Quem são os 11 representantes que negociam em nome de Putin e Zelensky pelo cessar-fogo
Homem "do boné", o do cromossomo, o envolvido em escândalo sexual, o poliglota e outros negociam pelos dois países em nova rodada prevista nesta quinta
Uma equipe diplomática russa garante que o cessar-fogo estará em cima da mesa durante as negociações que estão agendadas para esta quinta-feira (3) na Bielorrússia entre representantes russos e ucranianos. De acordo com a agência AFP, o exército russo vai criar um corredor de segurança para os diplomatas ucranianos. Vladimir Putin enviou cinco homens e Volodymyr Zelensky mandou seis. Os 11 estarão sentados à mesa para tentar chegar a um acordo. Entre os escolhidos, estão um político que se viu envolvido num escândalo sexual, um conselheiro que acredita que os russos têm um cromossomo a mais, um advogado famoso, um poliglota e um político que gosta de aparecer usando boné.
Russos
Vladimir Rostislavovich
É conselheiro de Putin, tem 51 anos e é político, professor e publicitário russo. É membro do Conselho Geral do partido Rússia Unida. Filho de uma médica e de um militar, o pai foi coronel do exército, tendo participado na invasão da antiga Checoslováquia em 1968 e na guerra do Afeganistão. Medinsky foi ministro da Cultura entre 2012 e 2020 mas a sua nomeação gerou controvérsia. Numa entrevista em 2012 ao jornal RussKaya Zhizn, disse que o povo russo tem um cromossomo extra por ter sobrevivido a tantas catástrofes. Defensor da retirada de Lenin do mausoléu (local na Praça Vermelha em Moscou onde o corpo de Vladimir Lenin, fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas está exposto), viu-se envolvido numa polémica por conta de duas das suas três teses sobre Ciência Política: ele foi alvo de acusações de plágio.
Alexander Fomin
É o ministro da Defesa da Rússia desde 2017 e tem 62 anos. Em janeiro foi um dos que integraram a comitiva enviada por Putin à reunião do Conselho da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Bruxelas. A reunião já tinha como objetivo reduzir a tensão entre Moscou e o Ocidente, depois de a Rússia ter enviado um contingente militar para uma região próxima da fronteira com a Ucrânia. Fomin foi autor de várias frases que nos tempos que antecederam a invasão deram sinais da estratégia em Moscou. “A Otan passou à prática das provocações diretas, o que envolve um elevado risco de escalada num conflito militar”, avisou. O coronel-general é poliglota, sendo fluente em português, espanhol, inglês e crioulo. Nasceu em Leninogorsk, no Cazaquistão. Formou-se em 1984 na Universidade Militar do Ministério da Defesa da Rússia. Cumpriu o serviço militar entre 1977 e 1993.
Leonid Slutsky
Tem 54 anos e lidera a comissão dos assuntos externos do Parlamento Russo (Duma). Esteve envolvido em uma polêmica sobre assédio sexual em 2018, quando foi alvo de acusações de quatro jornalistas. Duas delas chegaram a prestar depoimentos na comissão de ética do parlamento sobre o alegado assédio sexual, mas Slutsky foi absolvido. Tempos depois, o aliado de Putin fez uma publicação no Facebook em que dizia: “Aproveito esta oportunidade para pedir perdão a todas as mulheres a quem tenha causado más experiências, voluntária ou involuntariamente. Acreditem que não tinha más intenções”. Ele é membro do Partido Liberal Democrata da Rússia.
Andrey Rudenko
É ministro dos Negócios Estrangeiros russo, tem 60 anos e está envolvido nos circuitos de negócios estrangeiros desde 1985, tendo ocupado vários cargos. Em fevereiro, quando a Alemanha anunciou que ia suspender o processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, após os avanços da Rússia na Ucrânia, Rudenko reagiu: “Moscou não acredita em lágrimas”. Nasceu na capital da Rússia e é formado em Relações Internacionais pela Universidade de Moscou. Entre as pastas que tem de gerir estão as relações com duas regiões que se declararam independentes e que Moscou reconheceu: a Abkhazia, uma república no norte da Geórgia, e Tskhinvali, a capital da região georgiana da Ossétia do Sul.
Boris Gryzlov
Embaixador russo na Bielorrússia, tem 71 anos e é um dos grandes aliados de Putin. É engenheiro e até 1999 não era uma figura pública. Depois de se licenciar em engenharia, em 1973, trabalhou como engenheiro de rádio e pouco depois tornou-se diretor de uma fábrica. Mas em 1999 envolveu-se em cargos políticos e teve uma rápida ascensão até o círculo do poder russo. Começou na divisão regional do partido Unidade de Sergiuei Choigu e um mês depois, em dezembro, foi eleito para o parlamento russo. Tornou-se ministro do Interior, assumiu a presidência do Rússia Unida, o partido que dá apoio ao presidente russo, e dirigiu o parlamento. Em 2011 renunciou a este cargo, atitude que foi vista como uma forma de aliviar as acusações de fraude eleitoral nas eleições parlamentares de 4 dezembro de 2011.
