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    Fábrica na China, maior pista das Américas: conheça 10 curiosidades da Embraer

    Sabia que a Embraer já fabricou planadores? E que a empresa tem fábricas em Portugal e nos EUA? Conheça esses e outros fatos sobre a fabricante de aviões brasileira

    Thiago Vinholescolaboração para o CNN Brasil Business , em São Paulo

    Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, atrás apenas das gigantes Airbus e Boeing, a Embraer tem história repleta de curiosidades.

    Já ouviu falar, por exemplo, que a Embraer produziu um planador de competição? E que ela é dona de uma das maiores pistas de pouso do mundo?

     

    Conheça mais sobre essas e outras curiosidades da fabricante:

    Embraer fabricou planadores

    A primeira aeronave produzida pela Embraer e que decolou não foi um avião, mas sim um planador. Chamado EMB-400 Urupema, o modelo era destinado a competições de voo a vela e foi projetado por alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) sob orientação do professor Guido Pessotti, que posteriormente foi contratado pela fabricante para chefiar a área de engenharia.

    O Urupema decolou em 20 de janeiro de 1968, dez meses antes do voo inaugural (em 22 de outubro de 1968) do turboélice Bandeirante, este sim o primeiro avião (aeronave motorizada) da Embraer.

    Entre 1971 e 1972, a Embraer produziu dez exemplares do Urupema na unidade em São José dos Campos (SP). Os planadores foram encomendados pelo antigo Departamento de Aviação Civil (atual Anac) e repassados a aeroclubes pelo Brasil.

    Urupema, da Embraer
    / Foto: Divulgação/Embraer

    Maior pista das Américas

    Com 4.967 metros de comprimento, a pista de pousos e decolagens na sede da Embraer em Gavião Peixoto (SP) é a maior das Américas. O aeródromo no interior de São Paulo ocupa a quinta colocação no ranking mundial das maiores pistas do mundo.

    Capaz de receber todo tipo de aeronave, o aeródromo da Embraer foi no passado um dos locais onde ônibus espaciais da Nasa poderiam realizar pousos alternados. No caso de alguma eventualidade que desviasse a missão de seu ponto de aterrissagem original, em Cabo Canaveral, na Flórida, a pista no interior de São Paulo ficava de prontidão para receber a espaçonave.

    A instalação em Gavião Peixoto é usada pela Embraer como centro de testes e manutenção de aeronaves e também abriga linhas de produção de aviões militares, como o C-390 Millennium, Super Tucano e, futuramente, os caças Gripen.

    Gavião Peixoto / Divulgação

    Ipanema, o produto mais antigo da Embraer

    Em produção desde 1973, o avião agrícola Ipanema é o produto mais longevo da Embraer. A aeronave é produzida em Botucatu (SP) e soma quase 1.500 unidades entregues.

    O nome do avião é uma referência a Fazenda Ipanema, em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde funcionava um núcleo de pesquisas agrárias no Estado de São Paulo. O primeiro protótipo do Ipanema voou em 30 de julho de 1970 (a primeira versão, o EMB-200). O modelo mais recente (EMB-202A) foi o primeiro avião produzido em série do mundo com motor a etanol (igual de carro).

    O Ipanema é projetado para pulverizar agentes agrícolas em plantações. É o modelo mais pedido no mercado agrário brasileiro, com mais de 80% de participação no segmento. O avião também pode ser empregado na disseminação de sementes (para reflorestamento), combate a incêndios, povoamento de rios (espalhando alevinos) e nucleação de nuvens para criar chuvas artificiais.

    Prestes a completar 50 anos de seu primeiro voo, o Ipanema deu um passo para o futuro em 2021. A Embraer iniciou um programa de voo com um modelo baseado no avião agrícola equipado com motor elétrico, o primeiro do tipo da empresa brasileira.

    Embraer Agricola Ipanema EMB
    Embraer Agricola Ipanema / Embraer/Divulgação

    Fábrica na China

    Por 13 anos, de 2003 a 2017, funcionou a joint-venture Harbin Embraer Aircraft Industry (Heai), formada entre a Embraer e o grupo chinês Avic. A fábrica ficava na província de Heilongjiang, no nordeste da China, onde funciona um dos maiores polos aeronáuticos do país. A unidade produziu cerca de 40 exemplares do jato regional ERJ-145 e o modelo executivo Legacy 650.

    Sem pedidos no mercado chinês, a Embraer optou pelo encerramento da joint-venture. Na mesma época, entrou em serviço o primeiro jato comercial fabricado na China, o ARJ21 da Comac, uma empresa do grupo Avic.

    Fábricas em Portugal e nos EUA

    Recentemente, a Embraer vendeu duas fábricas de componentes que mantinha em Évora, em Portugal, ao grupo espanhol Aernnova. A empresa brasileira, porém, ainda mantém presença em solo português.

    A Embraer é acionista majoritário (com 65% de participação) da Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), uma das empresas aeronáuticas mais antigas do mundo, fundada em 1918. Localizada em Alverca, a OGMA é famosa no ramo de manutenção de aviões comerciais e militares, sendo um dos principais centros da Europa especializado nesse tipo de serviço.

    Outro negócio importante da OGMA é a produção de aeroestruturas e componentes para diferentes aeronaves de vários fabricantes.

    A Embraer também tem uma instalação em Melbourbe, na Flórida, nos Estados Unidos. A unidade possui linhas de montagem final de jatos executivos das famílias Phenom e Praetor.

