BC pede flexibilidade para reduzir ou até manter o ritmo de queda dos juros
Unanimidade na decisão fortalece Copom diante das críticas a Roberto Campos Neto
O Banco Central (BC) decidiu por unanimidade mudar a comunicação sobre sua estratégia de redução do juro básico da economia. No trecho mais importante do comunicado do Copom, que reduziu a Selic a 10,75% ao ano, os diretores do BC alegaram que a incerteza da conjuntura econômica do Brasil e do exterior aumentou e, por isso, precisam de flexibilidade para decidir os passos futuros da política monetária.
O Comitê trocou do plural para o singular a sinalização de promover mais uma queda de 0,50 ponto percentual da taxa na “próxima reunião”, marcada para 08 de maio.
O BC se deu a liberdade de reduzir o ritmo de derrubada da Selic — ou não. Tudo vai depender da trajetória da inflação nos próximos meses, especialmente dos serviços que se mostra mais resiliente.
Até junho, com maior clareza sobre o que aconteceu aqui e lá fora, o Copom pode entender que, inclusive, pode manter o passo de 0,5 ponto de queda.
Não havia consenso no mercado sobre a escolha do Copom, já que a possibilidade de mudança na comunicação corria pela Faria Lima há duas semanas. É nesse contexto que a unanimidade entre os diretores ganha relevância.
Passa sinal de coesão no diagnóstico e na forma de atuação do colegiado, que agora já tem metade dos diretores apontados pelo governo Lula. O voto minerva é de Roberto Campos Neto.
A unanimidade também empobrece a fulanização das críticas ao Banco Central, que vão acontecer de qualquer forma. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, abriu a leva cobrando “celeridade” do Copom e acusando Campos Neto de “puxar o freio da economia” por baixar os juros “a conta gotas”.
Ao se desvencilhar do compromisso de manter o ritmo de queda que adota há seis encontros, os diretores do Copom terão que conduzir as expectativas do mercado mais de perto, numa sintonia mais sensível. A interpretação mais consensual sobre o comunicado é que BC adotou um tom mais duro, ou mais “hawkish”, no jargão do mercado.
Já começou uma onda de revisões para o patamar da Selic ao final do ano.
Elas devem acontecer entre os mais otimistas que esperavam juro abaixo de 9%, que é hoje o número que está nas previsões do relatório Focus para Selic em dezembro.
O BC não dá sinais de qual seria a taxa terminal para o ciclo de redução, mais uma estratégia para evitar ficar amarrado num prognóstico que não sabe se poderá cumprir diante das incertezas do Brasil e do cenário internacional.