Ucranianos
Davyd Arakhamia
Dirigente do partido Servos do Povo, tem 42 anos e é considerado uma das “100 pessoas mais influentes da Ucrânia”. Faz parte do círculo de políticos que se mantêm com Zelensky em Kiev. Nasceu em Sochi, na União Soviética, e morou na Geórgia até 1992, quando se mudou com os pais para a Ucrânia. Licenciou-se em Economia e fundou várias empresas de tecnologia. Em março de 2014, Arakhamia, juntamente com amigos, criou um site para angariar fundos para os equipamentos dos paraquedistas da 79ª Brigada Aérea. Em agosto desse ano foi nomeado conselheiro do governador Mykolaiv Oblast e, depois, em outubro, chegou a conselheiro do ministro da Defesa. Arakhamia ficou conhecido por, no primeiro dia das negociações, ter aparecido usando boné.
Rustem Umerov
É político, empresário, investidor e filantropo ucraniano, muçulmano de origem tártara da Crimeia. Filho de um engenheiro de tecnologia e de uma engenheira química, Umerov estudou economia e finanças e, antes de ser eleito deputado do parlamento em 2019, foi fundador e CEO da ASTEM Company, empresa especializada em comunicações, tecnologia e infraestruturas. Quando foi deputado, foi coautor de quase 100 projetos de lei. Atualmente é secretário do comitê parlamentar sobre Direitos Humanos, Desocupação e Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente. Desde dezembro de 2020, é também co-presidente da Plataforma da Crimeia, iniciativa do presidente Zelensky cujo objetivo é procurar uma via diplomática para a desocupação russa e reintegração da Crimeia.
Mykola Tochytskyi
Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros desde setembro de 2021, Tochytskyi tem uma longa carreira na diplomacia. Foi embaixador extraordinário junto da Bélgica e do Luxemburgo e é o responsável pela missão diplomática da Ucrânia junto da União Europeia e da Comunidade Europeia da Energia Atómica.
Andriy Kostin
É vice-chefe do Grupo de Contato Trilateral sobre a Ucrânia, que inclui representantes da Ucrânia, da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, formado para facilitar uma solução diplomática para a guerra na região de Donbass, na Ucrânia.
Oleksii Reznikov
Ministro da Defesa ucraniano desde 4 de novembro de 2021, Reznikov é advogado e político. Já ocupou, entre outros, os cargos de vice-primeiro-ministro, ministro para a Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente da Ucrânia. Em 2020 foi escolhido pelo presidente Zelensky para representar a Ucrânia no subgrupo político do Grupo de Contato Trilateral para debater um acordo para a guerra em Donbass. Atualmente com 55 anos, Reznikov nasceu em Lviv e foi um dos fundadores, em 1997, da Magisters, firma de advogados que em em 2009 e em 2010 ganhou o Chambers Europe Award. A empresa também foi eleita pela revista britânica The Lawyer como o melhor escritório de advogados da Rússia e Comunidade de Estados Independentes. Como advogado, Reznikov defendeu o então candidato presidencial Viktor Yushchenko perante o Supremo Trubunal da Ucrânia, fazendo com que a terceira volta das presidenciais de 2004 fossem anuladas. Em 2014, Reznikov teve a licença de advocacia suspensa devido à sua nomeação como secretário da Câmara Municipal de Kiev.
Mykhailo Podoliyak
Conselheiro da presidência ucraniana.
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Na quinta-feira (24), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um pronunciamento televisionado no qual autorizava uma "operação militar especial" na Ucrânia. Putin disse que o objetivo era proteger população de regiões separatistas. • Reprodução/Russia 24
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Poucas horas após pronunciamento de Putin, explosões e sirenes foram ouvidas em várias cidades da Ucrânia, segundo relatos de repórteres da CNN. A imagem de uma explosão em Kiev divulgada pelo Gabinete do Presidente da Ucrânia foi um dos primeiros retratos da invasão russa no país. • Gabinete do Presidente da Ucrânia
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Já pela manhã de quinta-feira, gigantescas filas de carro se formaram com pessoas tentando sair da capital ucraniana Kiev. • Getty Images
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Após o início da guerra, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, convocou os cidadãos para luta armada e pediu doações de sangue para os militares feridos. • CNN / Reprodução
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Os metrôs ucranianos se transformaram em verdadeiros bunkers improvisados, para servir de abrigo antibombas. Na foto, o metrô de Kharkiv, segunda maior cidade do país. • CNN
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A CNN relatou que infraestrutura civil ucraniana foi afetada pela guerra. Na imagem, uma criança brinca no parquinho do lado de fora de um prédio residencial de Kiev atingido por uma explosão. • Anadolu Agency via Getty Images
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Pessoas são fotografadas em posto de controle entre Ucrânia e Eslováquia. A ONU estima que mais de 800 mil refugiados fugiram pela fronteira oeste do país. • Future Publishing via Getty Imag
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Protestos contra a guerra na Ucrânia foram registrados em várias partes do mundo. Na foto, mais de 100 mil manifestantes foram às ruas de Berlim pedindo o fim da invasão russa. • Getty Images
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Delegações diplomáticas de Rússia e Ucrânia se encontraram, no quinto dia de guerra (28), na região da fronteira com Belarus. Primeira negociação por cessar-fogo terminou sem acordo. Segunda reunião deve acontecer nesta quarta (2). • Alexander Kryazhev/POOL/TASS via
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Kharkiv foi alvo de alguns dos piores ataques aéreos durante a guerra. Na terça-feira (1º), pelo menos 10 pessoas morreram e 35 ficaram feridas em ataques com foguetes das forças russas no centro da cidade, segundo o Ministério do Interior ucraniano. • Anadolu Agency via Getty Images