    Embraer produziu milhares de aviões da Piper Aircraft

    Em 1975, a Embraer firmou um acordo para produzir sob licença aviões leves da fabricante norte-americana Piper Aircraft. Naquela época, o Brasil era um dos maiores importadores de aeronaves de pequeno porte, e a parceria entre as empresas surgiu para atender essa demanda.

    Ao todo, a Embraer montou 2.236 aeronaves de oito modelos diferentes da Piper no Brasil até o ano 2000. Por aqui, alguns dos aviões americanos foram rebatizados com nomes referenciais locais, como Corisco, Tupi, Carioca, Minuano, Carajá e Sertanejo. A maior parte desses aparelhos foi finalizada em Botucatu (SP) pela Neiva – empresa que posteriormente foi absorvida pela Embraer.

    Aviões Pipper / Divulgação/Pipper

    Xingu, o primeiro executivo

    Hoje consolidada como uma das principais fabricantes de jatos executivos do mundo, a Embraer iniciou sua trajetória nas viagens de negócios na década de 1970 com o bimotor turboélice EMB-121 Xingu, para até nove passageiros.

    Introduzido no mercado em 1976, o Xingu foi desenvolvido sob a base do modelo regional Bandeirante e recebeu importantes avanços. Entre eles, a cabine pressurizada, no que foi o primeiro experimento da Embraer com essa tecnologia fundamental para aviões comerciais e executivos.

    A Embraer produziu 106 unidades do Xingu entre 1976 e 1987. Esses aviões foram adquiridos por clientes particulares, empresas de táxi-aéreo e pelas forças armadas do Brasil e da França.

    Parceria com italianos

    A Embraer já se uniu a fabricantes de aviões da Itália em duas oportunidades. Na primeira, nos anos 1970, a empresa produziu sob licença no Brasil o jato de treinamento avançado e ataque leve AT-26 Xavante, que era a designação do jato italiano MB-326 desenvolvido originalmente pela Aermacchi.

    O Xavante foi o primeiro avião com motor a reação fabricado no Brasil, e a parceria com os italianos foi fundamental para o amadurecimento dos processos de produção da Embraer, que montou 182 unidades da aeronave de 1972 até 1981. Os AT-26 voaram com a Força Aérea Brasileira até 2013 – o avião produzido sob licença também foi exportado para Togo e Paraguai.

    Na década de 1980, a Embraer e as fabricantes italianas Aeritalia (atual Alenia Aeronautica) e a Aermacchi formaram o consórcio AMX International. O projeto resultou no caça-bombardeiro A-1 (e A-11 Ghibli, na Itália), que voou pela primeira vez em 15 de maio de 1984.

    Cerca de 200 unidades do AMX foram produzidas entre 1986 e 1999. Tanto a força aérea italiana como a FAB ainda mantém o caça-bombardeiro ativo em versões modernizadas.

    AMX / Divulgação

    Embraer na Guerra das Malvinas e outros conflitos

    A Guerra das Malvinas, entre Argentina e o Reino Unido, foi o primeiro cenário de guerra enfrentado por um avião militar da Embraer. Duas aeronaves de patrulha naval P-95 Bandeirulha participaram de missões de vigilância marítima a serviço da Argentina. Os aparelhos foram alugados pela Força Aérea Brasileira e retornam após os combates.

    Outros aviões militares da Embraer participaram de guerras e conflitos isolados nas últimas décadas. A força aérea da Colômbia, por exemplo, já utilizou seus Super Tucanos em bombardeios contra as Farc. No Afeganistão, a aeronave brasileira foi muito usada em ataques contra posições do grupo Talibã.

    Nações da África, América Central e do Sul também empregaram o Super Tucano (e o Tucano) em ações de combate. No Brasil, uma das tarefas do modelo é interceptar aeronaves do narcotráfico. O currículo militar da Embraer consta ainda ações do AMX, desenvolvido em parceria com fabricantes italianas. A serviço da força aérea italiana, o caça-bombardeiro participou de intervenções militares no Afeganistão, Líbia e Kosovo.

    Guido Pessotti, lenda da Embraer

    Ozires Silva foi o fundador da Embraer em 1969. O nome do “pai” dos aviões da fabricante, no entanto, é outro: Guido Pessotti (1933-2015). Projetista aeronáutico formado no ITA em 1960, Guido chefiou a diretoria técnica da empresa por mais de 20 anos e foi um dos maiores ícones da aviação brasileira.

    Bandeirante, Ipanema, Brasília, AMX, Xacante, Xingu e ERJ. Todos os projetos da Embraer de 1969 até 1992 têm a assinatura de Guido Pessotti. Ele colecionou recordes brasileiros de aviação na juventude.

    Recém-formado, seguiu para um intercâmbio de dois anos na França, onde trabalhou na Air France e na Morane-Saulnier (antiga fabricante francesa de aviões) e teve experiências na manutenção de aeronaves danificadas em combate na Guerra da Argélia.

    Em 1969, foi convidado por Ozires Silva, fundador da Embraer, para liderar a área de engenharia da empresa. Foi Guido que deu forma aos aviões da Embraer. O característico nariz pontiagudo dos aviões da empresa brasileira é obra dele, um conceito que até hoje é repetido nos jatos modernos da empresa, como os E2 e o C-390 Millennium.

    Guido Pessotti, Embraer / Divulgação/Embraer