De Mossoró a Marabá: recaptura de foragidos teve 3 reviravoltas
Governo apostava em ajuda interna, mas não externa; investigação e recaptura revelou exatamente o oposto
No dia 18 de fevereiro, quatro dias depois da fuga em Mossoró, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) daria uma entrevista coletiva na capital da Etiópia, Adis Abeba, em que comentaria o episódio. “Teoricamente parece que teve a conivência com alguém do sistema lá dentro”, disse o presidente.
Essa foi uma das três teses que se mostraram superadas e promoveram uma reviravolta no caso. Dois dias antes da recaptura, a Corregedoria-Geral da Secretaria Nacional de Políticas Penais concluía relatório que apurava responsabilidades, com a confirmação de que não havia indícios de facilitação por parte de funcionários do presidio.
Se, por um lado, o governo acreditava numa ajuda interna –que não existiu–, por outro, não imaginava que os foragidos tivessem ajuda externa.
No dia seguinte à fuga, o ministro a Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que tudo apontava para uma ação “barata”, sem o apoio de pessoas do lado de fora.
“Não imaginamos que tenha sido algo orquestrado de fora, com muito dinheiro e custos com veículos aguardando os fugitivos […] Foi uma fuga, diria eu, que custou muito barato”, disse ele.
Ao longo dos mais de 50 dias de busca, no entanto, 12 pessoas foram presas de auxiliar os foragidos. A suspeita da polícia é que sejam desde moradores da região de Baraúna (RN), que foram cooptados pelos criminosos, até mesmo comparsas de facções criminosas que ajudaram no percurso.
Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento foram recapturados com um fuzil, oito celulares, cartões de crédito e outras quatro pessoas que, segundo as investigações, podem ser “guarda-costas” do crime.
A terceira reviravolta do caso foi a possibilidade que os dois homens tiveram de escapar de um cerco de cerca de 190 quilômetros quadrados montado por 600 agentes de forças policiais de todo o país.
A Força Nacional de Segurança manteve-se empenhada no cerco até seis dias antes de os foragidos serem encontrados. Os policiais estavam no trabalho in loco. E de lá, os foragidos já tinham saído há muito tempo. Tanto que foram encontrados a cerca de 1,7 mil quilômetros do local.
A Polícia Federal seguirá com as investigações sobre o plano de fuga dos criminosos, que, pelo que indicam as informações preliminares, percorreriam 5.000 quilômetros até chegar na Bolívia. O objetivo agora é entender como e com a ajuda de quem eles conseguiram colocar por terra as convicções que o governo tinha no início das buscas em fevereiro.