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    Queda das vendas e alta dos insumos desafiam retomada da Ambev

    Setor de bebidas começa a sentir a perda do poder de compra do consumidor decorrente da alta da inflação, e empresa luta para recuperar margens em meio a uma pressão de custos

    Luciana Dyniewicz, do Estadão Conteúdo

    Apesar dos resultados animadores que a Ambev vem apresentando desde o início da pandemia, há sinais de que o ritmo de vendas começou a perder força. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção de bebidas alcoólicas e não alcoólicas recuou, respectivamente, 9% e 11% no último trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

    Tudo indica que o setor começa a sentir a perda do poder de compra do consumidor decorrente da alta da inflação, além de ter sofrido com as condições climáticas do fim de 2021, com mais dias frios do que o esperado para a época.

    Na Ambev, esse cenário deverá fazer o volume de vendas de cerveja cair 5% no quarto trimestre de 2021, em relação ao quarto trimestre de 2020, de acordo com projeções da XP. A casa, no entanto, estima uma alta de 10% nos preços, o que resultará em um aumento de 5% na receita do período.

    Além dessa desaceleração do setor, outro desafio para a fabricante de bebidas é recuperar suas margens em meio a uma pressão de custos. A margem Ebitda (um indicador de lucratividade operacional da empresa, obtido ao se dividir o Ebitda pela receita líquida) da Ambev era de 47,5% em 2015 e chegou a 37% em 2020. Segundo as estimativas do BTG, esse número caiu para 33% no ano passado e vai recuar para 31,9% em 2022.

    Pressões

    Para analistas, apesar do recuo, o número ainda é bom, mas a diferença entre a margem da Ambev e a das concorrentes diminuiu nos últimos anos. Com a alta dos preços das matérias-primas, como alumínio e trigo, e a depreciação do real (parte dos custos da Ambev é em dólar), a tendência é de que a companhia não consiga reverter a tendência de queda na margem no curto prazo.

    O diretor financeiro da empresa, Lucas Lira, admite que a rentabilidade do negócio está sob pressão, mas lembra que isso tem ocorrido devido a fatores que estão fora do controle da Ambev. De acordo com ele, a única forma de responder a isso é elevando as receitas. “Não tem uma solução mágica. Nosso ‘mood’ (humor) é de recuperação, e essa recuperação é puxada pelo crescimento da receita por conta da nossa estratégia comercial”, afirma o executivo.

    Apesar de a estratégia comercial ser considerada acertada, o desafio pode se tornar ainda mais difícil neste ano se a desaceleração nas vendas observadas no fim de 2021 se prolongar, alerta um analista do mercado.

    Com aposta em inovação, empresa recupera o fôlego na pandemia

    Os anos que antecederam a pandemia foram difíceis para a Ambev. Reconhecida por apresentar historicamente um desempenho acima da média, a gigante de bebidas teve, em 2016, seu pior resultado operacional em pelo menos dez anos e patinou nos anos seguintes. Em meio à quarentena, porém, reverteu o jogo e vendeu como nunca.

    Analistas de mercado aplaudiram a volta por cima da fabricante de bebidas no ano passado, mas ponderam agora que a margem de lucro ainda não atingiu os patamares de antigamente e que o setor começa a desacelerar – o que pode impor um novo desafio à empresa.

    Estimativas mais otimistas apontam que a companhia fechou 2021 com um Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superior a R$ 23 bilhões. Se o número se confirmar, será a primeira vez que o resultado ultrapassará os R$ 22,2 bilhões de 2015. O BTG Pactual projeta R$ 23,6 bilhões, enquanto o Citi prevê R$ 22,2 bilhões e o Credit Suisse, R$ 21,7 bilhões.

    Tecnologia

    A recuperação da Ambev, justamente em meio à pandemia, foi alcançada graças à ampliação do portfólio da empresa e aos investimentos que já vinha fazendo em tecnologia. “Fizemos apostas grandes em inovação, e isso lançou as bases para esse novo capítulo da história da companhia. Eu diria que 2021 é o primeiro ano deste capítulo de reconstrução do nosso negócio”, diz o diretor financeiro da empresa, Lucas Lira.

    A recessão de 2015 e 2016 e a inflação do período tinham enfraquecido as vendas das marcas tradicionais da empresa, como Skol, Brahma e Antarctica. Durante a crise, as classes de renda mais baixa passaram a consumir cervejas mais baratas, enquanto as de alta renda ampliaram o consumo das bebidas premium. Também nessa época, o aumento da venda de cervejas em atacarejos prejudicou a companhia, que possui contrato de exclusividade com bares e tem, nesse canal, seu maior potencial.

    A tendência era de que na quarentena, com o consumo em casa, a situação da companhia se deteriorasse mais. Não foi o que se viu. “O crescimento de receita no País superou o da indústria por cinco trimestres consecutivos, e a participação no mercado no acumulado do ano (2021) é 3,8 pontos porcentuais mais alta do que a de 2019”, afirmaram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual, em relatório de dezembro.

    Para o analista Gustavo Troyano, do Itaú BBA, a ampliação do portfólio, com destaque para o segmento premium e core plus (entre o tradicional e o premium), foi chave na recuperação da Ambev. Segundo ele, hoje a briga entre as companhias do setor é um “jogo de portfólio”, e oferecer os produtos certos ajuda a empresa a ganhar participação de mercado.

    Atualmente, 20% do faturamento da empresa no Brasil vem de bebidas que foram lançadas há menos de três anos. Das novidades da Ambev, a Brahma Duplo Malte, um produto core plus que começou a ser vendido poucos dias antes da chegada do coronavírus ao País, é tida como um dos maiores sucessos da companhia.

    Zé Delivery

    Outro fator decisivo foi o Zé Delivery, aplicativo de venda de bebidas. No segundo trimestre de 2020, o app registrou 5,5 milhões de pedidos, número 3,6 vezes maior do que o total de pedidos do ano anterior. No último trimestre do ano passado, esse número já estava em 15 milhões de pedidos.

    Além de garantir um canal de venda para as bebidas durante a quarentena, o Zé Delivery trouxe inteligência de mercado para a companhia, com informações sobre o consumidor e suas preferências. “Essas iniciativas tecnológicas começaram há pouco tempo na Ambev. O processo é lento dado o tamanho da companhia, mas elas têm potencial para transformar a Ambev daqui para frente”, diz Troyano.

    Entre as inovações que impulsionaram a empresa está o Bees, plataforma cuja implementação no Brasil começou no terceiro trimestre de 2020 e pela qual as empresas que comercializam os produtos da Ambev podem fazer suas encomendas.

    A estratégia é que a plataforma auxilie as empresas a melhorar suas vendas com sugestões baseadas no perfil do estabelecimento. Hoje, a maioria dos clientes ativos da Ambev está na plataforma. Antes de chegar ao País, a plataforma foi testada na República Dominicana, onde 85% da receita vinha da Bees no terceiro trimestre de 2021.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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