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    Pais são separados de bebê enquanto Hong Kong mantém política de Covid zero

    Onda mais grave da doença levou autoridades a implementar restrições mais duras, além da testagem obrigatória em massa

    Kristie Lu StoutJadyn ShamRhea MogulTeele Rebane e Lizzy Yeeda CNN

    Lutando contra as lágrimas, Laura e Nick lutam para confortar a filha de 11 meses, Ava, através da tela do celular.

    “Bubba, nós te amamos… nós vamos buscá-la, querida. Nós iremos”, diz Laura para a filha em uma chamada de vídeo, que os pais compartilharam com a CNN.

    Eles estão na mesma cidade, mas Laura e Nick não podem visitar Ava no Hospital Queen Mary, em Hong Kong, onde o bebê está se recuperando da Covid-19 após testar positivo na segunda-feira. Eles pediram à CNN para não publicar seus nomes completos por motivos de privacidade.

    As rígidas regras de Hong Kong proíbem o contato entre pacientes com Covid-19 e suas famílias imediatas que não testaram positivo, mesmo os pacientes mais jovens como a Ava.

    A cidade não está em lockdown total, mas as autoridades estão reforçando as medidas para combater sua quinta e mais grave onda de Covid-19, incluindo a implementação de testes obrigatórios em massa em seus mais de 7 milhões de habitantes.

    A obrigatoriedade de testagem levou a temores generalizados em toda a cidade de que, à medida que mais casos positivos são identificados, mais famílias podem ser separadas, com crianças colocadas em isolamento.

    No vídeo, Laura desaba em choro enquanto Ava soluça. “Não aguento isso”, diz ela, enquanto seu marido faz um apelo desesperado a uma enfermeira, que parece estar segurando o telefone.

    “Enfermeira, apenas dê um pouco de conforto a ela, por favor”, Nick implora, enquanto uma enfermeira vestindo um traje completo de proteção aparece na tela, com o rosto coberto por um protetor do tipo face shield.

    De acordo com a política de Hong Kong, Ava só pode ser dispensada se o teste der negativo sete dias após a admissão no hospital. Laura e Nick estão planejando fazer um teste de Covid-19; eles dizem que esperam que seja positivo, pois então eles terão a chance de se reunir com a filha em um local de quarentena administrado pelo governo.

    “Estamos apenas indefesos. Estamos realmente indefesos”, disse Laura à CNN. “Não é o melhor para ela que esteja sem nós. Ela precisa de nós e nós precisamos dela”.

    ** Imagem deve ser usada apenas nesta matéria específica **
    Laura conforta Ava em uma videochamada / Acervo pessoal

    Restrições mais duras de Hong Kong

    Por quase dois anos, Hong Kong contou com uma combinação de quarentenas rigorosas e esforços de rastreamento para isolar casos positivos, mantendo a cidade comparativamente livre do vírus.

    Mas essas medidas não parecem mais suficientes diante da última onda, que as autoridades descreveram como um “tsunami”.

    Hong Kong registrou cerca de cinco vezes mais casos nas últimas três semanas do que em toda a pandemia. Na quarta-feira (23), a cidade registrou um recorde de 8.674 novos casos – a grande maioria da altamente contagiosa variante Ômicron.

    Ainda assim, Hong Kong continua a aderir à rigorosa política de Covid zero da China e, em um esforço para combater a quinta onda crescente – prevista para atingir o pico nas próximas três semanas – a líder da cidade, Carrie Lam, anunciou na terça-feira as restrições mais duras até agora.

    Todos os residentes de Hong Kong – cerca de 7,4 milhões de pessoas – terão que passar por três rodadas de testes obrigatórios de Covid-19 em março, disse Lam durante uma entrevista coletiva. Entre esses testes, os residentes terão que fazer os testes rápidos de antígenos diariamente, acrescentou Lam.

    Escolas públicas e internacionais, que já estão realizando aulas online, farão uma pausa no início do verão para liberar suas instalações para serem usadas como acomodações temporárias de isolamento, teste e vacinação. A proibição já existente de refeições presenciais após às 18h, o fechamento das academias e locais de entretenimento e a proibição de voos de nove países serão estendidas até pelo menos o dia 20 de abril.

    Em uma tentativa de manter Hong Kong estritamente alinhada com sua estratégia de Covid zero, a China anunciou na semana passada que enviará especialistas em saúde e suprimentos médicos para Hong Kong e ajudará a construir novas instalações de quarentena e isolamento.

