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    Golpes em aplicativos de namoro focam no público LGBTQIA+ e nas mulheres mais velhas

    Plataformas de relacionamento estão lançando funções que prometem mais segurança; crime pode trazer traumas psicológicos profundos, veja como se prevenir

    Felipe Carvalhocolaboração para a CNN

    Encontrar a cara metade é um dos primeiros itens da lista de prioridades da maioria dos seres humanos e cada vez mais a tecnologia tem colaborado para que esse desejo seja realizado.

    Enquanto isso, os aplicativos de relacionamento têm se tornado um terreno fértil para cibercriminosos que criam perfis fakes na web para atrair e ludibriar suas vítimas, direcionando-os a encontros desastrosos, com direito a extorsão financeira ou, em casos mais graves, levando à morte.

    Um dos casos mais famosos de golpes de relacionamento on-line, também conhecidos como golpes de romance ou fraude de romance, é o caso do suposto milionário Shimon Hayut que usava fotos verdadeiras nas redes sociais, iniciava um namoro com as vítimas e, tempos depois, começava um período de extorsões financeiras até que as mulheres fossem à falência. A história virou um documentário produzido pela Netflix, que rapidamente se tornou um dos mais assistidos da plataforma este ano.

    Além deste tipo de estelionato, as pessoas que buscam o parceiro ideal nos aplicativos de relacionamento também estão suscetíveis a encontrarem um catfish, aqueles perfis que têm informações e fotos falsas, que não condizem com o que a pessoa realmente é.

    O psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), acredita que não há um tipo de vítima mais vulnerável para cair nestes dois tipos de golpes, mas salienta que o público LGBTQIA+ se torna um alvo mais fácil pelo histórico de preconceito que enfrenta, deixando-o mais frágil.

    “São pessoas que, na sua grande maioria, têm uma sensibilidade maior por conta das experiências negativas que tiveram durante a vida. Muitas vezes também não possuem uma rede de apoio e em alguns casos possuem baixa autoestima, carência emocional e não sabem lidar com diversos eventos traumáticos. Isso pode sim torná-los mais vulneráveis a acreditarem em mentiras e golpes na internet”, diz.

    A psicóloga Cintia Moreira, de São Paulo, também ressalta que uma rede de apoio é fundamental para que a vítima não caia em golpes na internet. Quando essa base está frágil, o que pode ser a realidade de alguns, dado o cenário construído pela LGBTfobia, essa pessoa pode estar mais vulnerável a qualquer tipo de má influência.

    Quem acredita nas mentiras de um catfish poderá reforçar dificuldades em estabelecer relacionamentos amorosos futuros e até mesmo desestabilizar relações atuais com amigos e familiares, dependendo da profundidade da experiência.

    O público LGBTQIA+: alvo mais fácil pelo histórico de preconceito que enfrenta/ Unsplash/Divulgação

    “O fator confiança, que é a base de qualquer relação, ficará em xeque. Para além disso, alguns quadros de ordem psicológica mais significativos podem ser desencadeados, como episódios depressivos e crises de ansiedade, principalmente”, avisa.

    “As vítimas podem ter sintomas depressivos correlatos ao processo de luto pelo fim da relação e pela forma como se deu, humor deprimido suscitado pela tristeza, apatia, desânimo, insônia, oscilações entre estados de tristeza e irritabilidade, culpa, entre outros”.

    De acordo com um relatório da empresa de cibersegurança Kaspersky, publicado em agosto de 2021, em que ouviu 18 mil pessoas em 27 países, 15% das pessoas já caíram em golpes. Além dessas, 31% não efetivamente caíram em fraudes, mas foram contatados por fraudadores – o que significa que quase metade dos usuários (46%) já foi abordado por estes criminosos.

    Do total de casos, 61% dizem que foram vítimas de catfishing, e somente 2% dessas pessoas conseguiu identificar que o perfil era falso antes de cair no golpe.

