Bolsonaro chama premiê húngaro de “irmão” e destaca “defesa da família” em discurso
Encontro com Viktor Orbán ocorreu nesta quinta-feira (17) na última parada do presidente na Europa
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou nesta quinta-feira (17) com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e chamou-o de “irmão” em um discurso após conversas entre os dois líderes.
Segundo o presidente brasileiro, os dois países comungam pelos valores. “Considero seu país nosso pequeno grande irmão. Pequeno, se levarmos em conta as nossas diferenças nas respectivas extensões territoriais, e grande pelos valores que nós representamos e que pode ser resumida em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade”, disse Bolsonaro.
“Deus, pátria e família” era o lema do movimento fascista brasileiro Ação Integralista Brasileira (AIB), fundado em 1932. Não é a primeira vez que Bolsonaro usa a expressão ligada ao fascismo, acrescida ou não da palavra “liberdade”. A carta à nação que escreveu no dia 9 de setembro vinha com o slogan antes da assinatura.
Em seu pronunciamento de Natal, ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, coube a ela usar o lema: “Não nos afastamos em nenhum momento do que acreditamos e defendemos: Deus, pátria, família e liberdade. Agradecemos a cada brasileiro pela confiança em nosso país”.
Em seu discurso, Bolsonaro ainda tratou de questões relativas à tensão nas fronteiras entre Rússia e Ucrânia – sendo o último um país fronteiriço com a Hungria – e disse compartilhado “sentimentos” sobre sua prévia visita a Moscou, onde se encontrou com o presidente russo Vladimir Putin.
“A guerra não interessa para ninguém. Todos perdem com isso, em especial a vizinhança, uma preocupação de Orbán e de seu presidente”, afirmou, fazendo referência a uma reunião também realizada com János Áder, presidente húngaro.
Segundo Bolsonaro, Áder questionou-o acerca do desmatamento na Amazônia.
“Tive a oportunidade de falar pra ele [János Áder] o que representa a Amazônia para o Brasil e para mundo. Muitas vezes as informações dessa região chegam para fora de forma bastante distorcida, como se fossemos grandes vilões no que leva em conta a preservação da floresta e a destruição, coisa que não existe”, declarou, apesar do desmatamento em 2021 na região ter sido o maior nos últimos 10 anos, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
“Nós preservamos 63% do nosso território e não se encontra isso em praticamente nenhum outro país do mundo. Nós nos preocupamos até mesmo com o reflorestamento, coisa que eu não vejo nos países da Europa como um todo”, criticou Bolsonaro.
Antes do presidente brasileiro, o premiê húngaro, um dos líderes da extrema-direita europeia, destacou em sua fala que existem “muitas opiniões convergentes entre os países”. Entre os tópicos conversados, está o Pacto Global para Migrações, da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual Orbán é crítico.
“É importante considerar o posicionamento das nações que não gostariam que esse pacto fosse estabelecido desse modo. Na questão da União Europeia, seria interessante deixar bem claro para que esse pacto não tenha que ser aceito por nós”, disse o primeiro-ministro.
Viktor Orbán também afirmou ter tratado com Bolsonaro de questões relativas à democracia. “A Hungria é um país democrático, essa questão também é importante porque estamos falando de uma questão bem estabelecida”, declarou.
Lourival: Bolsonaro tenta ganhar tração com público ultraconservador
Para o analista de Internacional da CNN Lourival Sant’Anna, o discurso amigável entre Bolsonaro e Orbán ampara-se em um movimento do presidente brasileiro em direção ao seu público conservador.
“Orbán aprovou uma constituição — digo ele porque o partido dele tinha maioria no Parlamento — que tem um artigo que define o casamento como uma ‘instituição heterossexual'”, lembrou Lourival.
“No caso de Bolsonaro, ele está tracionando para o público dele essa participação do governo dele numa corrente ultraconservadora da qual fazem parte Viktor Orbán e Vladimir Putin, que também aprovou leis contra direitos dos homossexuais e mulheres na Rússia”, analisou.
Agenda
O presidente Jair Bolsonaro embarcou da Rússia à Hungria na manhã desta quinta-feira, no que será o segundo e último país desta viagem internacional.
Como primeiro compromisso, Bolsonaro depositou flores na Lápide Memorial dos Heróis Húngaros, que homenageia soldados mortos em combate. Depois, seguiu para uma reunião privada com o presidente da Hungria, János Áder, que foi sucedida do encontro com o primeiro-ministro Viktor Orbán.
Durante a coletiva de imprensa, também foram assinados acordos pelos ministros Walter Braga Netto, da Defesa, e Carlos França, das Relações Exteriores.
Um almoço entre Bolsonaro e Orbán também estava previsto. À tarde, Bolsonaro reúne-se com presidente da Assembleia Nacional húngara, László Köver.