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    “Não somos treinados para o fim de uma cidade”, diz bombeiro sobre Petrópolis

    Militar que participa dos trabalhos de busca e resgate relata as dificuldades encontradas em uma cidade devastada

    Thayana AraújoIuri Corsinida CNN , no Rio de Janeiro

    Incansáveis no trabalho de resgate, bombeiros que atuam na tragédia de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, contam o que estão vivendo desde a última terça-feira (15), quando um forte temporal deixou ao menos 152 mortos, quase 200 desaparecidos e centenas de desabrigados e desalojados na cidade.

    O Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro trabalha ininterruptamente, 24 horas por dia, nas operações de busca e resgate de vítimas. Um dos militares disse que, apesar de serem treinados para ocasiões extremas, a tragédia de Petrópolis ganhou dimensões impensáveis.

    “Somos treinados para atuar em catástrofes, mas não para atuar no fim de uma cidade. Temos cursos, nos preparamos, mas quando falamos de uma cidade destruída, todos atuam da forma que dá, no limite”, desabafou.

    O bombeiro participou do resgate de cinco corpos, um deles, o de uma menina de 1 ano, além de uma idosa e outros três adultos. Segundo ele, que preferiu não ter o nome divulgado, nenhum quartel dos bombeiros no Brasil tem equipamento suficiente para atuação em uma tragédia dessa magnitude.

    Não há bombeiro no Brasil com equipamentos suficientes para isso aqui, não tem como. Não estamos falando de um prédio, de um shopping. Estamos falando de uma cidade que veio abaixo. Vamos dizer que 5 mil homens estão empenhados no resgate, não temos material braçal para todos, ainda que venha ajuda de maquinário. Estamos falando de enxada, pá.

    Documentos internos do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro revelam falta de itens básicos, essenciais para as buscas aos desaparecidos.

    No dia 17 de fevereiro, o diretor geral de apoio logístico do Corpo de Bombeiros pediu a compra dos equipamentos de salvamento, como capacetes de salvamento, lanternas e apitos. Ao todo são 20 itens que não foram encontrados no Almoxarifado Geral, de acordo com os documentos obtidos pela CNN.

    O militar conversou com a CNN em uma pausa, durante o trabalho de resgate, e explicou que resgate braçal, leva em média até oito horas. Já com o auxílio de uma retroescavadeira o tempo médio é de uma hora. A quantidade de horas mostra o estresse vivido pelos profissionais a cada busca por um desaparecido.

    “O serviço tem que ser feito da forma mais meticulosa possível, para que não prejudique o estado de um possível corpo encontrado, sem contar o respeito aos familiares de vítimas que costumam acompanhar o resgate durante todo o tempo com a gente”.

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    O bombeiro também atuou na tragédia de 2011, que deixou mais de 900 mortos e cerca de 100 desaparecidos na Região Serrana, em especial na cidade de Friburgo. Na ocasião, o impacto foi pela extensão da tragédia, uma vez que diversos municípios foram afetados, mas, segundo ele, a situação de Petrópolis é pior.

    “Será muito difícil a reconstrução. Foram muitas famílias soterradas e outras que não sabem nem onde procurar pelos seus entes ou conhecidos que estão desaparecidos. O desastre está concentrado em uma única cidade”, relatou.

    Mais 30 maquinários chegaram a Petrópolis para serem usados nos serviços de limpeza, raspagem, retirada de entulhos, lixos, móveis, desentupimento de bueiros, além da lavagem das vias. A força-tarefa montada pelo Governo do Estado já retirou mais de 15 mil toneladas de resíduos e liberou mais da metade das vias que estavam obstruídas.

    Os trabalhos acontecem em paralelo às ações de busca e salvamento do Corpo de Bombeiros. A operação já contava com mais de 200 equipamentos e a participação de 600 colaboradores que permanecem em diferentes pontos da cidade.

    (*Com informações de Leandro Resende, da CNN)

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