    David Vermeulen, CEO do Inner Circle, uma das principais plataformas de relacionamento atuantes no Brasil, diz que um levantamento feito pelo aplicativo apontou que mulheres heterossexuais mais velhas são o público mais vulnerável para golpes de sua plataforma e, somente em 2021, o aplicativo removeu mais de 50 mil perfis falsos, golpistas ou inapropriados.

    “Sempre batemos na tecla de que qualquer pessoa possa ser vítima de um golpe. Aquelas que se sentem solitárias ou passam por um momento difícil emocionalmente são menos propensas a prestar atenção nos sinais de alerta porque estão muito esperançosas por um relacionamento positivo e real”, diz.

    Nós encorajamos que nossos membros pensem sobre o ditado ‘bom demais para ser verdade’. Se parecer uma grande fantasia, denuncie. É melhor descobrir que o perfil é real do que ser potencialmente enganado mais tarde 

    David Vermeulen, CEO do Inner Circle

     

    Segurança e Proteção

    Octavio Andrade, social media manager do Scruff Brasil, aplicativo especializado no público gay, explica que existe uma preocupação muito grande da empresa em garantir a segurança das pessoas, inclusive sobre qualquer tipo de LGBTfobia dentro da plataforma.

    Ele comenta que rede social não aceita qualquer tipo de ofensa nas conversas entre os usuários e até mudou o sistema de busca para que ele não colabore com os preconceitos.

    “O Scruff retirou do sistema de busca a opção ‘informações sobre raça ou etnia’, para evitar assédio e vem aprimorando seus recursos de segurança. Já para evitar ataques homofóbicos, garantir a segurança e a privacidade, e especialmente a preocupação com a publicidade duvidosa, a empresa não aceita anúncios programáticos de terceiros, como banners, especialmente em regiões ou países onde a homofobia ainda é generalizada, além de manter um canal direto com o usuário.”

    Andrade também garante que o aplicativo tem investido muito em sistemas de segurança como o sinal de verificado, tal como o “azulzinho” do Instagram, que dá mais proteção ao usuário de que a pessoa com quem ele está conversando é real. Desde dezembro do ano passado, este recurso já está em funcionamento em versão beta.

    “A ferramenta é muito simples: o aplicativo mostra duas poses que o usuário deve imitar em fotos feitas pelo celular e enviá-las. Uma mensagem avisa que o perfil está em análise e, logo que aprovado, o ícone ‘verificado’ aparece ao lado do nome do perfil. Assim, a pessoa garante que não haja violações, como a criação de perfis falsos”, afirma.

    Outra plataforma de relacionamento que também adotou um sistema parecido é o happn. Karima Ben Abdelmalek, CEO e presidente da empresa, com sede na França, explica à CNN Brasil que a “Certificação de Perfil” é um meio de garantir um ambiente on-line mais seguro e confiável para os usuários. Ela diz que os solteiros só precisam gravar um vídeo rápido de si mesmos, que será comparado com as fotos.

    “O perfil receberá o crachá ‘Perfil Certificado’ se a verificação for bem sucedida. Este processo nos permite criar um ambiente mais seguro para cada pessoa e iniciar a conversa com mais confiança uns nos outros. Nesta ocasião, fizemos uma pesquisa sobre segurança e soubemos que 91% dos solteiros se sentem mais seguros interagindo com um perfil certificado, e 65% deles admitiram que ter um perfil certificado é uma condição relevante para os encontros dentro do aplicativo.”

    APLICATIVO RELACIONAMENTO NAMORO FLERTE
    Aplicativos estão lançando o “Perfil Certificado” para garantir mais segurança aos usuários/ Getty Images

    Caso alguém suspeite ou tenha certeza que o perfil não verificado se trate de um catfish, Karima recomenda que, antes de tudo, a pessoa reporte diretamente o perfil ao serviço ao cliente, diretamente no aplicativo.

    “Neste caso, a equipe de atendimento ao cliente investigará e tomará a decisão apropriada exigida sobre o perfil relatado. Em segundo lugar, mantemos os dados de identificação de qualquer perfil relatado à disposição das autoridades competentes, a fim de facilitar qualquer investigação quando solicitado por elas”, garante.

