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    Bloqueio de acesso a aplicativo alerta para demissão de quase 3.000 na Peloton

    Mudanças realizadas pela empresa de fitness visam recuperar tombo acionário e lutar contra a crise

    Sara Ashley O'Briendo CNN Business

    Na noite de segunda-feira (7), alguns funcionários da Peloton notaram que não conseguiam acessar aplicativos de produtividade no trabalho, como Slack e Okta. Os funcionários foram informados sobre uma janela de manutenção programada que poderia causar interrupções no serviço, de acordo com um funcionário, mas isso não impediu que outros se preparassem para o pior.

    “Estou enlouquecendo”, disse à CNN Business outro ex-funcionário da empresa que trabalhava no departamento de produtos.

    Ele contou que colegas de trabalho trocavam mensagens freneticamente enquanto especulavam sobre o que poderia ocorrer no dia seguinte. A Peloton estava divulgando seus ganhos na terça-feira (8), e semanas antes o CEO John Foley disse que a empresa estava revisando seus custos e que demissões poderiam ocorrer.

    O funcionário, que como outros falou sob condição de anonimato por medo de repercussões na carreira ou de comprometer sua indenização, disse que acordou, na terça-feira (8), com um convite para uma videochamada individual com um líder de departamento.

    O colaborador foi informado de que estava entre as 2.800 pessoas que perderam seus empregos. As demissões atingiram pessoas em várias áreas, incluindo engenharia, vendas e marketing, bem como aqueles que realizavam entregas de produtos aos consumidores, de acordo com postagens feitas pelos ex-funcionários.

    Os trabalhadores receberam um pacote de indenização que incluía compensação em dinheiro, cobertura de saúde estendida e aquisição de capital, além de um consolo incomum: um ano adicional gratuito de adesão All Access aos serviços de assinatura da Peloton, algo que os trabalhadores recebiam como um benefício.

    Uma ex-funcionária, que descreveu o pacote de rescisão como “generoso”, disse que a extensão do acesso parecia um pouco insensível, mesmo que a empresa tivesse boas intenções. “Eu não sei quando estarei em um lugar onde entrarei entusiasmada como em uma Peloton novamente”, disse ela.

    O funcionário que trabalhava no departamento de produtos disse que sua reação inicial foi pensar que era uma brincadeira, mas acrescentou que ainda aproveitaria o pacote oferecido pela empresa.

    As demissões radicais e as notícias de que o fundador da Peloton, John Foley, deixaria o cargo de CEO após uma década, encerraram meses de turbulência na popular empresa do setor fitness. Ao lado de outras apostas durante a pandemia como o Zoom, a Peloton virou queridinha de Wall Street durante grande parte dos dois anos anteriores.

    Para muitos dos que perderam seus empregos, as circunstâncias em torno das demissões representaram um fim notadamente pandêmico para seu tempo na empresa.

    Ascensão e queda

    Enquanto grande parte do mundo passava por um lockdown após o outro, a Peloton viu uma demanda sem precedentes por suas bicicletas e esteiras, combinadas com uma assinatura mensal de aulas virtuais de exercícios. A liderança da marca buscou maneiras de atender e capitalizar a alta demanda por seus produtos.

    Em maio de 2021, a empresa disse que comprometeria US$ 400 milhões na construção da primeira fábrica nos Estados Unidos, a fim de resolver atrasos nas entregas. Também investiu no lançamento de uma linha de vestuário de marca própria, anunciada em setembro de 2021 e fundada pela esposa de Foley, Jill Foley. Ela também estaria entre “outros desligamentos de nível sênior em várias áreas da companhia”.

    Mas a empresa enfrentou outros desafios públicos durante a pandemia. Também em maio, a empresa fez o recall de suas esteiras por conta de incidentes de segurança, após semanas de brigas com reguladores federais, e pediu desculpas por não cumprir mais cedo as exigências.

    Em novembro, a empresa reconheceu que a demanda por seu hardware havia diminuído. Essa desaceleração ocorreu à medida que mais consumidores retornaram às academias. No final de janeiro, as ações da Peloton caíram para US$ 25, seu nível mais baixo desde o final de março de 2020, nos primeiros dias da pandemia. Em seu pico alimentado pela pandemia em dezembro de 2020, as ações da empresa chegaram a US$ 162 por ação.

