Ibovespa sobe com petróleo; dólar fica estável com crise entre Rússia e Ucrânia
Principal índice da B3 subiu 0,18%, aos 113.572,35 pontos, enquanto a moeda norte-americana ficou praticamente estável, cotada a R$ 5,242
O Ibovespa fechou esta sexta-feira (11) com ganhos de 0,18%, aos 113.572,35 pontos, mas reduziu boa parte do avanço visto mais cedo, após temores de uma potencial invasão à Ucrânia derrubarem as bolsas norte-americanas.
O índice local, entretanto, foi beneficiado pelo petróleo, que estendeu alta com a escalada das tensões geopolíticas, e por ações do setor financeiro, que subiram após o resultado do Itaú Unibanco.
Ao mesmo tempo, o dólar encerrou o dia em leve alta de 0,07%, cotado a R$ 5,242. A moeda teve um forte movimento de compra no fim da tarde por temores de uma invasão iminente da Rússia sobre território ucraniano.
Uma possibilidade de tensão aumenta a aversão a riscos dos investidores e leva à busca pelo dólar, reduzindo os benefícios para o real de um ciclo de migração de investimentos para mercados ligados a commodities, caso do brasileiro, que limita os efeitos das apostas em uma política de alta de juros agressiva pelo Federal Reserve.
Na semana, o dólar no Brasil caiu 1,54% – quinta semana consecutiva de perdas, mais longa sequência do tipo desde maio de 2021. No atual período, o dólar acumulou baixa de 6,91%.
Brasil
Na agenda doméstica, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) veio em linha com o esperado pelo mercado. A prévia do Produto Interno Bruto (PIB) aponta crescimento de 4,5% em 2021, e segue avanços no setor de serviços, comércio e na produção industrial de dezembro e no acumulado do ano.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em evento nesta sexta-feira que a autarquia usará todas as suas ferramentas para recolocar a inflação do país na meta. Ele estimou que a inflação deve começar a cair após um pico que deve ocorrer entre abril e maio.
Já na semana, o foco dos investidores foi o movimento dos juros no Brasil, com a última novidade sendo as falas de um dos diretores do Banco Central sobre o ciclo de alta, na esteira da divulgação do IPCA de janeiro. A inflação veio em linha com o esperado, mas no maior valor mensal em seis anos.
Bruno Serra afirmou em evento que a batalha da autarquia contra a inflação está longe de ser vencida, mostrando preocupação com a propagação da alta dos preços.
Embora Serra tenha dito que seu temor não vai contra a ideia de redução do ritmo de alta de juros, indicada pelo Banco Central tanto em seu comunicado de política monetária, da semana passada, quanto na ata da reunião do Copom, sua fala desencadeou apostas em uma taxa Selic terminal mais alta do que o estimado anteriormente.
O Copom tem como cenário de referência a Selic a 12% ao ano ao fim do primeiro semestre, encerrando 2022 em 11,75%. Entretanto, ele diz que esse cenário base pode ser ameaçado pela elevada incerteza fiscal e por um ciclo de alta atual nas commodities, como o petróleo. A ata também cita um cenário de inflação disseminada, aumentando a chance de que ela supere as estimativas.
A principal ameaça fiscal no radar dos investidores é a chamada PEC dos Combustíveis, que permitiria a suspensão de impostos para esses produtos. Representando um possível descontrole de gastos, o tema afetou negativamente o real e o Ibovespa.
Segundos projeções da equipe econômica do governo, a perda de arrecadação pode chegar a R$ 100 bilhões na proposta mais abrangente, passando por R$ 54 bilhões no texto atualmente apoiado pelo Planalto e por R$ 18 bilhões caso o projeto se limite ao diesel.
Duas PECs sobre o tema já foram protocoladas, uma no Senado e outra na Câmara, e devem ser discutidas ao longo da semana. Uma delas envolveria renúncias fiscais para reduzir o preço dos combustíveis.
À CNN, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a PEC dos Combustíveis não é o foco no momento, já que a Casa vai analisar dois projetos de leis sobre o tema que devem retirar elementos da proposta.
Analistas avaliam que a PEC dos Combustíveis menos ampla do que o esperado reduz o risco fiscal.
Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil, sinalizou que o governo deve focar na desoneração do óleo diesel, com custo de R$ 18 bilhões, bem menor do que a perda de arrecadação prevista de R$ 100 bilhões.
Sobe e desce da B3
Veja os principais destaques do pregão desta sexta-feira:
Maiores altas
- Itaú (ITUB4) +5,91%;
- Petrobras (PETR3) +4,49%;
- Itaúsa (ITSA4) +4,26%;
- PetroRio (PRIO3) +4,24%;
- Petrobras (PETR4) +4,07%
Maiores baixas
- Magazine Luize (MGLU3) -8,50%;
- Usiminas (USIM5) -7,45%;
- Azul (AZUL4) -5,84%;
- Via (VIIA3) -5,07%;
- Gol (GOLL4) -4,83%
Exterior
O Ibovespa e o real vem sendo beneficiados por um movimento de investimentos em commodities e mercados ligados a elas devido a um ciclo de valorização. A moeda também é favorecida pelos juros altos no país.
Expectativas de mais medidas pró-crescimento na China, enquanto pressões econômicas baixistas persistem, estão aumentando as esperanças de uma recuperação na demanda por metais, disseram analistas, o que leva a altas nos preços.
No caso do petróleo, analistas do Goldman Sachs afirmam que os preços do petróleo Brent devem superar os US$ 100 por barril neste ano. Segundo eles, o mercado de petróleo continua em um “déficit surpreendentemente grande” já que o efeito da variante Ômicron do coronavírus na demanda pela commodity é, até agora, menor do que o que era esperado. Além disso, as tensões na Ucrânia afetam os preços.
Outro fator que pesa nesse movimento é a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos já no mês de março, de 0,5 ponto percentual, reforçada por dados de inflação levemente acima do esperado e de queda nos pedidos de auxílio-desemprego divulgados na quinta-feira.
O presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, disse na quinta-feira que se tornou “dramaticamente” mais “hawkish” (duro no combate à alta dos preços) diante da inflação mais alta em quase 40 anos nos Estados Unidos, e agora quer 1 ponto percentual de aumento nos juros até 1° de julho, reforçando as apostas do mercado.
Com isso, investidores estrangeiros têm saído do mercado de ações norte-americano e migrado para outros vistos como mais resilientes ou baratos.
Qualquer alta de juros no país, porém, pode afetar os investimentos no Brasil, já que torna os títulos do Tesouro norte-americana ainda mais atrativos para os investidores, pressionando negativamente o real.
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*Com informações de Priscila Yazbek, da CNN Brasil, e da Reuters