Sozinho e solitário são coisas distintas: saiba como melhorar seus relacionamentos
Pandemia acentuou solidão para muitas pessoas e profissionais estão preocupados com os riscos à saúde mental e física associados a esse sentimento
Durante a pandemia mundial que nos deixou mais isolados em um século, chegou a hora de olharmos mais de perto o que significa ser solitário.
É um dilema antigo que tem nos chamado a atenção nos últimos dois anos: Como nos sentimos realizados e conectados em nossos relacionamentos?
Como espécie, os humanos prosperam estando em torno dos outros, disse Louise Hawkley, principal cientista de pesquisa dos Centros de Pesquisa Acadêmica NORC, da Universidade de Chicago. Mas quanto e qual o tipo de contato cada pessoa precisa para se sentir parte de uma comunidade varia entre os indivíduos, bem como no estágio da vida de uma pessoa, acrescentou ela.
Uma noção comum é que as pessoas mais solitárias são aquelas que estão sozinhas, mas é importante separar os dois termos, disse Carla Perissinotto, professora de medicina e chefe associada de Programas Clínicos de Geriatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
As crianças podem ficar solitárias porque não conseguem ver seus amigos na escola; as pessoas marginalizadas podem sentir-se solitárias porque a comunidade não as acolhe; e os adultos mais velhos podem experimentar a solidão através da aposentadoria ou da morte de um ente querido, disse Carla.
Com a pandemia exacerbando os problemas de solidão, muitos profissionais de saúde estão preocupados com os riscos à saúde mental e física associados ao sentimento – como depressão, problemas cardiovasculares e morte precoce, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
É por isso que, segundo os especialistas, é importante identificarmos o que significa ser solitário e o que podemos fazer a respeito.
Sozinho significa solitário?
Quando se trata de combater a solidão com o contato social, a qualidade é muito mais importante do que a quantidade.
“Uma das coisas que distingue entre solidão e isolamento é que a solidão tem muito pouco a ver com quantidade, com quantas pessoas você interage, quantos grupos você pertence”, disse Louise. “Embora haja uma relação (entre os dois), não é muito forte”.
Aqueles que escolhem viver sozinhos, ser solteiros ou simplesmente passar muito tempo sozinhos, não são se sentem necessariamente solitários, acrescentou ela.
A chave da questão não é olhar para as circunstâncias e supor quais sentimentos devem estar associados a elas, mas sim se perguntar se você está solitário, disse Carla. Se a sua solidão é uma escolha e você tem pessoas que podem apoiá-lo se você precisar de ajuda, não há como dizer que você não pode viver uma vida feliz sentindo um pouco de solidão.
E assim como estar sozinho não equivale necessariamente à solidão, a interação com outras pessoas não significa satisfação para todos, disse Louise.
“As pessoas podem estar perto de outras e se sentir só de qualquer maneira ou, basicamente, podem ser almas solitárias e não se sentirem só”, disse ela.
Por que me sinto tão sozinho quando não estou?
Se o seu feed das redes sociais está cheio de fotos de festas com grandes grupos ou onde quer que vá tenha um conhecido que você pode cumprimentar, mas ainda assim sente a dor da solidão, você não está sendo dramático, disse Carla.
“Você pode ter muitos contatos sociais e ainda ser incrivelmente solitário”, acrescentou. “Você pode ver alguém que é muito gregário, e parece que eles estão muito conectados, mas ainda assim alguns têm um profundo sentimento de solidão”.
Existem três tipos principais de conexão, e a solidão pode resultar de uma sensação de falta em qualquer um deles, disse Louise.
A primeira é chamada de conexão íntima, quando alguém como um parceiro romântico, por exemplo, é tão próximo de você que parte de sua identidade se entrelaça com a dele, disse ela. Depois, há a conexão relacional, que você estabelece com amigos próximos e confidentes, e ainda a conexão coletiva, ou seja, aquelas interações que fazem você se sentir parte de uma comunidade, disse Louise.
É importante identificar de que tipo de perda de conexão vem o sentimento, disse ela. E então você tem que avaliar a qualidade desses relacionamentos, disse Carla.
“Eu acho que essas são algumas coisas realmente tangíveis para se perguntar, se isso é valioso para mim? Eu me sinto valorizado? Isso me ajuda a sentir que tenho um senso de propósito e isso me faz sentir bem?”, disse Carla.
O que posso fazer sobre isso?
Identificar que tipo de conexão você deseja e a qualidade dos relacionamentos que você já tem são os primeiros passos importantes, mas o caminho que pretende seguir a partir daí, depende inteiramente do seu contexto específico.
“Não existe um ‘tamanho único’ para todos”, disse Carla. “Para alguns, ter uma conexão realmente profunda e significativa com uma pessoa é fundamental para esses sentimentos de conexão, mas para outras pode ser simplesmente o contato com um estranho”.
Uma conversa profunda com um estranho em um bar do aeroporto, o sorriso de se sentir reconhecido quando você pede “o de sempre” na lanchonete que você costuma ir, uma ligação para um velho amigo ou estabelecer mais confiança e abertura com seu parceiro são formas de diminuir os sentimentos de solidão, acrescenta ela.
Mesmo falar publicamente ou em particular sobre a solidão é uma maneira de combatê-la, acrescentou Carla.
Se você tiver dificuldade em se expor para fazer as conexões de que precisa ou ficar preso em padrões de pensamento de que não será bem recebido, talvez seja hora de procurar a ajuda de um profissional de saúde mental, disse Louise.
Outros recursos também estão disponíveis para ajudar a preencher essa lacuna, disse Matt Pantell, professor assistente do departamento de pediatria e membro do corpo docente do Centro de Saúde e Comunidade da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
“Para alguém que está solitário porque não tem amigos ou família e quer conhecer novas pessoas para se conectar, existem muitas organizações que ajudam a facilitar isso, seja diretamente feito por meio de grupos de conexão social, ou indiretamente, por meio de atividades compartilhadas. Muitas dessas organizações se adaptaram para se tornarem mais seguras durante a pandemias”, disse Pantell.