Especialistas defendem uso de máscara para proteger crianças contra a Covid-19
Segundo o Localiza SUS do Ministério da Saúde, apenas 10,73% do público entre 5 e 11 anos tem o esquema vacinal completo contra o coronavírus
A desobrigação do uso de máscaras preocupa especialistas por conta das crianças que não estão com o esquema vacinal completo contra a Covid-19 ou ainda não podem receber o imunizante. De acordo com o Localiza SUS do Ministério da Saúde, 89,24% do grupo entre 5 e 11 anos tomou a primeira dose, enquanto apenas 10,73% receberam a segunda dose.
O boletim Infogripe da Fiocruz, divulgado nesta quarta-feira (9), mostra um aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de 0 a 4 anos, que ainda não têm uma vacina aprovada pela Anvisa, portanto, não foram imunizadas. Segundo o coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, por conta desse fator, as máscaras em locais fechados deveriam ser mantidas.
“Claro que depende muito da avaliação da realidade de cada município e das regiões de influência, por conta da mobilidade urbana, seja para trabalho ou lazer. Mas o ideal é que não se descarte o uso da proteção individual em locais fechados”, recomenda o pesquisador.
Nesta semana, a cidade do Rio de Janeiro decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços fechados. Outras capitais também desobrigaram o uso de máscara, mas em locais abertos, como Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), São Luís (MA), Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Macapá (AP), São Paulo (SP) e o Distrito Federal (DF).
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Monica Levi defende que é preciso avançar na imunização das crianças para que elas não sejam prejudicadas pela flexibilização do uso das máscaras.
“Penso que cada município ou estado tem uma situação epidemiologia diferente. Mas nas escolas, as crianças que não estão imunizadas deveriam continuar usando máscaras. Essa liberação ao ar livre faz sentido quando vemos os números de hospitalização, de morte e os números de Covid caindo. Parece que estamos como os outros países depois de cinco semanas uma queda vertiginosa, mas os casos que têm ainda são graves. Temos regiões do Brasil com UTIs com bastante lotação e, principalmente, em locais com mais baixa cobertura vacinal, que são locais com menos condição de ter um novo impacto na saúde pública. As recomendações têm que ser regionalizadas e, de qualquer maneira, pra mim, as crianças devem frequentar a escola com uso de máscaras”, argumenta.
Fiocruz começa pesquisa para analisar resposta de vacinas contra a Covid-19 em crianças
A unidade de Minas Gerais da Fiocruz Minas começou neste mês uma pesquisa para acompanhar a resposta gerada pelas vacinas contra a Covid-19 em crianças e adolescentes. O estudo, batizado de Immunita, terá duração de um ano e seis meses e pretende contribuir para a definição de diretrizes em relação à imunização do público infantil.
Segundo a coordenadora do estudo, Rafaella Fortini, o acompanhamento será essencial para que as pessoas saibam qual é a eficácia da vacina e por quanto tempo ela pode proteger crianças e adolescentes.
“Já conhecemos a efetividade e a segurança das vacinas aprovadas pela Anvisa. O estudo permitirá o detalhamento sobre a resposta imunológica protetora que é gerada pela vacina e como esta resposta permanece ao longo do tempo. Para isso, analisamos os níveis de anticorpos totais e anticorpos neutralizantes, aqueles capazes de efetivamente neutralizar o coronavírus, incluindo as variantes de preocupação em circulação. Além disso, vamos detalhar a resposta celular gerada pela vacina, para entendermos a resposta protetora de forma ampla e completa nas crianças e adolescentes”, explica a pesquisadora.
O estudo coordenado pela Fiocruz Minas conta com a parceria do Instituto Butantan, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e das secretarias municipais de saúde de Belo Horizonte e Serrana.
O acompanhamento dos voluntários é feito mensalmente, por meio de contato telefônico. Presencialmente, serão cinco contatos: no dia da vacinação, após um mês, após três meses, após seis meses e após um ano, todos esses períodos a partir da segunda dose.
O estudo Immunita também realiza essa mesma investigação em adultos vacinados. A pesquisa com foco no público a partir de 18 anos teve início em janeiro de 2021 e tem duração de dois anos.