Putin oscila entre provocações e concessões, avalia professor
Em entrevista à CNN, Leonardo Trevisan questionou até quando as potências do Ocidente irão tolerar a política de "morde e assopra" do presidente russo
Diante da escalada de tensões no Leste Europeu após Vladimir Putin, reconhecer a independência de duas regiões separatistas da Ucrânia, o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan avalia que o presidente russo “percorre uma trajetória que oscila entre provocações e concessões”.
Em entrevista à CNN nesta terça-feira (22), o professor afirmou que Putin “morde e assopra”, e citou como o exemplo o fato do líder russo ter anunciado o envio de tropas para as duas áreas rebeldes reconhecidas como independentes e, em seguida, dizer que as forças não devem ir imediatamente para o local e que uma ação pode “depender da situação”.
Trevisan pontua que resta saber “até quando a paciência ocidental suportará essas idas e vindas”. De acordo com ele, a grande diferença da Rússia reconhecer as autoproclamadas Repúblicas de Donetsk e Luhansk é que o envio de tropas russas às regiões “não se caracteriza mais uma invasão da Ucrânia”.
O professor considera que a disputa entre Rússia e o Ocidente envolve diversos interesses econômicos que vão além do gás natural russo fornecido à Europa. De acordo com Trevisan, a China também possui interesse na produção ucraniana de urânio. “Há interesses chineses muito fortes”, observou.
Segundo o especialista, o erro do Ocidente foi permitir a reaproximação entre China e Rússia. “O Ocidente permitiu que esses dois gigantes, que estavam distantes e concorrentes, se aproximassem. Isso se concretizou quando o Ocidente aplicou sanções pela invasão da Crimeia e a China ofereceu apoio aos russos”, afirmou.
Trevisan avalia que Putin, como estrategista que é, soube aproveitar e perceber “o momento de fragilidade do Ocidente por diversas razões, principalmente do momento europeu”. O professor chamou atenção para a situação da pandemia de Covid-19 nos países europeus e as pressões econômicas da região.
De acordo com o professor, o isolacionismo dos EUA contribuiu para o agravamento da crise no Leste Europeu. Ele considera que o eleitor médio americano não entende a importância estratégica da Ucrânia.
“Putin de alguma forma escolheu o momento que lhe era mais favorável para esse avanço essencialmente cronometrado sobre as posições na Ucrânia e para a reconstrução de um muro de proteção nas fronteiras russas”, concluiu Trevisan.