    O Tinder, um dos apps de relacionamentos mais acessados do mundo, explica por meio da assessoria de comunicação que a Central de Segurança dentro do aplicativo dá aos membros acesso fácil a conteúdos e dicas de segurança a qualquer momento entre uma deslizada e outra pelos perfis.

    No Brasil, a Central foi desenvolvida em parceria com organizações locais que também lutam contra a LGBTfobia.

    “A empresa leva a segurança de seus membros a sério. Se um membro reportar qualquer comportamento on-line ou off-line inadequado, a denúncia é cuidadosamente revisada e a ação necessária para banir qualquer perfil suspeito da plataforma é tomada. Somado a isso, quando qualquer pessoa é denunciada por comportamento violento ou criminal, a respectiva conta é removida e bloqueada de todas as plataformas do Match Group”, avisa.

    Legislação

    Segundo o Serviço de Informações ao Cidadão (SIC) do governo do Estado de São Paulo, todo tipo de golpe na internet é previsto pela legislação brasileira e é tipificado como estelionato.

    O artigo 171, parágrafo 2º do Código Penal diz que a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

    Fabio Souza Ramos, advogado especialista em direito criminal, diz que esses crimes têm aumentado nos últimos tempos e, de um ano para cá, se tornou mais público. Ramos afirma que a gravidade desse delito aumentou porque deixou de ser apenas um crime de estelionato sentimental, que era apenas “uma vantagem” mediante um golpe.

    Atualmente essas pessoas estão sendo induzidas a um encontro amoroso e nesses encontros são vítimas de outro crime como roubo e, nessas situações, têm se tornado muito grave como podemos ver em mídias (TV, Internet) que as pessoas são levadas ao óbito

    Fabio Souza Ramos, advogado especialista em direito criminal

    Com relação ao catfish, a pessoa é criminalizada pelo Código Penal por meio do artigo 307, quando um sujeito atribui a si ou a outrem a falsa identidade e obtém uma vantagem ilícita. Ele ressalta a importância que a vítima faça uma denúncia formal em uma delegacia de crimes cibernéticos ou em qualquer delegacia da cidade.

    “Ela deve fazer um Boletim de Ocorrência de forma eletrônica (via internet), que será averiguado e aprovado pela Polícia Civil, que vai gerar uma ocorrência que eventualmente será investigada em um Inquérito Policial. Depois, a vítima deve procurar um advogado para que ele possa tomar as medidas judiciais cabíveis como o pedido de averiguação com relação ao golpista e, em caso de demanda cível, a restituição dos valores.”
    Por outro lado, Fabio avisa que quando a pessoa é vítima de um golpista, com um perfil falso, mas não sofre qualquer dano financeiro ou físico, não é possível identificar um crime.

    Para não cair em golpes:

    • Faça pesquisas online – pesquise no Google a pessoa com quem você está falando e veja se tudo parece certo
    • Pesquisa reversa de imagens do Google – jogue a foto da pessoa na pesquisa de imagens do Google e veja se ela aparece em algum resultado de busca. Se alguém estiver usando a foto de outra pessoa, você poderá descobrir
    • Verifique suas contas nas redes sociais– quando as contas foram criadas? Quão antigas são as fotos? As postagens parecem estranhas? Quantos amigos a pessoa tem? Quem e quais contas curtem e comentam as publicações?
    • Veja o idioma que eles usam – muitos golpistas usam o Google Tradutor
    • Profissionais confiáveis são frequentemente usados como cargos, ou seja, médico, advogado, militar
    • Bios extremas também podem ser um alerta vermelho. Algumas frases mais usadas são: quero encontrar o amor verdadeiro, fé em Deus e até falar sobre a morte de um parceiro. É claro que uma pessoa real pode ter uma profissão confiável e ter fé em Deus, mas essas são coisas para verificar novamente se você sentir que algo não está certo.

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