    Nesta semana, as ações da Peloton saltaram com as notícias das mudanças organizacionais, fechando em US$ 37 na quinta-feira (10).

    Em uma ligação com investidores na terça-feira (8), Foley reconheceu “passos em falso”, incluindo escalar suas operações “muito rapidamente”. Ele continuou: “Nós somos donos disso. E estamos nos responsabilizando. Isso começa hoje”. Na mesma ligação, a CFO Jill Woodworth disse que a Peloton planejava vender “tanto o prédio quanto o terreno” da futura fábrica até o final do ano fiscal de 2023.

    Em resposta a perguntas, um porta-voz da Peloton direcionou a CNN Business para postagens recentes no blog da empresa. No post sobre as mudanças organizacionais, Foley enquadrou a reestruturação como “voltar ao básico”.

    Em entrevistas à CNN Business, os trabalhadores expressaram uma mistura de frustração com a administração pelo que viram como uma falha em não antecipar adequadamente uma queda inevitável na demanda à medida que a pandemia diminuiu, bem como algum alívio pelo fato de a realidade ter sido posta após meses de incerteza.

    Um funcionário que trabalhou na equipe de operações de campo fazendo entregas e configuração de produtos nas residências disse à CNN Business que viu pessoalmente a demanda desacelerar. Enquanto ele trabalhava inicialmente de 40 a 60 horas por semana no final de 2020 e início de 2021, ele disse que suas horas diminuíram visivelmente para 10 a 20 horas por semana alguns meses depois.

    “Você tem que pensar que existe um número de pessoas. Ou seja, existe um limite de produtos que Long Island poderá obter”, disse ele, observando que essa era sua zona de entrega. “Em um ponto, algo estava para acontecer. Eu não sabia com que rapidez.”

    Talvez mais do que tudo, os funcionários sentiram uma sensação de chicote na rápida ascensão e queda. Os trabalhadores com quem a CNN Business conversou se juntaram à empresa durante a pandemia, quando a companhia estava no auge.

    “Eles estavam desenvolvendo coisas novas, contratando como loucos, pagando bem. Todas as coisas que você procura em uma empresa”, disse o funcionário que entrou em pânico na noite anterior. Ele disse que sua oferta de emprego na Peloton era mais competitiva do que algumas empresas da FAANG haviam apresentado em entrevistas.

    Comunidade de apoio no Linkedin

    Horas após as demissões, muitos funcionários impactados postaram no LinkedIn sobre a perda de seus empregos. As postagens individuais foram rapidamente recebidas com uma onda de admiração e apoio dos colegas de trabalho da Peloton. Uma postagem do ex-gerente de marca Colin Burke se tornou aparentemente viral com mais de 14.000 curtidas.

    “Na noite de terça-feira, o choque de ser demitido evoluiu para o choque de ver tanto apoio. Recebi centenas de mensagens de amigos, familiares, e, em muitos casos, pessoas estranhas se mobilizando para oferecer qualquer ajuda que pudessem”.

    A Peloton disse que estava em parceria com a empresa de serviços de recolocação RiseSmart para fornecer ajuda na carreira, incluindo a criação de um diretório oficial de talentos para ex-funcionários para ajudar a conectá-los a outros empregadores. Enquanto isso, recrutadores e gerentes de empresas como Amazon, Microsoft, Coinbase e Meta aproveitaram a oportunidade para divulgar oportunidades de emprego na plataforma para os funcionários afetados.

    Enquanto muitos dos demitidos perderam rapidamente o acesso a quaisquer aplicativos e serviços restantes da empresa, alguns supostamente encontraram uma maneira de sintonizar a rede da Peloton na quarta-feira (9), onde Foley e o novo CEO Barry McCarthy se dirigiram aos funcionários.

    De acordo com a CNBC, alguns funcionários atuais e ex-funcionários fizeram comentários raivosos por meio do recurso de bate-papo da reunião. Um porta-voz da empresa se recusou a comentar sobre o ocorrido.

    Ex-funcionários disseram à CNN Business que, antes das demissões, a empresa havia anunciado uma mudança em seu protocolo de reuniões para garantir entradas por meio de um dispositivo de trabalho, para que ex-funcionários não tivessem acesso.

    Independentemente disso, como um ex-funcionário disse à CNN Business: “Estou muito feliz por não estar lá. Acho que a confiança está quebrada”.