    “Com o apoio do governo central e a unidade do povo de Hong Kong, certamente triunfaremos sobre esta pandemia. Após a tempestade veremos um arco-íris novamente”, disse Lam na terça-feira.

    Mas mesmo com a ajuda de Pequim pode não ser suficiente.

    A modelagem de especialistas da Universidade de Hong Kong prevê que o número de casos confirmados atinja o pico em cerca de 183 mil por dia do início e até a metade de março.

    Dr. Edwin Tsui, o controlador do Centro de Proteção à Saúde, disse que testes em massa provavelmente confirmarão um grande número de casos positivos que a cidade teria que gerenciar.

    Ele disse que o sistema de saúde da cidade pode precisar ter que “lidar com milhares ou dezenas de milhares de casos […] em um período muito curto de tempo”.

    Famílias temem separação

    Laura e Nick não são os primeiros pais de Hong Kong a serem separados de seus filhos. Durante um surto de coronavírus no ano passado, surgiram relatos de crianças sendo enviadas para o hospital, mesmo que estivessem assintomáticas.

    Os pais de Ava estavam preocupados e a levaram para o hospital na segunda-feira, depois que ela teve febre e dificuldade para respirar. Quando o teste de Covid-19 de Ava deu positivo, seus pais foram instruídos a sair, disse Laura.

    A história da família foi postada em um grupo popular do Facebook e desde então se espalhou, provocando discussões entre os pais de Hong Kong em pânico sobre o que poderia acontecer se seus filhos testassem positivo e eles negativo, assim como Laura e Nick.

    A CNN entrou em contato com o escritório de Lam para falar sobre o caso da família, mas não recebeu uma resposta. Em abril do ano passado, quando perguntada sobre a separação das crianças de seus pais, Lam reiterou que Hong Kong era um “governo compassivo”.

    “Estamos aplicando esse tratamento excepcional […] em vez de enviar as crianças muito pequenas por conta própria para um centro de quarentena […] também aceitaremos excepcionalmente a admissão das crianças no hospital”, disse Lam.

    Mas à medida que os casos aumentam e Hong Kong insiste em enviar a maioria dos casos positivos para hospitais ou instalações de quarentena administradas pelo governo, a posição das autoridades sobre a separação familiar parece menos clara.

    O gerente-chefe da Autoridade Hospitalar de Hong Kong, Dr. Lau Ka-hin, disse na terça-feira (22) que as autoridades “farão o melhor” para tratar no mesmo hospital os pais e crianças que testaram positivo.

    Nick, o pai de Ava, disse que eles estão vivendo “um pesadelo da vida real”.

    “Se ela está em condição estável, por que não podemos simplesmente levá-la para casa?”, disse ele.

    E Laura acrescentou: “Nós não estamos pedindo uma cama extra no hospital. Eu ficaria ao lado da cama dela. Eu me sentaria em uma cadeira ao lado dela pelos cinco dias restantes. Eu só preciso estar com ela”.

    Um porta-voz da Autoridade Hospitalar disse à CNN que, como não haviam testado positivo, “não era aconselhável” que os pais de Ava ficassem nas instalações de isolamento do hospital.

    Se no devido tempo testarem positivo para Covid-19, “o hospital tentará facilitar e providenciar para que permaneçam na mesma enfermaria, se a situação permitir”, disse o porta-voz.

    O porta-voz acrescentou que, quando Ava estava com dificuldade respiratória, seus pais não tinham permissão para visitá-la, pois ela estava recebendo atendimento individual na unidade de terapia intensiva.

    “O hospital entende o estresse dos pais por não poderem acompanhar a filha, portanto (uma) videochamada pode ser agendada até três vezes ao dia”, disse o porta-voz.

    De acordo com Odile Thiang, consultora clínica da ONG de saúde mental Mind HK, a separação familiar “é incrivelmente desgastante para os pais e para a criança”.

    “Em ambos os casos, há experiências de ansiedade, depressão e, claro, o transtorno de estresse pós-traumático”, disse Thiang. “E esses impactos são sentidos muito depois do evento traumático real”.

    Para Laura, isso é mais do que apenas o calvário de sua própria família.

    “A preocupação é que você tenha que fazer uma escolha angustiante entre levar sua filha para obter os cuidados médicos de que ela precisa ou mantê-la em casa para que vocês não seja separadas”, disse ela.

    “E essa é a situação em que tantos pais vão se encontrar em Hong Kong. Isso terá um impacto devastador. E nenhum pai deveria ter que fazer essa escolha”.

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