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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Caso Marielle: histórico dos irmãos Brazão expõe táticas de autoproteção e corporativismo

    Se confirmadas as teses da Polícia Federal, família Brazão terá reinado impune por seis anos

    Os treze tiros que levaram a vida e os sonhos de uma jovem prodígio da política fluminense em março de 2018 são apenas a ponta do iceberg de uma sensação coletiva de perplexidade.

    O homicídio friamente planejado transcorreu exatamente como queriam aqueles que costuraram a morte com requintes de impunidade.

    Se confirmadas as acusações da Polícia Federal, que podem terminar com uma pena severa, o lado mais corporativista da política brasileira estará escancarado.

    Marielle Franco foi morta em março de 2018. No ano seguinte, sob acusações de interferência no caso por parte do Ministério Público, Domingos Brazão foi alvo de um mandado de busca e apreensão.

    Até hoje ele nega que sequer tenha conhecido Marielle, Ronnie Lessa ou os outros envolvidos nessa empreitada nefasta.

    Enquanto desfrutava do privilégio do emprego vitalício no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), assistiu seu irmão mais velho, Chiquinho, alçar voos mais altos.

    Sete meses depois da morte de Marielle, Chiquinho ganhava uma das 513 cadeiras na Câmara Federal.

    Ter virado deputado futuramente levaria a investigação para as mãos de Alexandre de Moraes, no STF.

    Os 25 mil votos da época em que, publicamente, nada pesava contra eles, viraram 77 mil quatro anos depois, já com o irmão investigado por promotores estaduais.

    Domingos não se afastou e nem foi afastado, meses atrás, quando surgiu a informação de que ele tinha sido citado na delação premiada de Ronnie Lessa, que revelara em detalhes cada passo da execução, com encontros fora do radar na vizinhança do conselheiro do TCE-RJ.

    Chiquinho, já deputado, foi escolhido por Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro, como secretário.

    “Foi um erro da minha parte na questão da aliança a gente colocar alguma pessoa que tinha sob suspeita”, disse o prefeito, agora, depois da prisão, após os detalhes do homicídio tornados públicos para o país.

    Apesar da expulsão de seu próprio partido — o União Brasil —, Chiquinho teve o alívio temporário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que, com três pedidos de vista de deputados de partidos e estados diferentes, adiou a decisão da cassação, empurrando quase um mês pra frente o debate irreversível sobre seu destino.

    O generoso pedido dos colegas pode ter garantido a Chiquinho mais um mês de salário, entre outras regalias inerentes ao cargo.

    A já desgastada carta do “não julgar precipitadamente” foi usada para pedir vistas.

    Serviu antes para manter o Brazão mais novo no TCE.

    Serviu para manter o Brazão mais velho, eleito e reeleito deputado federal, enquanto o luto por Marielle fazia aniversário.

    Só não serviu para a expulsão do União Brasil, possivelmente, devido ao risco inerente à imagem dos correligionários — aí a política é rápida e tem mãos de ferro.

    Velocidade não adotada quando se trata de alguém que faz mal a outro ser humano, incapaz de se defender.

    Não custa lembrar que o também ex-vereador do Rio de Janeiro Jairo Souza Santos Júnior, o “Dr. Jairinho”, seguiu ocupando por quatro meses uma das 51 cadeiras da Câmara Municipal virtualmente, de dentro do presídio de Bangu, entre a morte do enteado Henry Borel e até que fosse finalmente cassado.

    E para quem sugere que, apesar da demora, a política acaba moralizando seu quintal, a analista da CNN Larissa Rodrigues, lembra: caso Chiquinho Brazão seja cassado — e será —, quem assume a vaga na Câmara é Ricardo Abrão, sobrinho de Anísio Abraão, apontado como um dos chefes do jogo do bicho na cidade do Rio.

    Foi justamente a proximidade com Brazão que levou o suplente sabe para onde? Para o comando da Secretaria Especial de Ação Comunitária da prefeitura do Rio.

    Aquela pela qual Eduardo Paes se lamentou de ter entregue ao acusado do homicídio de Marielle.

    Em meio a todo esse enredo, há políticos defendendo reduzir os efeitos do foro privilegiado. Senso de justiça? Apelo popular? Autoconsciência?

    Há outra razão: tirar os processos da roleta fatal do STF.

    Milionários, certos de sua impunidade, blindados pelos colegas, poderosos até ontem, influentes no Rio de Janeiro, detentores de um reduto eleitoral na região mais populosa da cidade, os irmãos Brazão podem até ter se tornado bois de piranha para uma situação insustentável.

    Mas, de qualquer forma, eles ajudaram a escancarar mais uma vez uma das maiores habilidade dos políticos brasileiros: proteger a si mesmos defendendo o indefensável.