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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Análise: E se Bruno Covas estivesse vivo?

    Blog conversou com amigos próximos do prefeito, que morreu em maio de 2021 para responder como estaria a cidade e a política se o político, que faria 44 anos nesse domingo

    “Essa não foi das melhores semanas pra mim. Hahahaha. Assim que estiver bem, marcamos nosso jantar. Abs”. A mensagem é de 24 de outubro de 2019, quando o autor deste blog e o então prefeito de São Paulo, Bruno Covas, tinham um jantar marcado. No dia anterior, ele tinha sido internado para tratar de o que parecia ser, apenas, uma infecção de pele.

    A notícia do câncer levaria quatro dias para se tornar pública. Ele e a família já sabiam e já estavam juntos encarando os dilemas do início do tratamento.

    Enviei uma mensagem de solidariedade, desejando melhoras ao prefeito tucano, que conhecia desde que era deputado estadual, mesmo antes de se tornar secretário do Meio Ambiente de Geraldo Alckmin.

    “Inventei um câncer pra não ter que jantar com você”, respondeu o prefeito ironizando as circunstâncias do cancelamento.

    O tratamento atravessou 2020, primeiro ano da pandemia e atravessou a campanha eleitoral, que o fez ser eleito prefeito pela primeira vez. Covas perdeu peso e ganhou musculatura – especialmente política.

    Neto de Mário, que tinha governado o estado, cresceu brincando nos jardins do Palácio dos Bandeirantes. Respirava política já criança. E ainda adolescente virou ‘tucaninho’. Foi na juventude do partido que ergueu sua história.

    Mas ela nem sempre foi de protagonismo. Bruno Covas era visto pelos colegas da Alesp como um deputado discreto. Como secretário era personagem coadjuvante. E como vice-prefeito chegou até a ser demitido por João Doria da secretaria de Subprefeituras, uma das mais importantes da cidade.

    Isso mudou quando veio a notícia de que Doria deixaria a cidade na mão do aliado para construir uma candidatura ao governo. ‘Bruninho’, como Doria chamava carinhosa ou ironicamente, conseguiu então se aproximar de antigos amigos, que passaram a ver nele um líder político em ascensão.

    Neste domingo, se estivesse vivo, Bruno Covas faria 44 anos. Um livro de memórias foi lançado como uma forma de preservar o legado, em meio a um PSDB mais enfraquecido do que nunca na cidade onde o partido nasceu. Os autores são o filho, Tomás, o jornalista Luiz Sales e um amigo de Bruno, Gustavo Pires, hoje presidente da SPTuris, agência de turismo e eventos da prefeitura da capital.

    “Acredito que ele seria uma opção extremamente viável para a Presidência em 2026, pois tínhamos metas nacionais para gestão”, palpita Gustavo.

    “Acredito também que o PSDB teria renascido como partido e não caminhado para o exílio. Teríamos um grande líder nacional, que respeita democracia acima de tudo e com isso, seríamos um partido forte e unido”, completa.

    De fato a derrocada do PSDB está diretamente ligada com os movimentos que sucederam a morte do político. O partido começa a semana sem nenhuma das 55 cadeiras na Câmara Municipal da cidade, fato inédito. Oito vereadores e um secretário migraram de legenda para apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

    Ainda que vivo e com a bancada de tucanos fortalecida na Câmara, Bruno Covas teria uma segunda-feira de ressaca, ao ter assistido o Santos perder para o Palmeiras a final do Campeonato Paulista de futebol masculino.

    “Sem sombra de dúvidas, se o Bruno estivesse hoje vivo, dentro do PSDB não teríamos essas intervenções externas acontecendo aqui no estado e na capital de São Paulo, porque o Bruno sempre respeitou o espírito democrático do partido”, diz Fernando Alfredo, que presidiu o partido durante a gestão de Covas na prefeitura, de quem era amigo.

    Se estivesse vivo, Bruno Covas abriria mão de ter um candidato do PSDB para apoiar seu vice, Ricardo Nunes à prefeitura? Ricardo Tripoli, ex-deputado federal que foi secretário especial de Covas, acha que não. “Bruno era um social democrata, sobre isso não abria mão. Apoiaria alguém do PSDB para sua sucessão”, diz.

    Nunes ostenta um quadro de Covas no seu gabinete, no quinto andar do Edifício Matarazzo. Pra além disso, atravessou os três últimos anos À frente da cidade mantendo no primeiro escalão gente muito próxima do antecessor. Mas não era do grupo político do ex-prefeito, compunha o centrão na Câmara dos Vereadores e acabou virando vice na chapa por um arranjo partidário.

