“Pior que preço alto é desabastecimento”, diz especialista sobre combustíveis
País importa 30% do que é consumido de derivados de petróleo por isso, se a defasagem é muito grande, ninguém importa, explica Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura
A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) os maiores reajustes no preço da gasolina, do diesel e do gás de botijão desde o começo do atual ciclo de alta, iniciado há um ano.
O anúncio vem num momento de alta do risco de desabastecimento no mercado interno, alerta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
“A Petrobras não tinha como não aumentar, porque a defasagem de preços estava muito grande entre o mercado interno e o externo. O país importa 30% do que é consumido de derivados de petróleo. Se a defasagem é muito grande, ninguém importa”, diz. “Pior que o preço alto é desabastecimento”.
O risco real de desabastecimento de combustível já no início de abril foi o principal motivo da Petrobras para o reajuste, segundo fontes do governo informaram à CNN. O alerta inclusive foi feito em reunião de representantes da estatal com ministros do governo na terça-feira no Palácio do Planalto, que acabou sendo repassado ao presidente Jair Bolsonaro, informou o analista de política da CNN Caio Junqueira, nesta quinta.
A empresa estava há quase 60 dias sem mexer nos preços, apesar do rali dos preços do petróleo em decorrência da tensão no Leste Europeu.
“Agora, se o governo não queria que a Petrobras anunciasse um aumento tão elevado, teria que adotar política que chegou a ser discutida, que é um plano de emergência parecido com o que o governo Temer fez na greve dos caminhoneiros de 2018, um pedido de crédito extraordinário por meio de Medida Provisória, com duração de 3 a 6 meses, dependendo do desenrolar da guerra”, diz.
Em vez disso, a estratégia do governo passa pela crianção de um fundo para estabilizar os preços, mudança em impostos e uma ajuda de custo a motoristas. Essas propostas avançaram no Congresso nesta quinta-feira. “O que vimos ontem foi os diversos agentes do mercado agindo, na medida do possível, contra os impactos da valorização dos combustíveis”, diz o especialista.
“O Congresso fez muito bem aprovar o PLP 11, que vem há muito tempo sendo pedido pelo mercado de combustíveis, pois diminui a volatilidade dos preços na bomba dos postos”, diz.
O projeto aprovado na véspera no plenário da Câmara dos Deputados altera as regras na cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, que, atualmente, é revisto a cada 15 dias pelos estados, a partir do monitoramento dos preços praticados pelos postos. Num primeiro momento de transição, o cálculo será feito após um ano, depois, seis meses.
“(Essa mudança) dá mais transparência, simplifica a cobrança e ajuda a combater a sonegação, problema sério no mercado de combustível”, diz Pires.
Outro projeto, aprovado no Senado e que ainda precisa de aval dos deputados, cria um fundo estabilizador para os preços de combustíveis, além de uma ajuda de custos para motoristas. Esse, no entanto, ainda precisa ser melhor equacionado, diz Pires.
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