Governo reconhece ponto de inflexão em processo eleitoral na Venezuela, mas mantém aposta no diálogo com Maduro
Para assessores de Lula, é preciso aproveitar a relação histórica entre os dois líderes para contribuir, sem ingerência nos assuntos domésticos do país vizinho
O governo Luiz Inácio Lula da Silva reconhece como um ponto de inflexão no processo eleitoral da Venezuela a não aceitação da historiadora Corina Yoris como candidata da oposição ao regime de Nicolás Maduro. No entanto, a política externa do petista vai manter a aposta no diálogo com o presidente do país vizinho para garantir o cumprimento do Acordo de Barbados na votação marcada para 28 de julho.
Dentro do Palácio do Planalto, há um reconhecimento de que foi dura a nota de Maduro em resposta ao Itamaraty, que disse acompanhar “com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país”. A Venezuela viu o posicionamento do Ministério das Relações Exteriores brasileiro como “nebuloso” e que parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
Para assessores de Lula, é preciso aproveitar a relação histórica entre os dois líderes para contribuir, sem ingerência nos assuntos domésticos da Venezuela, e fazer valer o Acordo de Barbados, do qual o Brasil é observador – portanto, tem envolvimento direto e interesse de que o pacto seja cumprido e sejam realizadas eleições com vistas à normalização do processo político venezuelano.
A questão é o quanto o impedimento à inscrição de Corina Yoris, indicada pelo grupo político de Maria Corina Machado, que está judicialmente impossibilitada de concorrer, marca uma perda de confiança no regime de Maduro. O descumprimento do Acordo de Barbados representaria um grave revés para a política externa, com repercussões domésticas no Brasil.
Pesquisas de opinião não só feitas no atual mandato de Lula, mas ainda durante os governos anteriores do PT, mostram que a relação com a Venezuela vem sendo percebida pelos brasileiros como algo negativo. Levantamento da Genial/Quaest realizado em dezembro apontou a retomada de relações com o país vizinho como um dos três “maiores erros” do governo Lula em 2023, ao lado do volume de viagens internacionais do presidente e a não classificação do Hamas como grupo terrorista.
Meses antes, em junho, a retomada das relações diplomáticas com a Venezuela só não era mais mal avaliadas do que políticas que facilitassem a compra e a posse de armas, uma medida amplamente defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e questionada até mesmo dentro de seu eleitorado.