Geórgia, onde as autoridades do país estimam que já tenham entrado entre 20 mil a 25 mil russos desde o início da invasão.

    “Hoje falei com um sociólogo, um professor de ciência, um padre ortodoxo, um podcaster e um editor. Não são jornalistas. Sentiram que podiam estar em perigo porque já tinham sido detidos em protestos anteriormente. (…) mais do que isso, fogem em razão do medo de acabar do outro lado da Cortina de Ferro. Também não querem pertencer a um país invasor”, contou.

    Xenofobia

    A vida para os russos que vivem fora do país de origem também não é fácil. Em todos os países, incluindo em Portugal (onde crianças russas se queixam de ter sofrido bullying dos colegas de escola), há relatos de xenofobia e de aumento de sentimentos anti-Rússia.

    Anton Dolin, popular crítico de cinema e comediante russo que se manifestou publicamente contra a invasão, fugiu para a Letônia, onde os russos representam um quarto da população.

    “Saímos. Há mais razões, mas na verdade é só uma — a guerra criminosa na Ucrânia, iniciada pelos líderes da Rússia”, escreveu no Facebook, confessando também que está sem emprego e tem pouco dinheiro disponível.

    Contudo, o acolhimento não foi o melhor. Em um dia qualquer, quando ia sair de casa, Dolin reparou num “Z”, que já se tornou o símbolo dos russos durante a invasão, desenhado na sua porta. “O objetivo é claro, é dizer ‘sabemos onde a sua família vive, tome cuidado’”, afirmou Dolin.

    A notícia divulgada pela Reuters de que a Meta (dona do Facebook) permitirá incitamento ao ódio contra russos e ameaças de morte a Vladimir Putin no Facebook e no Instagram não contribuiu para serenar os ânimos. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse esperar que a permissão de apelos à violência nas redes sociais “não seja verdade”.

    “É difícil imaginar tal coisa. Se for verdade, têm de ser tomadas ações para encerrar as atividades da empresa”, afirmou.

     

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