    Amigos de Covas dizem que nem o próprio teria mantido o secretariado, como Nunes fez. A perpetuação no primeiro escalão é lida como uma mistura de ato de hombridade e respeito, a falta de profissionais de confiança capacitados ao seu lado e a praticidade política de uma base já articulada.

    O PSDB queria justamente este posto na chapa. Foi o pedido dos novos dirigentes tucanos da capital paulista para o atual prefeito. Pedido feito e negado. Dos vários nomes avaliados por Nunes para a dobradinha na chapa, nenhum é tucano. Ao partido, muito provavelmente restará indicar o vice na chapa da deputada federal Tabata Amaral, do PSB.

    Aliás, um dos amigos próximos de Covas, Orlando Faria, que dirigiu o Turismo e a Casa Civil na gestão do tucano, migrou para o lado de Tabata e hoje é um dos coordenadores da pré-campanha dela.

    Gustavo Pires e Fernando Alfredo citaram outra aposta curiosa, a de que Bruno Covas seria um possível candidato à Presidência do país em 2026. A tese é corroborada por outro amigo do ex-prefeito.

    Eduardo Tuma foi secretário da Casa Civil de Covas e presidiu a Câmara na gestão dele, momento no qual foi indicado para ser conselheiro do Tribunal de Contas do Município, que hoje preside.

    “Com o falecimento do Bruno Covas, eu perdi o amigo e líder político. Já o Brasil, não somente o prefeito, mas um Presidente da República. O Bruno era mais que governante, era estadista. Um homem a frente do seu tempo, enxergava além do alcance da visão”, diz.

    Tabata e Guilherme Boulos (PSOL) certamente lembrarão do tucano na campanha eleitoral. Nenhum dos dois tem convicção de que Ricardo Nunes é o melhor representante do projeto político de Covas. Mas o prefeito terá ao lado artilharia pesada, com o apoio da maior parte dos antigos aliados do tucano e até do próprio filho dele, Tomás.

    Tábata, aliás, tem como possível vice, o tio de Bruno, Mário Covas Neto, o Zuzinha, que foi vereador mas não conseguiu se eleger senador por São Paulo. Vale lembrar que tio e sobrinho atravessaram boa parte dos anos que antecederam a morte rompidos politicamente.

    Já a aliança entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teria certamente descido quadrada na garganta do social democrata. Covas, dizem os aliados, nunca teve qualquer apreço por Bolsonaro e foi obrigado a engolir a seco o movimento ‘BolsoDoria’ durante a campanha presidencial. A divergência mesmo ficou escancarada durante a condução da pandemia da Covid-19, quando Covas fez duras críticas ao então presidente.

    Mas não se engane: Covas também não era o maior simpatizante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Afinal, que legado deixaria Bruno Covas se tivesse, ao fim desse ano, concluído seu mandato?

    Pois bem. Eu fiz essa pergunta ao próprio Bruno Covas, quando traçava um perfil dele, em 2019. Mas antes de te dizer a resposta, devo lembrar que o guia do trabalho do prefeito de São Paulo é o plano de metas, feito a partir da campanha, debatido com a sociedade e apresentado à Câmara.

    Covas fez o seu em 2021, mas dois anos depois – como era previsto – ele foi revisado. Na nova versão, Ricardo Nunes recuou em alguns pontos, como a substituição de dez obras de macrodrenagem, como piscinões, para duas centenas de obras que podem ser até emergenciais. Por outro lado, avançou em outros, como obras em escolas.

    “Ele fez o plano de metas com precisão, ele queria que a gestão dele fosse a melhor gestão de todos os tempos de São Paulo, queria que essa fosse a marca dele. Então, em poucos meses que ele ficou na prefeitura, ele fez todos os dias uma gestão pautada naquele programa. Então, certamente ele estaria entregando algo revolucionário na habitação, na saúde, na educação, no transporte”, opina Orlando Faria.

    Das obras desejadas por Covas, algumas foram adiante sob Nunes, como a do Parque Augusta, que levou o nome do ex-prefeito como homenagem. Outras não, como a derrubada do minhocão, no centro da cidade, que nunca virou e nem parece que um dia vai virar um parque…

    Enfim, a resposta. Bruno Covas disse que não pensava em legado enquanto governava. Que sabia a importância dos CEUs e do Bilhete Único da Marta, do Cidade Limpa, do Kassab, e da Paulista Aberta do Haddad. Mas preferia acreditar que seu legado viria naturalmente pelo olhar da população, sem necessariamente citar uma área.

    Para a decepção do leitor, termino esta coluna com o questionamento em aberto. Se Bruno Covas estivesse vivo, qual seria o sentimento dele pelo que aconteceu nos últimos três anos na política, em seu partido e na cidade?