Número de desalentados fica abaixo de 5 milhões pela primeira vez desde 2020
População que desistiu de procurar emprego chegou a quase 6 milhões no início de 2021 e, atualmente, soma 4,8 milhões, segundo IBGE
Pela primeira vez, desde o início de 2020, a população desalentada somou menos de 5 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a última avaliação trimestral referente aos meses de setembro, outubro e novembro de 2021, divulgada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), foram registradas cerca de 4,8 milhões de desalentados no Brasil.
O IBGE considera desalentado quem gostaria de trabalhar, porém não procura emprego por achar que não encontraria. Essa população pode ser desmotivada a ingressar no mercado de trabalho por fatores como idade, qualificação, cenário econômico ou localidade.
Levantamento feito pela CNN com base em dados da Pnad, mostra que, impactado pelo início da pandemia de Covid-19, o Brasil ultrapassou, em 2020, o número de 5 milhões de desalentados pela primeira vez desde o início da série (2012).
A marca foi alcançada na pesquisa feita entre fevereiro e abril do mesmo ano. No primeiro trimestre de 2021, o Brasil chegou a ter 5,9 milhões de pessoas que deixaram de buscar por emprego.
O movimento de redução dos desalentados tem caminhado junto com a retomada econômica do país, segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Nery. No entanto, ele observa que o avanço da variante Ômicron pode desacelerar ou, até mesmo, reverter o cenário para o ano de 2022.
“Os números sugerem nova fase dos impactos da pandemia no mercado de trabalho. A oferta de trabalho que era o grande fator para o aumento do número de desalentados, agora é o grande fator de expansão. Porém, é difícil prever, pois a nova variante da Covid pode fazer com que esse resultado se inverta, na sequência. Além disso, outra variável é o aumento dos juros como parte da estratégia do Banco Central para combater à inflação”, explicou o economista.
Como estratégia para diminuir a inflação, o Banco Central (BC) tem aumentado consecutivamente a Selic, taxa básica de juros da economia, que encerrou o ano em 9,25%.
Para o economista da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Marcelo Moreira, a melhora dos números indica uma recuperação em relação ao ano de 2020. Porém, destaca que o mercado de trabalho ainda não se fortaleceu.
“Temos uma queda no geral. Mas quando olhamos a informalidade, vimos que ela permaneceu estável e com tendência para cima. Então, os desalentados estão vislumbrando um mercado de trabalho ainda precário, que ainda não recuperou esses trabalhadores. As ocupações geradas estão com rendimentos menores, a PNAD mostra isso. O rendimento mensal é o menor desde 2012”, pontuou Moreira.
Para o economista da UEG, o perfil dos brasileiros que ingressam na estatística do desalento é bem definido: mulheres, pretos e nordestinos.
“A mulher negra e o homem negro são os que sofrem as maiores pressões na taxa de desemprego, é bem maior nos negros do que nos não-negros”, ressaltou o economista.
Na pesquisa PNAD referente ao terceiro trimestre do ano passado, o Maranhão aparece como o estado com o maior percentual de desalentados: 17,6%. É seguido por Alagoas, com 15,1% e pelo Piauí, com 12,8%. Já Santa Catarina tem o menor índice. Menos de 1% da população que deixou de procurar por trabalho vive no estado.